O novo título da Owlcat Games não é surpresa para os amantes de CRPGs. Em acesso antecipado desde junho de 2023, Warhammer 40k: Rogue Trader, novo jogo dos responsáveis pela aclamada série Pathfinder, adentra os confins obscuros da galáxia no infinito universo da franquia Warhammer 40k, em uma produção que tem tudo de melhor (e pior) de sua desenvolvedora.
No futuro distante do 41° milênio…
Rogue Trader é uma um RPG tático de turno ambientado no 41° milênio do Império do Homem. Seu personagem é um parente distante de Theodora Von Valancius, comandante de uma grande dinastia em Koronus Expanse, uma região pouco explorada do espaço. Ela faz parte dos Rogue Traders, capitães espaciais portadores de uma concessão especial que os permite ter liberdade quase irrestrita na galáxia, trocando, matando, roubando ou negociando como bem entenderem.
O protagonista é jogado para dentro desse jogo de poder quando Theodoras é assassinada e você deve ocupar o posto de Rogue Trader da dinastia Valancius; com isso, começa uma verdadeira jornada espacial que definirá o destino de dezenas de planetas e milhões de pessoas.
Como Rogue Trader, seu personagem tem acesso a uma nave do tamanho de uma cidade, que pode ser personalizada com nome, skin e tem seu próprio sistema de upgrade, contando com comandantes, armas e habilidades, além da sua equipe de até seis companheiros, cada um com habilidades e equipamentos únicos.
Só há guerra, muita guerra
Como um bom CRPG, Rogue Trader não poderia ficar sem grandes batalhas estratégicas. O jogo é recheado delas, a um nível que, para mim, chega a cansar. Uma grande batalha com uma duração interessante me parece uma opção muito melhor do que cinco encontros seguidos em um caminho quase linear como acontece em Rykad Minoris. Existem diversos momentos em que você, num mesmo caminho, passa por três encontros com uma média de 15 inimigos.
No geral, a dificuldade no seu modo normal não me proporcionou muito desafio, acho que entra num bom balanceamento entre perigo e diversão. Ainda existem mais três opções de dificuldade e um menu bem complexo no qual você pode trabalhar cada detalhe desse aspecto, algo já realizado pela Owlcat em Pathfinder e que é muito bem-vindo aqui.
O combate em si, não é nada revolucionário, mas também não deixa a desejar. Tive minha boa parte de diversão, principalmente porque o universo de 40k oferece uma boa diversidade de armas e facções. É sempre interessante ver as diversas formas de matar que existem nesse mundo: tiro comum, lasers, espadas com serra elétrica, poderes psíquicos, entre outros.
A quantidade de conteúdo também salta aos olhos: além do combate terrestre, existe um estilo completamente diferente para as batalhas espaciais, onde você controla sua nave como no famoso Battlefleet Gothic: Armada (PC). Os inimigos e locações também são agraciados com essa grande diversidade: são dezenas de planetas, sistemas, facções e perigos a encontrar. Rogue Trader reforça a fantasia de ser um pirata espacial onde o limite é a infinita escuridão da galáxia.
Dogmático, Iconoclasta ou Herético?
Assim como os alinhamentos de D&D, Rogue Trader trabalha, dentro das regras do universo de 40k, a ideia de ideologias dogmáticas, iconoclastas ou heréticas. Seu personagem é constantemente apresentado a diversas situações que demandam uma decisão.
Um grupo de trabalhadores se revoltou por serem acusados de heresia na sua nave e você precisa resolver a situação? Você pode falar com eles e atender às suas demandas, uma opção iconoclasta; talvez exercer seu poder e caçar até o último possível herege na nave, um caminho dogmático; ou, quem sabe, executar cada um que ousou se levantar contra sua grandeza, óbviamente herético.
Essas situações são um dos pontos altos do jogo, colocando você em contato com os problemas e possíveis resoluções que enriquecem o universo de Warhammer. Através desses cenários, você entende as dinâmicas de poder deste mundo, como as instituições funcionam, e principalmente, como não existe uma só alma boa no futuro distante da humanidade.
Owlcat em sua mais pura forma
Eu já tinha jogado os games da série Pathfinder e é possível ver a evolução da empresa através dos títulos. Desde sua cisão com a MY.GAMES, a desenvolvedora está no mercado de forma independente, o que reflete a marca autoral que suas produções carregam. Com isso, também é possível perceber a limitação que o estúdio tem.
Com o recente sucesso de Baldur’s Gate 3 (Multi), o gênero de CRPG ganhou um novo patamar de produção, mesmo por uma empresa como a Larian, que também segue o caminho independente. Nesse cenário, Rogue Trader está abaixo do teto estabelecido por seus colegas belgas. Assim como seus outros jogos, nessa produção a Owlcat ainda mantém um sistema clássico de CRPGs. Com poucas cutscenes e muito diálogo, até mesmo em locais que uma cutscene curta resolveria, eles optam por usar mais e mais textos descritivos.
Essa forma de produzir jogos do gênero sempre foi uma fórmula segura dentro do meio, sendo abalada por BG3 e sua apresentação de grande nível, com gráficos mais próximos da geração atual, cutscenes completas e com vozes em 100% do tempo. Mesmo com uma linda direção de arte que fortalece o visual opressivo que Warhammer pede, a falta de uma apresentação mais criativa e fascinante torna a experiência um pouco datada.
Lógico, numa mentalidade de RPG de mesa, o texto sempre esteve presente, mas como a mídia de games exerce a função de audiovisual, ela pede mais apelo para esse lado. Eu adoraria ver a cutscene dos cultistas se transformando e trazendo um monstro por um portal oculto, ao invés de apenas ler essas descrições enquanto nada no cenário ou nos personagens muda.
Outro problema que pode afastar o público mais casual é a forma complicada pela qual a desenvolvedora apresenta seus diversos aspectos de gameplay. O sistema de combate contém tantos números e símbolos que é quase necessário fazer uma soma matemática para entender seu dano. O sistema de comércio baseado em reputação e carga também é explicado de forma rasa e levanta diversas dúvidas.
Soli Imperatori Gloria
Warhammer 40k: Rogue Trader não falha em ser um grande CRPG com o melhor do seu gênero, ainda mais sendo uma ótima porta de entrada para quem quer conhecer mais sobre esse universo tão rico, caótico e fascinante. Talvez meu maior problema com ele tenha sido sua abordagem tão seca quanto ao modo de mostrar a grandeza desse universo de forma visual.
Esse sentimento pode ter sido potencializado por Baldur’s Gate 3, mas era algo que eu sentia desde que joguei Pathfinder: Wrath of the Righteous, que também sofre do mesmo problema: uma apresentação seca com poucas cutscenes, falta de animações e esse sentimento cinematográfico que enriquece toda a boa escrita de um bom RPG.
Prós
- Uma excelente abordagem da lore e escrita do material base de Warhammer;
- Combate decente com uma boa variedade de estilos;
- Direção de arte que envolve o jogador com ambientes opressivos dignos dos grandes contos de 40k;
- Sistema de decisões e consequências reais que impactam o universo do jogo.
Contras
- As cutscenes são escassas e de baixa qualidade, com pouca animação pelos personagens e quase nenhum senso de direção de cena ou fotografia;
- A quantidade de encontros pode tornar o combate entediante, e enfrentar os mesmos inimigos três vezes seguidas nunca é muito divertido;
- Como um clássico RPG da Owlcat, o sistema é muito denso e complicado demais para se dominar.
Warhammer 40k: Rogue Trader— PC/PS5/PS4/XSX/XBO — Nota: 7.5Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida Owlcat Games