Análise: Momodora: Moonlit Farewell (PC) é uma aventura metroidvania bela e modesta

Este título indie esbanja carisma e esmero, mas aposta demais em conceitos seguros.

em 16/01/2024

Momodora: Moonlit Farewell chama a atenção com seu belíssimo trabalho audiovisual e ação frenética. Produzido pelo brasileiro Guilherme ‘rdein’ Martins em conjunto com uma equipe espalhada por todo o mundo, este metroidvania é o quinto título da série e tem como objetivo concluí-la em um aconchegante adeus. A aventura em si é agradável e de bom ritmo, porém uma interpretação tímida dos conceitos do gênero fazem com que o jogo não fique na memória.

Enfrentando uma ameaça sombria

Um dia, um estranho sino negro soou, atraindo demônios terríveis que ameaçam a paz da pacata vila de Kaho. Para tentar resolver a situação, a guerreira-sacerdotisa Momo e suas amigas Dora e Cereza partem em uma perigosa jornada pelo mundo. Logo as garotas descobrem que a ameaça é mais séria do que parece, envolvendo entidades capazes de destruir o mundo. A trama é independente, entretanto tem ligação com os outros jogos da série.


Por causa do badalar do sino negro, as várias regiões do mundo foram tomadas por demônios e o combate é frequente. Para enfrentar os perigos, Momo usa uma folha sagrada para desferir golpes de curto alcance e um arco e flecha para acertar alvos distantes. A garota também é capaz de escapar de perigos com um movimento de rolar, que consome fôlego ao ser executado — ou seja, é importante utilizá-lo com sabedoria para não ficar aberto a ataques.

A progressão é estruturada na forma de metroidvania, ou seja, exploramos um grande mundo interconectado recheado de caminhos alternativos. Muitas partes só podem ser alcançadas após adquirir habilidades específicas e segredos estão espalhados por todos os cantos, o que incentiva desbravar cuidadosamente cada área. Para ajudar na tarefa, salas com segredos ficam marcadas no mapa, facilitando a busca por todos os itens.



Cortando tudo em uma peregrinação repleta de embates

Moonlit Farewell me conquistou com a fluidez da ação. É bem satisfatório controlar Momo, pois ela é bem ágil e consegue alternar com desenvoltura entre sequências de ataques com a folha, esquivas e flechas lançadas pelo arco. O combate explora essas características com boa variedade de inimigos que exigem destreza e perícia para serem derrotados.


Além das armas básicas, podemos customizar a personagem com Sinetes, que conferem efeitos diversos. Alguns oferecem habilidades passivas, como aumentar o alcance do ataque básico ou evitar que a garota seja lançada para longe ao ser acertada. Já outros alteram significativamente alguns aspectos, como invocar espadas espectrais ao acertar golpes ou adicionar fogo às flechas. Há boa quantidade de Sinetes para encontrar e equipar, o que permite adaptar a estratégia de acordo com a situação. Fora isso, podemos equipar companheiros com poderes variados, mas eles agem tão raramente que influenciam pouco a ação.


Os chefes são o ponto alto com batalhas pulsantes e intensas em que poucos erros podem ser fatais. Por causa disso, precisei observar os golpes com cuidado para escapar e golpear na hora certa. Apreciei, em especial, a variedade de encontros: certos monstros atacam Momo de perto com ferocidade, já outros preferem lançar feitiços complexos difíceis de escapar, alguns mestres têm até elementos de puzzle. O único porém é que boa parte dos chefes contam com poucos tipos de ataques, mas essas batalhas não deixam de ser impressionantes.

Em comparação com o título anterior, Momodora: Reverie Under the Moonlight, o novo jogo está mais fácil e com dificuldade menos punitiva. O desafio é moderado, sendo os momentos mais complicados aqueles em que monstros distintos atacam em conjunto. O resultado é uma experiência mais suave, sem deixar de lado alguns trechos mais exigentes. Mesmo assim, há opções tanto para diminuir quanto aumentar a dificuldade.



Desbravando um mundo simples

A ação é contínua em Moonlit Farewell, pois seus mapas apresentam constantemente uma mistura equilibrada entre combate e plataforma. Porém, como metroidvania, o título deixa um pouco a desejar.

Uma das grandes sacadas de metroidvanias é a evolução do protagonista, que ganha novos movimentos que alteram as maneiras de explorar o mundo. Em Moonlit Farewell isso não acontece, pois as habilidades adquiridas por Momo são extremamente básicas, como correr, cortar vinhas ou saltar novamente no ar. A seleção é enxuta e competente, mas faltou imaginação na hora de utilizá-las, o que deixa a exploração um pouco previsível.


Algo que poderia contrabalancear isso seria um desenho criativo de níveis. Porém, mais uma vez, o jogo aposta no básico. Apesar de o mundo ser dividido em regiões distintas, conceitualmente eles são muito similares entre si, com mapas e rotas parecidos. Um ou outro ponto tenta algo diferente, como trechos mais verticais, mas são raros. Obstáculos exclusivos ou progressão distinta poderiam fazer a diferença na experiência como um todo.

Mesmo assim, apreciei a interpretação direta do gênero metroidvania. É divertido atravessar os cenários enfrentando inúmeros inimigos, e os colecionáveis e segredos me impeliram a desbravar todos os cantos. A aventura é bem enxuta, com uma campanha que dura por volta de sete horas, coletando praticamente todos os colecionáveis e extras.



Em um universo envolvente

De longe, o que mais chama a atenção em Moonlit Farewell é a sua atmosfera. O visual é belíssimo, contando com uma pixel art cuidadosamente produzida, o que torna os cenários e personagens deslumbrantes. Destaco a movimentação dos personagens, que é suave e detalhada, em especial os imensos chefes.


A ambientação investe na fantasia, porém há um tom soturno com regiões tomadas por névoa, locais escuros e uso de cores dessaturadas. Uma trilha sonora bela, que alterna entre melodias melancólicas no piano e composições agitadas nos combates, ajuda a dar vida ao mundo.

O título tem a intenção de dar um fechamento ao universo da franquia Momodora, apesar de sua trama independente. Como nos outros jogos, a construção do universo e dos personagens é simples, mas aconchegante e carismática. O foco na ação é evidente, porém a história tem reviravoltas e desenvolvimentos interessantes. Particularmente, gostei bastante dos momentos em que Momo e Cereza compartilham refeições, pois desenvolvem um pouco a amizade das garotas.



Uma despedida suave

Momodora: Moonlit Farewell cativa com sua atmosfera deslumbrante e interpretação ágil do gênero metroidvania. A fluidez e a intensidade do combate, a progressão direta e as batalhas contra os chefes são pontos fortes que contribuem para uma aventura singular. Além disso, a atmosfera envolvente, marcada por uma bela pixel art e uma trilha sonora cativante, contribui para a imersão.

No entanto, apesar de suas qualidades, o título apresenta algumas limitações notáveis. A falta de evolução significativa nas habilidades de Momo, que são consideravelmente básicas, e a simplicidade e falta de variedade conceitual nos mapas podem deixar a exploração um tanto previsível. Ao menos a dificuldade é ajustável, o que torna a jornada mais acessível.

No fim, Momodora: Moonlit Farewell é um metroidvania enxuto e focado que oferece uma experiência satisfatória, mas a execução pouco ousada faz com que esse adeus seja mais efêmero do que deveria.

Prós

  • Ótimo equilíbrio entre combates ágeis, momentos de plataforma e exploração de mapas;
  • Mundo enxuto, mas com muitos itens e melhorias para encontrar;
  • Batalhas contra chefes interessantes e intensas;
  • Atmosfera excepcional com visual e música elaborados.

Contras

  • A seleção de habilidades da protagonista mal evolui, o que traz sensação de pouca evolução;
  • Seleção reduzida e pouco criativa de técnicas de exploração;
  • Desenho de mapas simplista e com poucas surpresas.
Momodora: Moonlit Farewell — PC — Nota: 8.0
Revisão: Heloísa D'Assumpção Ballaminut
Análise produzida com cópia digital cedida pela PLAYISM

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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