Digimon World (PS): o início de uma série muito diversificada

O primeiro título da saga World completa 25 anos em janeiro de 2024.

em 05/01/2024
Há 25 anos, cerca de um mês antes da estreia do anime Digimon Adventure, Digimon World foi lançado para o PlayStation. Embora não tenha sido o primeiro jogo da franquia a chegar aos consoles — mérito que pertence a Digital Monster Ver. S: Digimon Tamers (Saturn) —, esse título, inegavelmente, desempenhou um papel crucial no impulso da popularidade dos monstrinhos digitais. Além disso, destaca-se como o precursor de uma série curiosa que corajosamente explorou uma ampla variedade de gêneros.

Reconstruindo File City

A trama de Digimon World é notavelmente simples e segue a jornada de um garoto que é absorvido pelo seu digivice e transportado para o Digimundo. Lá, ele conhece o icônico Jijimon, que o instrui a viajar por diversas regiões desse local para reunir os digimon que, outrora, habitavam a cidade de File, mas que agora estão dispersos por razões sombrias.

Assim, o principal objetivo do jogador é explorar esse ambiente peculiar e recrutar variadas criaturas para revitalizar o centro urbano. Embora a persuasão frequentemente envolva batalhas, existem situações que fogem dessa norma. Um exemplo ocorre com um Drimogemon, que nos pede ajuda para abrir um túnel. Enquanto ele escava, nosso aliado utiliza um recipiente para transportar a terra para fora da caverna.

Outro episódio intrigante se desenrola em uma loja de itens sob a administração de um Monochromon. Nesse cenário, empenhamo-nos ao longo de alguns dias no estabelecimento, oferecendo uma variedade de produtos a diferentes tipos de clientes. A mudança do proprietário para a cidade acontece exclusivamente quando atingimos um valor específico em vendas.

Esses eventos inusitados proporcionam uma dinâmica de gameplay diversificada, impedindo que a experiência se restrinja apenas a confrontos de força. Além disso, algumas criaturas a serem recrutadas estão inseridas em contextos interessantes, adicionando uma camada de complexidade à trama inicialmente simples. 

É importante destacar que os digimon que retornam a File City desempenham papéis ativos na cidade, assumindo a administração ou trabalhando em estabelecimentos de extrema utilidade para o jogador, como uma loja, um restaurante, um hospital e uma arena.

Além desse aspecto proporcionar uma autêntica sensação de progresso, visto que adquirimos acesso a recursos de maneira mais direta, o que nos mantém mais preparados para os desafios crescentes, há uma gratificante satisfação em testemunhar a evolução da pequena cidade, que inicialmente era quase desabitada, expandindo-se e ganhando vida.

A primeira vez no Digimundo 

Digimon World foi pioneiro ao nos permitir adentrar e explorar o Digimundo, e o trabalho feito nesse sentido é fascinante. O game apresenta diversos ambientes criativos com cenários pré-renderizados que transmitem a sensação de realmente estarmos em uma dimensão digital.

Elementos como fios, chips e tomadas emergem de lugares inusitados, como árvores ou até mesmo o solo, criando zonas esteticamente excêntricas e únicas. Essa característica, inclusive, se tornaria frequente em jogos posteriores e nas próprias animações, consolidando a identidade visual da franquia. 

A liberdade que temos para viajar pelo Digimundo também é notável, embora não seja totalmente irrestrita devido aos diversos níveis de poder das criaturas encontradas e aos territórios que exigem requisitos específicos para serem acessados. No entanto, não há uma ordem fixa para visitar muitos desses locais, o que nos proporciona uma certa flexibilidade na jornada.

Outro aspecto digno de destaque é a presença visível dos bichinhos no cenário, com os confrontos iniciando imediatamente e no mesmo local ao nos aproximarmos deles. Mesmo que suas ações estejam limitadas a simples movimentos, como andar e correr atrás de nós, essas criaturas proporcionam uma atmosfera mais viva ao ambiente, tornando o mundo mais dinâmico e imersivo. 

No que diz respeito às batalhas, os digimon lutam de forma quase independente, enquanto nosso personagem observa do lado de fora e fornece auxílio por meio de itens de recuperação e gritos de incentivo. Apesar de comandos mais específicos se tornarem disponíveis à medida que a inteligência do monstrinho aumenta, o pequeno parceiro não responde imediatamente a essas instruções, resultando em um sistema de combate que se distancia bastante dos tradicionais por turnos.

Ciclo de vida e desafios da digievolução

O principal foco de Digimon World remonta às mecânicas dos Tamagotchis da franquia. Nesse contexto, somos encarregados da responsabilidade de cuidar de nossa criatura em aspectos como alimentação, atenção com o banheiro, treinamento e administração de remédios. 

Essa abordagem adiciona uma dimensão de responsabilidade, aproximando os jogadores de seus aliados monstrengos de uma maneira mais pessoal, além de refletir a premissa de amizade e parceria entre humanos e digimon que permeia a franquia.

Conforme o monstro se fortalece e envelhece, ele pode digievoluir para uma nova forma, sendo necessário atender a requisitos como força, velocidade, defesa, felicidade e disciplina. Vale ressaltar que, neste jogo, temos opções específicas para moldar esses dois últimos elementos, influenciando-os por meio de interações carinhosas ou rígidas.

Para aprimorar os demais atributos, além das batalhas, podemos utilizar espaços dedicados ao treinamento. Esses locais oferecem diversas ferramentas que auxiliam nosso companheiro a desenvolver cada característica, como empurrar uma pedra para aumentar o HP ou permanecer debaixo de uma cachoeira para melhorar o MP.

Elevar os status de um monstrinho, por si só, não é uma tarefa complicada, mas há um fator que adiciona uma grande camada de desafio: o tempo de vida limitado. Inevitavelmente, chegará um momento em que a criatura alcançará o fim de sua existência. Quando isso ocorre, precisamos recriá-lo completamente, começando desde sua forma bebê.

Essa limitação temporal acrescenta uma interessante urgência ao desenvolvimento do digimon, pois precisamos equilibrar eficientemente o treinamento e a exploração antes que o ciclo de vida do bichinho se encerre. Contudo, essa característica também acaba sendo bastante divisiva, pois, ao mesmo tempo em que proporciona a oportunidade de adquirir constantemente novos parceiros, pode ser frustrante perder uma criatura poderosa que havíamos desenvolvido.

Essa possível frustração é potencializada pelo fato de o jogo não oferecer nenhuma informação direta sobre os requisitos das digievoluções. Dessa forma, a menos que o jogador recorra a algum guia externo, ele fica completamente no escuro ao tentar obter as criaturas desejadas, mesmo que queira reproduzir aquelas que já conquistou anteriormente.

O primeiro capítulo de uma série diversificada

Digimon World, assim como a maioria dos títulos que o sucedeu, recebeu críticas não tão favoráveis da mídia, mas conquistou o público que o experimentou na época, alcançando bons números de vendas. A popularidade do game foi um motivador significativo para a Bandai continuar investindo nesse universo, culminando na criação da série World.

Ainda no PlayStation, foram lançados Digimon World 2 e World 3, sendo que os três membros dessa trilogia não possuem qualquer relação entre si. O primeiro é um dungeon crawler bem desafiador, no qual utilizamos uma espécie de tanque para nos movimentar nas masmorras e enfrentamos outros monstrinhos em batalhas por turnos. Um aspecto interessante é que todos os digimon têm seus ataques dublados. 

A segunda sequência é um RPG por turnos mais tradicional, apresentando um vasto mundo com cenários pré-renderizados engenhosos e personagens com belos visuais em 2D durante a exploração. World 3 também serviu como fonte de alguns dos conceitos que seriam utilizados na outra grande série de jogos de Digimon, a Story. Também no PS, tivemos Digimon World: Digital Card Battle, um deckbuilding muito divertido e que novamente nos colocou na pele do protagonista do primeiro World.

No lendário PlayStation 2, surgiu Digimon World 4 (conhecido como Digimon World X no Japão), que mais uma vez assumiu uma abordagem diferente, apresentando-se como um RPG de ação. Neste jogo, os monstrinhos utilizam armas como espadas e machados durante os combates.

Curiosamente, no mesmo console, foi lançado Digimon World Data Squad (Digimon Savers: Another Mission no território nipônico), um título que não pertence necessariamente à saga World, mas que utilizou a força deste nome no Ocidente. O mesmo aconteceu com Digimon Championship (DS), que chegou até nós como Digimon World Championship.

Esse quadro ainda se repetiria com os primeiros jogos da sequência Story. Nesse sentido, Digimon Story e Digimon Story: Sunburst/Moonlight foram trazidos ao nosso lado do globo com os nomes de Digimon World DS e Digimon World: Dawn/Dusk. 

Também vale mencionar que a série recebeu Digimon World Re:Digitize (PSP), um título que segue a premissa do primeiro Digimon World e que nunca saiu do Japão. Este game ainda teve uma versão atualizada para o 3DS, denominada Digimon World Re:Digitize: Decode; no entanto, ela também nunca chegou ao Ocidente.

Finalmente, chegamos à última produção da série: Digimon World: Next Order, lançada em 2016 para o PS Vita e 2017 para o PS4. Assim como no primeiro, este jogo segue a premissa de cuidados com o parceiro e repovoamento da cidade, além de possuir certas ligações narrativas com o mesmo. Vale destacar que ele ganhou recentemente uma versão com legendas em português para PC e Nintendo Switch.

Como podemos notar, a saga World, principalmente em seu início, explorou diversas vertentes, com cada um dos cinco primeiros representantes pertencendo a um gênero completamente diferente. Isso evidencia a capacidade da franquia de se reinventar, proporcionando experiências únicas e diversificadas aos jogadores. Embora esses títulos tenham suas falhas, principalmente o World X/4, que, em minha opinião, é bem inferior aos demais, todos os outros são intrigantes em suas próprias particularidades.

Que a Bandai também se lembre dessa série com carinho

Digimon World, definitivamente, não é uma obra tão fácil de jogar nos dias de hoje. Infelizmente, devido à total falta de informações sobre as digievoluções, a curiosa mecânica de ciclo de vida acaba sendo mais cansativa do que divertida a longo prazo. Apesar disso, trata-se de um produto que permanece no coração de muitos, além de ter sido crucial para o desenvolvimento dos jogos que surgiram posteriormente e ter contribuído diretamente para a popularização da franquia.

O ano de 2024 é muito especial para os monstrinhos digitais, pois, além do anime original completar 25 anos, a série World também celebra a mesma marca. Em razão disso, torço por novidades e sonho com versões atualizadas dessas obras, principalmente daquelas lançadas para o primeiro PlayStation.

Revisão: Heloísa D'Assumpção Ballaminut

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