Prática bastante comum na indústria dos videogames,
remasterizações permitem que novos públicos conheçam jogos antigos com direito a melhorias importantes. Portanto, foi com surpresa que
The Last of Us Parte II Remastered foi anunciado ainda em 2023, visto que o título original tem menos de quatro anos de idade. Quais são as novidades trazidas pela nova versão? Elas são suficientes para atrair tanto novatos quanto fãs? Pegue muita munição, uma boa dose de suplementos e não se esqueça do tijolo, pois vamos responder a essas e outras perguntas nesta análise!
A volta dos que já foram
Lançado como um exclusivo para o PS4 em julho de 2020, The Last of Us Parte II foi considerado uma ótima sequência do primeiro título — ainda que com uma trama um tanto polêmica — que, por sua vez, é original de junho de 2013 para PS3 (ele recebeu um
remake ano retrasado). Mesmo que o segundo título tenha sofrido com algumas críticas, normalmente colocando-o como inferior ao primeiro, a chegada da aventura protagonizando Ellie e Abby obteve sucesso de público e crítica.
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O game original foi um dos grandes destaques de 2020
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O ponto interessante é que, ao contrário de tantos outros games, TLoU II não recebeu uma versão dedicada para o PS5 com a chegada do console. Nomes como God of War e Marvel’s Spider-Man: Miles Morales, para ficarmos restritos a jogos da própria Sony, receberam relançamentos para a nona geração de videogames.
Eles trouxeram melhorias graças ao poder superior do novo hardware, mas, em geral, não passavam de ports. Portanto, foi com surpresa que os jogadores de PlayStation 5 receberam a notícia de que The Last of Us Parte II ganharia uma remasterização. Essa nova versão traz diversas novidades, inclusive um novo modo de jogo no estilo roguelike e skins inéditas, mas não é gratuita, contando com dois valores diferentes.
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Existem opções para quem já tem o produto ou quer adquirir pela primeira vez
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Donos de uma cópia da versão para PS4 – seja ela física ou digital – podem adquirir o novo game por um quinto do valor completo. Normalmente, procuro evitar o elemento financeiro nas minhas análises, visto que esse é um ponto bastante subjetivo. Creio que minha opinião ficará clara ao longo do texto (o título da matéria dá uma pista), mas ao final darei uma espécie de veredicto sobre o tema.
Uma trama marcante
Antes de falar sobre os seus elementos inéditos, preciso comentar sobre as mudanças e melhorias trazidas por The Last of Us Parte II Remastered em relação ao original. A ideia desta análise é focar nas novidades, então serei breve sobre a campanha, cuja trama está intacta: ela é uma continuação direta do primeiro game, que acompanhou a saga de Joel e Ellie em um mundo, situado em tempos atuais, no qual um fungo contagiou a maior parte da população do planeta.
Os chamados Infectados são muito perigosos e povoam praticamente todos os ambientes, obrigando os sobreviventes a viverem em meio à falta de recursos, grupos de humanos violentos e o risco constante de infecção. TLoU II se passa cinco anos depois do primeiro, começando numa comunidade próspera de sobreviventes. Tudo está razoavelmente bem até que um evento violento interrompe a paz, levando Ellie a uma jornada perigosa e emocionante, conhecendo a nova protagonista, Abby.
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Embora não seja gritante, as melhorias técnicas estão lá, sobretudo durante a jogatina
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O game está ainda mais bonito com resolução de até 4K no Modo Fidelidade, 1440p com upscaling para 4K no Modo Desempenho e uma opção de taxa de quadros ilimitada para TVs com suporte a VRR. Não espere uma revolução visual, pois o anterior já era bonito, mas sim um aprimoramento, que também inclui melhorias nas texturas e na iluminação. O carregamento é mais rápido para recomeçar a jogar, com destaque para salvamentos praticamente instantâneos.
Mais novidades à vista
Além dessas melhorias técnicas interessantes — graças ao hardware mais poderoso do PlayStation 5 —, temos diversas outras novidades. A jogabilidade é uma versão melhorada da original, agora refinada na versão remasterizada fazendo uso preciso do controle DualSense. É possível sentir desde a vibração de motores elétricos no cenário até os pingos de chuva sob os personagens.
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Prepare-se para encontrar belas paisagens e cenas muito bem-produzidas
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Aliás, The Last of Us Parte II Remastered oferece muitas opções para customizações, como a citada vibração do controle, que pode incluir até mesmo os diálogos, assim como várias outras diferentes e inéditas em relação ao original. Os gatilhos adaptáveis são mais um bom exemplo, passando uma sensação única ao disparar uma escopeta à queima-roupa ou um arco e flecha à distância.
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Em geral, a abordagem furtiva é a mais eficiente ao longo da campanha
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Três níveis inéditos, em suas versões iniciais, estão disponíveis para exploração fora da campanha: Esgoto, Festa em Jackson e Caça de Javali. Vale pela curiosidade, mas nada além disso. A jogatina também pode ser complementada com horas de comentários em áudio sobre o desenvolvimento, que podem ser reproduzidos enquanto a jogatina rola. Vídeos e artes conceituais complementam essa viagem pelos bastidores do game.
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Existem muitos materiais extras para desbloquear e conferir
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The Last of Us Parte II Remastered trouxe vários modos novos. O chamado Performance com Violão, que inclui outros instrumentos e várias customizações, permite ao jogador expressar seus dotes musicais. Outra opção é o Modo de Speedrun, que coloca o jogador para correr atrás dos melhores tempos durante as partidas. Também temos Modificadores de Jogo, a Galeria de Modelos e novidades para o Modo Foto, como a inclusão de iluminação dinâmica e novas opções de molduras e logotipos.
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Pronto para botar para quebrar?
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É importante frisar que diversos extras — e boa parte das suas opções — só podem ser acessados após o término da campanha principal. Ou seja, as novas skins para Ellie e Abby, por exemplo, assim como suas armas, só são desbloqueadas com o final da aventura. Achei um exagero essa limitação, sobretudo para um jogo já bem conhecido no que pode ser vista como a sua “versão definitiva”. O trabalho daqueles que já jogaram a versão de PS4 é menor, visto que é possível importar o salvamento para o PS5.
Um roguelike pra ninguém botar defeito
Apesar de todas as informações anteriores serem bastante interessantes, é inegável que o maior destaque da remasterização The Last of Us Parte II é o modo chamado Sem Volta. No estilo roguelike, o jogador precisa avançar o maior número possível de fases, cada uma delas criada aleatoriamente utilizando inimigos e locais vistos em TLoU II. Em alguns momentos é possível escolher entre desafios diferentes, e ao final da sequência enfrentamos um chefe.
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Somente ao terminar o desafio é possível avançar
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Os desafios do Sem Volta são de quatro tipos diferentes: Assalto, que consiste em enfrentar ondas de inimigos; Captura, na qual é preciso arrombar um cofre vigiado por inimigos; Resistência, em que você e um companheiro controlado por IA devem se defender; e Caçada, cujo objetivo é sobreviver, por um determinado tempo, a contínuos ataques de inimigos. As lutas finais são contra chefes conhecidos da campanha, mas em circunstâncias diferentes.
Entre as fases, o jogador conta com um esconderijo para administrar itens e melhorias. Vale frisar aos menos versados no gênero roguelike que aqui a morte é permanente; ou seja, é preciso recomeçar desde a primeira fase. Isso também significa que quaisquer itens ou melhorias obtidas até então são perdidos. O resultado final gera uma pontuação e, caso certos requerimentos sejam atingidos, recompensas são desbloqueadas.
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O jogador pode escolher parte do caminho até o chefe final
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Elas incluem, por exemplo, personagens jogáveis inéditos disponíveis no Sem Volta, como Dina, Jesse, Lev e Tommy. Cada um deles tem características exclusivas, como Dina, equipada com receitas de bombas de atordoamento e armadilhas desde o início, e Abby, que começa com uma receita de melhoria de corpo a corpo e se cura com golpes desse tipo. É possível escolher entre cinco níveis de dificuldade, facilitando a vida de quem não curte tanto esforço.
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Alguns desafios permitem abordagens diretas, enquanto outros pedem furtividade
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Me diverti bastante a cada missão graças à jogabilidade sólida e os desafios bem-construídos. Mesmo sendo um roguelike, é possível salvar no esconderijo e retomar o caminho das missões em outro momento. Minha única crítica técnica é que seria melhor ter mais de um espaço para salvamento, o que permitiria realizar tentativas paralelas e experimentar outras combinações de personagens e itens.
Matar ou não matar, eis a questão
Divertido? Com certeza. Bem pensado e executado? Certamente. Vou me dedicar a ele por muito tempo? Provavelmente não. Ainda que isoladamente muito bom, o Sem Volta é um tanto contrastante com a campanha de TLoU II: o game dá um peso coerente às mortes e conflitos, ponderando sobre as motivações e circunstâncias deles em um mundo caótico. Já nesse modo extra, o jogador mata inimigos unicamente para obter pontos e itens, e depois repetir o ciclo.
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Diversos modificadores, como golpes incendiários, aumentam a variedade do Sem Volta
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Logicamente, existem inúmeros outros jogos que oferecem experiências semelhantes de matanças desenfreadas, como jogos de tiro e hack and slash. A questão é que o cerne de The Last of Us Parte II foi sempre contar uma história séria e repleta de emoção, com combates, explorações e quebra-cabeças servindo como suporte. Isso torna o Sem Volta divertido se você ignorar tudo o que foi visto na campanha, e mesmo assim sem maior apelo a longo prazo.
Isso salvo que novos conteúdos sejam lançados no futuro, como fases novas, equipamentos diferentes, etc. Mesmo a disputa contra outros jogadores, na busca das melhores pontuações (também é possível fazer isso no Modo Speedrun), serve mais como curiosidade, pois não vejo uma comunidade de jogadores se construindo ao redor desse modo. A concorrência atual no mercado dos videogames é ferrenha e as recompensas do Sem Volta não são incríveis, apenas interessantes
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Muitas recompensas recebem destaque, apesar de serem simplistas
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Nesse sentido, eu pessoalmente preferia ter recebido uma história secundária inédita, algo no estilo de Left Behind, do primeiro The Last of Us. Ou seja, uma aventura curta, intensa e autocontida, se passando entre os saltos de tempo vistos na campanha de TLoU Parte II. Ressalto que todos esses comentários não diminuem o brilho desta remasterização, mas, ao meu ver, faltou um pouco mais para ela ser considerada imperdível.
Resultado quase perfeito
Voltando para aquele veredicto que comentei anteriormente, posso afirmar que
The Last of Us Parte II Remastered vale muito a pena, inclusive do ponto de vista financeiro. Afinal, esta é a versão melhorada de um vencedor de mais de 300 prêmios de Jogo do Ano, com um ótimo enredo (ainda que polêmico), produção de primeira e jogabilidade ainda melhor. O desconto para donos de uma cópia para PS4 é válido e vale como incentivo para retornar ao game.
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(Re)Viva uma emocionante aventura nesta remasterização de primeira
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A única exceção é para aquele jogador que só curtiu a história pela narrativa e seu ineditismo: nesse caso, as novidades não serão tão importantes, pois a história, ainda que com melhorias técnicas interessantes, está intacta. O modo Sem Volta, maior destaque da remasterização — que também conta com várias outras novidades interessantes — é divertido e desafiador. No final, temos mais uma adição praticamente obrigatória para a tua biblioteca.
Prós
- Nova versão conseguiu elevar a experiência da aventura original a um novo e incrível patamar;
- Gráficos estão ainda mais bonitos tecnica e visualmente;
- Ótimo desempenho e grande quantidade de novidades;
- Jogabilidade aprimorada pelo ótimo uso do DualSense;
- Modo Sem Volta é uma boa opção para aproveitar toda a ação do game;
- Demais novidades de conteúdo, como skins, Modo Speedrun e bastidores, são muito bem-vindas.
Contras
- Novidades principais pouco interessantes para quem curtiu principalmente a trama da campanha;
- Extras poderiam estar liberados desde o começo.
The Last of Us Parte II Remastered — PS5 — Nota: 9.5
Revisão: Davi Sousa
Análise redigida com cópia digital cedida pela Sony