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Mega Drive: os maiores jogos por ano do 16-bits da Sega

Vamos dar um passeio entre alguns dos grandes títulos do melhor console da Sega.

em 01/01/2024
Algo que acho interessante de observar é a evolução dos jogos de uma plataforma com o passar de seu tempo de vida. Os primeiros títulos raramente representam toda a trajetória do videogame, seja pelo maior conhecimento das desenvolvedoras do hardware, seja pelas mudanças de foco da criadora do aparelho.


Neste texto, vamos dar uma olhada em alguns jogos dos anos de vida do Mega Drive. Em cada ano, citarei algumas produções e farei um resumo da situação da plataforma, dando destaque maior a três jogos. Se quiser obter mais detalhes sobre a história do lendário 16 bits, recomendo os textos produzidos por Rodrigo Garcia Pontes aqui no GameBlast.

1988/1989: de um início fraco para um ano promissor

No primeiro ano do Mega Drive, apenas quatro jogos foram lançados: Altered Beast, Space Harrier, Super Thunder Blade e Osomatsu-kun Hachamecha Gekijou. Foi apenas no ano seguinte, com o lançamento norte-americano, que algumas produções notáveis começaram a aparecer na plataforma, como Thunder Force II, Ghouls ‘n Ghosts, Super Hang-On e Alex Kidd in the Enchanted Castle. No entanto, três grandes clássicos surgiram logo em 1989:


Golden Axe (Sega): beat ‘em up fortemente inspirado nas obras de Conan, é um dos jogos mais saudosos da plataforma. Aqui, controlamos um grupo de guerreiros que precisam recuperar o lendário Golden Axe das mãos do vilão Death Adder. A possibilidade de jogar cooperativamente e o interessante sistema de magia são os pontos altos.

Phantasy Star II (Sega): a continuação do clássico de Master System trouxe uma história ambiciosa e uma ambientação mais futurista, passando-se 1000 anos após a história de Alis. Apesar da ausência dos labirintos em primeira pessoa, a estrutura das dungeons continua confusa e a dificuldade é ainda mais punitiva aqui.

The Revenge of Shinobi (Sega): em vez de receber um port do arcade, o Mega Drive ganhou uma continuação própria de Shinobi. Focando mais em plataforma, com um sistema de kunais limitadas, quebras de direitos autorais (devido à aparição de Homem-Aranha, Batman e Godzilla) e Yuzo Koshiro na trilha sonora, foi o início da nova era para a franquia.

1990: um ano de estrelas

O ano de 1990 foi marcado por parcerias da Sega com grandes nomes populares para impulsionar o Mega Drive nos Estados Unidos, e alguns jogos lançados no período refletem isso, especialmente nos esportes. Títulos como After Burner II, Batman, E-Swat, Shadow Dancer, Super Monaco GP e Thunder Force III são alguns dos destaques do ano, mas três nomes em especial tornam a virada da década única:

Castle of Illusion starring Mickey Mouse (Sega): protagonizado pelo mascote da Disney, Mickey deve resgatar Minnie das garras da bruxa Mizrabel e, para isso, deve obter gemas escondidas no castelo da vilã, enfrentando as diversas ilusões pelo caminho num excelente jogo de plataforma.

Michael Jackson’s Moonwalker (Sega): este não é necessariamente um jogo de grande qualidade comparado a outros de 1990, mas é o maior representante das parcerias com astros da cultura pop. Baseado no filme homônimo, Michael deve salvar crianças ameaçadas pelo vilão Mr. Big, com a possibilidade de se transformar em um robô e acompanhado pelas incríveis músicas do Rei do Pop, adaptadas perfeitamente para o chip YM2612.

Strider (Sega/Capcom): uma das características que era alvo de marketing da Sega eram os ports de arcade, como o já citado Golden Axe, e Strider foi um deles. Trazendo os gráficos e o som com bastante fidelidade à versão de fliperama, Hiryu deve destruir o império de Meio, que ameaça a humanidade, equipado com a espada laser Cypher e suas acrobacias estilosas.

1991: o nascimento de um ícone

O ano de 1991 marcou o início da volta por cima da Sega da América. Com campanhas de marketing agressivas, títulos como Bonanza Bros., El Viento, Flicky, Gain Ground, OutRun, Road Rash e Shining in the Darkness tiveram seu espaço, assim como:

QuackShot starring Donald Duck (Sega): continuando a parceria da Sega com a Disney, QuackShot é uma aventura não linear interessante em que Donald deve ir atrás de um tesouro, viajando para diversas partes do mundo e desvendando seus mistérios.

Sonic the Hedgehog (Sega): o primeiro jogo do maior ouriço dos games, Sonic veio para ameaçar o trono da Nintendo e seu Mario e, de certa forma, conseguiu. Destacando a velocidade de processamento do Mega Drive e explorando suas possibilidades visuais e sonoras, foi o maior pontapé para o sucesso do console.

Streets of Rage (Sega): beat ‘em up urbano extremamente estiloso, o primeiro jogo da trilogia buscou uma ambientação mais neon, puxada pelo final dos anos 1980 e embalada pela trilha sonora eletrônica contemporânea. O nome de Yuzo Koshiro passou a ganhar notoriedade a partir de seu trabalho aqui.

1992: o escalonamento da guerra

A briga começou a ficar feia em 1992, e a Nintendo teve que se esforçar para conseguir seu espaço no mercado ocidental perante a ameaça do Mega Drive. Foi o ano de Alisia Dragoon, Kid Chameleon, Landstalker, Puyo Puyo, Shining Force, World of Illusion, além de:

Sonic the Hedgehog 2 (Sega): a continuação que aprimorou tudo do título anterior. Sonic 2 soube balancear o ritmo das fases de forma mais satisfatória, trouxe gráficos ainda mais vibrantes, introduziu Tails, além da trilha sonora que se manteve tão marcante quanto a do 1. Tornou-se o jogo mais vendido da plataforma.

Streets of Rage 2 (Sega): outra continuação que melhorou tudo do antecessor, com uma jogabilidade mais fluida, visuais absurdos e músicas que vão um pouco mais além nas inspirações eletrônicas. Com certeza o melhor do gênero beat ‘em up no console.

Thunder Force IV (Technosoft): a maior referência dos shoot ‘em up na plataforma, o quarto jogo da franquia da Technosoft explorou os limites do que o Mega Drive podia fazer, abusando de efeitos de parallax, sprites em tela, uso de cores e variedade de jogabilidade. Some isso à trilha sonora puxada para o jazz e o heavy metal e temos um dos jogos mais catárticos dos 16 bits.

1993: a grande guerra dos videogames


1993 foi o ápice da guerra dos 16 bits. Jogos excelentes eram lançados em todas as plataformas da geração e o número de vendas de SNES e MD eram parelhas, algo raro na indústria. Entre Disney’s Aladdin, Flashback, Mortal Kombat, Phantasy Star IV e Rocket Knight Adventures, tivemos:

Gunstar Heroes (Treasure): o jogo que representa todo o poder do Mega Drive para jogos de ação, o run ‘n gun da Treasure é extremamente criativo, utiliza efeitos ditos “impossíveis” para o console, tudo isso num sistema variado de armas.

Shinobi III: Return of the Ninja Master (Sega): o final da era clássica da franquia Shinobi veio nesse ano. E que jogo! Fases ainda mais ambiciosas, um leque de movimentos que dinamiza toda a ação de Joe Musashi e uma trilha sonora memorável, mesmo não tendo a participação de Yuzo Koshiro.

Street Fighter II’: Special Champion Edition (Capcom): um dos títulos que representam a batalha dos 16 bits, SF2 do Mega quebrou a exclusividade da Capcom com a Nintendo em uma versão bem honesta, ainda que perca um pouco nas cores e nas vozes; entretanto, ganha no controle de 6 botões criado para este jogo.

1994: o início do declínio

1994 começou a queda retumbante do Mega Drive. O foco da Sega japonesa em seu console de quinta geração e o lançamento do 32X ajudaram o Super Nintendo a passar por cima do que a Sega da América tinha cultivado. Ainda assim, ótimos jogos foram lançados, como Contra: Hard Corps, Beyond Oasis, Crusader of Centy, Dynamite Headdy, Earthworm Jim, Streets of Rage 3 e Pulseman. Os três destaques aqui são:


Castlevania: Bloodlines (Konami): Bloodlines muda algumas convenções da franquia, pois não há Belmont, a aventura se passa no meio da Primeira Guerra Mundial e a ambientação é um tour pela Europa. Com uma jogabilidade divertida, belíssimas fases e chefes incríveis, a Konami deu um tratamento de luxo ao console da Sega.

Sonic the Hedgehog 3 & Knuckles (Sega): a junção de Sonic 3 e Sonic & Knuckles resultou numa aventura gigantesca que deu um encerramento digno à trilogia clássica, com direito a uma batalha final memorável, níveis interessantes e a melhor trilha sonora da era clássica da série.

Virtua Racing (Sega): o Star Fox do Mega Drive, é o único jogo de Mega Drive com chip extra adicional, para permitir gráficos poligonais de forma aceitável nos 16 bits. Não é a melhor forma de experimentar o jogo de corrida da AM2, mas é uma grande conquista técnica.

1995: tirando leite de hardware

Enquanto o Super Nintendo ainda recebia atenção mesmo com Saturn e PlayStation no mercado, o Mega Drive estava na sua sobrevida. O foco das produções do console daqui para frente era explorar o máximo das capacidades do videogame, e jogos como Alien Soldier, The Adventures of Batman & Robin, Mortal Kombat 3 e X-Men 2 iam além das expectativas técnicas para um hardware datado. Os três maiores do ano foram:

Comix Zone (Sega): uma aventura que se passa dentro de um quadrinho, Comix Zone é um beat ‘em up criativo que, apesar da dificuldade um tanto artificial, apresenta ideias interessantíssimas que não foram tão exploradas na indústria.

Ristar (Sega): fruto de um dos projetos descartados de Sonic, Ristar é um jogo de plataforma mais cadenciado, que foca na mecânica dos braços que esticam do protagonista, para superar os desafios. Colorido e carismático, é uma das joias escondidas da plataforma.

Vectorman (Sega): conhecido como “o Donkey Kong Country do Mega”, é um jogo de ação com gráficos pré-renderizados e algumas técnicas interessantes de iluminação. Peca um pouco pela dificuldade, mas é divertido.

1996 - 1998: o adeus

Esses foram os últimos anos com lançamentos oficiais, e a queda na qualidade é perceptível, assim como na quantidade. Jurassic Park: The Lost World, Toy Story, Vectorman 2 e Ultimate Mortal Kombat 3 representam esse período, assim como:

Duke Nukem 3D (Tectoy): título inusitado desenvolvido pela Tectoy, não chega a ser uma conversão direta do clássico de PC e, sim, um FPS que se assemelha mais a Wolfenstein 3D com inimigos, trilha e algumas falas de Duke Nukem como desculpa. Não é um jogo bom, mas é um milagre técnico da plataforma.

Sonic 3D Blast (Sega/Traveler’s Tales): o adeus do ouriço ao seu console de nascimento não foi a melhor coisa que podia ser feita, mas é um título no mínimo interessante. Trazendo uma visão isométrica, Sonic deve salvar cinco flickies em cada área para prosseguir.

Pocahontas (Disney/Funcom): belíssimo jogo de plataforma cinemático baseado no filme da Disney, Pocahontas deve contar com a ajuda de Meeko e espíritos animais para vencer desafios pelo caminho.

Extras póstumos

Preciso mencionar alguns títulos bem especiais que vieram após o encerramento das atividades do Mega Drive fora do Brasil. O primeiro é Show do Milhão, jogo de trivia baseado no clássico programa de TV do SBT lançado em 2001, por cortesia da Tectoy. Com a trilha da exibição televisiva e a voz de Silvio Santos assustadoramente bem adaptadas para o hardware do videogame, é uma das peças mais curiosas da história dos games no nosso país. Recebeu uma continuação com mais perguntas em 2002.


O segundo é Pier Solar and the Great Architects. Apesar de haver alguns jogos não oficiais para a plataforma até hoje, o jogo de 2010 da Watermelon era um RPG premium, com visuais e sons absurdos e uma história interessante. Foi por muito tempo o maior cartucho de MD já lançado, com 64 Mb (ou 8 MB) de memória, mérito que compartilha com outro título da mesma empresa, Paprium, de 2020.

Com uma biblioteca voltada para jogos de ação, o Mega Drive possui uma coleção bem ampla lotada de ótimos títulos. Os que falei aqui são apenas a parte mais superficial do console. Há muitas experiências diferentes entre os mais de 600 títulos do console.

Revisão: Ives Boitano

Estudante de enfermagem de 25 anos, está nesse mundo dos joguinhos desde criança. Fã de games com vibe mais arcade e arqueólogo de velharias, mas não abandona experiências mais atuais. Acompanha a mídia de podcasts, dublagem e ouvinte assíduo de VGM. Pode ser encontrado como @AlecFull e semelhantes por aí.
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