Minha primeira análise foi publicada em 31 de outubro de 2022, então podemos dizer que 2023 foi, na prática, meu primeiro ano como redator. Como esse negócio de escolher jogo para receber antes do lançamento e escrever é viciante, desde janeiro analisei 56 jogos do PS5 e em dezembro a conta pode fechar em 60 (metade deles foi em outro site; você pode conferir (quase) todos no meu perfil do OpenCritic).
Entrei em um ritmo acelerado de me candidatar a jogos que despertaram meu interesse, ao ponto de deixar de jogar outros títulos que eu mesmo comprei. É sério, isso de reviewer voluntário dá burnout. Estou prometendo para mim mesmo que não vou passar das 40 análises em 2024, mas, por hoje, vamos ver os destaques que passaram por minhas mãos e meu coração em 2023.
Começo com os sete jogos que mais me cativaram (mais ou menos em ordem crescente) e, em seguida, menciono outros sete ótimos títulos que vêm logo na sequência de favoritos. Depois, listo brevemente alguns que deixei passar neste ano, mas que ainda jogarei, encerrando o texto com minhas maiores expectativas para 2024.
Togges
Como o período coberto nas listas de favoritos vai de dezembro do ano anterior até dezembro deste ano, começarei com um lançamento do fim de 2022. Togges é um 3D platformer brasileiro que reformula o cerne do gênero, isto é, a maneira de se locomover pelos cenários: enfileirando e empilhando blocos.
Competente e inventivo em todos os aspectos, o que mais me encantou em Togges foi a liberdade de explorar os cenários ricos e interessantes e de pensar em soluções com os próprios recursos de diferentes tipos e quantidades de blocos. Gostei tanto do jogo que quis saber mais sobre ele e consegui entrevistar a dupla de irmãos que o criaram. Um ano depois de lançado, este ainda é um dos maiores destaques nesta lista de favoritos!
Afterimage
Dos meus adorados metroidvanias, o que mais apreciei em 2023 foi Afterimage, com seu mundo vasto e lindo de ver. Os cenários são pintados à mão e fazem um ótimo trabalho em construir locais diferentes para explorarmos à procura de centenas de segredos espalhados.
Ok, o tamanho do mapa e a não-linearidade não contribuíram muito para que a história ficasse coesa, mas o resultado final é um trabalho notável de desenvolvedores engajados que continuaram criando melhorias e adições após o lançamento. Este eu platinei com gosto!
Tchia
Foi amor à primeira vista. Desde que vi o trailer, eu sabia que me apaixonaria pela exploração do mundo de Tchia e pela mecânica de “possuir” animais para sobrevoar as ilhas e varrer o fundo do oceano.
Em Nova Caledônia, dá para sentir todo o carinho aplicado nas águas, plantas, animais,
Sendo um jogo que serve de carta de amor à terra natal dos líderes de desenvolvimento, das músicas ao pôr do sol daquele arquipélago convidativo em cada folhinha. É uma deslumbrante demonstração de como os videogames podem manifestar representações culturais diversas e enriquecedoras. Este também valeu uma entrevista com o diretor.
Sea of Stars
Como joguei The Messenger, de 2018, e me surpreendi com a narrativa inesperadamente elaborada, no momento em que o Sabotage Studio anunciou que faria um RPG de turnos, eu tive certeza imediata de que se sairiam bem. Dito e feito.
Sea of Stars é bom em tudo o que faz: personagens, enredo, reviravoltas, sistema de batalha, músicas e um visual irresistivelmente charmoso que mistura pixel art com iluminação dinâmica tridimensional. É um RPG excelente desde seu primeiro dia de lançamento, sabendo muito bem o que utilizar do passado e o que renovar para tempos mais modernos, deixando os excessos de fora de seu pacote coeso e encantador.
Chants of Sennaar
Tive minhas dúvidas ao ver trailers dos puzzles linguísticos de Chants of Sennaar, achando que seria um jogo mais lento do que eu gostaria. Decidi jogá-lo e, oh!, a maravilha de ter as expectativas superadas em todo mínimo detalhe!
Por fora, a protagonista é um tanto lenta no vai e vem necessário para decifrar os vários idiomas dos povos da torre, mas, aqui dentro, a mente trabalhava o tempo inteiro, sempre intrigada, às vezes frustrada, mas nunca entediada, traçando paralelos e suposições para tentar entender cada glifo escrito e a rica mitologia por trás daquela Babel de videogame.
Mesmo sendo para um jogador, atravessei a campanha inteira com minha esposa e, quanto mais desvendávamos os segredos do lugar, mais maravilhados ficávamos com a profunda simplicidade do papel da linguagem em nos definir como humanos e em criar os mais importantes laços e descobertas que nossa espécie pode conceber. A análise de Chants of Sennaar é uma das que mais me orgulho.
Lies of P
Analisei outros jogos com notas maiores que a do soulslike de Pinóquio, mas ele merece o lugar na lista por ter sido o título que mais me envolveu neste ano. Comecei com boas expectativas que foram reforçadas pela demo, concretizadas na análise e ainda me fez querer escrever um guia com dicas e rejogar toda a campanha no NG+ para descrever em detalhes toda a história dessa Belle Époque decadente, flagelada por títeres e pela doença da petrificação.
Terminei a experiência de Lies of P com o troféu de platina e aguardo mais novidades do jogo, seja do DLC programado ou de uma possível sequência influenciada por O Mágico de Oz.
The Talos Principle 2
Este me pegou de surpresa. Não antecipei o lançamento, sequer joguei o título anterior. Apenas aceitei fazer uma análise por estar curioso com a mistura de puzzle e filosofia, mas ainda receoso de encarar um jogo de quebra-cabeças longo, prometendo 30 horas de duração.
Ainda bem que arrisquei, pois assim conheci o título que me foi mais significativo em meio a dezenas de outros. Mesmo após jogar muito tempo, eu ainda me surpreendia com soluções criativas para usar as mesmas mecânicas simples. A flexibilidade para progredir na campanha sem resolver todos os puzzles de cada região foi incentivadora, mas ainda voltei para completar os enigmas que havia deixado para trás (e ainda continuo nesse objetivo, aos poucos).
A história é magnífica com seus personagens interessantes que ganham vida pelas vozes marcantes (em inglês) e sua ficção científica exemplar, bordada de questionamentos filosóficos sobre o progresso, a definição de humanidade e o lugar dela no universo.
Levarei The Talos Principle 2 comigo na vida.
Menções honrosas
Muito honrosas. Estes outros sete jogos me divertiram, encantaram, comoveram ou impressionaram com sua execução bem-feita. Veja a lista mais sucinta:
- Season: A Letter to the Future é para quem gosta de experiências intimistas e contemplativas. Explore os momentos finais de um vale, conhecendo a cultura, as histórias e as memórias de uma era que chega ao fim. Lindo e profundo.
- Roots of Pacha consegue chegar ao nível de Stardew Valley, mas com mais apego à comunidade e sem o estresse de correr contra o tempo. Se for escolher um jogo de fazendinha, esta é a escolha de 2023!
- Trine 5: A Clockwork Conspiracy pode até fazer mais do mesmo, mas faz com muita elegância, direção de arte de cair o queixo e gameplay interessante tanto sozinho quanto acompanhado no cooperativo.
- Star Ocean: The Second Story R é uma boa pedida para quem quer ver como se refaz um JRPG clássico mantendo-o o mesmíssimo jogo embelezado e melhorado em todos os aspectos.
- Para quem gosta de plataforma 2D retrô, tenho três indicações de 2023. Primeiro Planet Cube: Edge, um platformer de precisão desafiador. Depois, Batboy e também Gravity Circuit, dois “megaman-like”. São jogos bem diretos: se você curtiu os trailers, curtirá os jogos.
Deixei passar em 2023, mas ainda jogarei!
Ainda sobraram alguns títulos de 2023 que pretendo jogar. Inclusive, quatro deles já estão na gaveta da velharia mídia física esperando para tirar a poeira recente:
- Final Fantasy XVI
- Star Wars Jedi: Survivor
- Resident Evil 4
- Wo Long: Fallen Dinasty
Dezembro e janeiro são meses mais lentos na indústria de jogos, então espero fazer a fila começar a andar nesse período. Ah, como soulslike é um de meus gêneros favoritos, Lords of the Fallen também está na mira do futuro. Alan Wake 2 é um que não me despertava curiosidade, mas fui fisgado pela recepção estrondosa e o coloquei na lista de futuras aquisições.
Mais aguardados de 2024
Entre minhas maiores expectativas para o próximo ano, Final Fantasy VII Rebirth é o único com data confirmada, já para fevereiro. Por outro lado, a minha ilusão agridoce chamada Hollow Knight: Silksong já vai completar cinco anos desde seu anúncio — sim, foi em fevereiro de 2019! Eu sempre penso: “desse ano não passa!” e em 2024 não poderia ser diferente. Sim, eu sei que estou em negação.
Elden Ring: Shadow of the Erdtree, a expansão do GOTY 2022, não tem previsão, mas o jogo base vai completar dois anos de lançado em fevereiro, então já está na hora de ver o que a FromSoftware tem para adicionar às Terras Intermédias. Pelo tempo de desenvolvimento, deve ser um senhor DLC.
Entre dois prometidos para 2024, Black Myth: Wukong é um soulslike baseado em A Jornada para o Oeste, tão bonitão que o anúncio de 2020 foi tido como uma mentira. No entanto, tudo que é mostrado dele só confirma o hype!
Também estou de olho em Star Wars Outlaws. Não sou fã dos mundos abertos da Ubisoft, mas gostei da representação da guerra nas estrelas com aquele jeitão retrofuturista altamente 1980 e só sei que estou disposto a me aventurar naquela galáxia muito, muito distante.
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli