Algo que mencionei na análise de Pocket Bravery é que, devido à enxurrada de jogos de luta nos anos 90, muitas experimentações eram feitas dentro do gênero. Além de sistemas, algumas desenvolvedoras tiveram idéias mais extravagantes relacionadas a estilização de alguns títulos, seja a de trazer uma estética mais caricata ou de usar atores digitalizados para os lutadores, por exemplo.
Waku Waku 7, desenvolvido pela Sunsoft e lançado em 1996, aborda uma vertente mais cômica e escrachada. Foi o segundo jogo de luta da empresa no Neo Geo, que buscou uma abordagem mais diferenciada do que a das batalhas intergalácticas de Galaxy Fight.
Animes escrachados
A principal ideia de Waku Waku 7 é parodiar elementos comuns de anime em seus personagens, e a história reflete bem esse fator. No mundo do jogo existem as Waku Waku Balls, sete esferas que concedem um desejo ao serem reunidas — claramente inspiradas nas Esferas do Dragão de Dragon Ball.
Cada um dos sete personagens jogáveis está de posse de uma das esferas, e eles farão de tudo para obter as outras na base da luta. São eles:
- Rai Bakuoh: Um típico protagonista de shonen (clássico “anime de porradinha”), Rai é um elétrico estudante que está em busca das Waku Waku Balls pelo simples desejo de viver aventuras;
- Slash: Um elfo que luta com um sabre laser. É uma paródia clara de espadachins comuns em mangás e animes, com um toque andrógino;
- Tesse: Robô servente que utiliza utensílios e eletricidade como ataque, é uma das sete criações de Dr. Lombozo;
- Politank Z: Um mecha pilotado pelo policial Chojuro e o cachorro Hamusuke, é uma referência cômica a robôs em produções nipônicas;
- Mauru: Uma versão escrachada de Totoro do filme Meu Amigo Totoro, é uma criatura rosa que está sempre acompanhada de Mugi em suas costas;
- Dandy-J: Referência clara a Joseph Joestar de Jojo’s Bizarre Adventure, Dandy-J é um caçador de recompensas que viaja com sua filha e seu gato;
- Arina Makihara: Uma garota com orelhas de coelho, Arina é uma personagem de romances femininos (shoujo). Além de ser uma exímia lutadora, ela deseja um grande amor.
O tom leve do jogo é destacado pelo visual extremamente colorido, especialmente nas enormes fases, carregadas de detalhes e animações. Os cenários passam por transição de tempo entre os rounds, mudando não só a coloração mas também adicionando ou retirando elementos. Por exemplo, o estágio de Slash começa à noite, com a rua com alguns animais e belos efeitos de iluminação, enquanto que ao amanhecer aparecem pessoas.
A direção dos personagens busca uma estética mais cartunesca com pouco detalhamento, utilizando cores e sombras para dar características distintas. As animações também contribuem para essa estética, com deformações e expressões exageradas a todo momento.
Outra adição técnica é o uso de efeito de zoom por escalonamento de pixels que, dada a dimensão dos estágios, é utilizado de forma mais extensiva que outros jogos mais populares da plataforma, como Samurai Shodown. Certamente, um dos jogos mais belos do Neo Geo.
Uma bagunça divertida, mas um pouco limitada
Waku Waku 7 utiliza o padrão tradicional de quatro botões do Neo Geo, dividindo-se entre dois de soco e chute. A movimentação é mais livre do que nos jogos de luta da época, sendo levemente semelhante ao de Darkstalkers. Pulos longos são permitidos, alguns personagens possuem golpes aéreos e os mencionados cenários abertos podem ser usados para se livrar de enrascadas ou como ferramenta de zoning, dependendo do lutador.
O jogo não apresenta grande foco em combos, mas sim em usar as ferramentas universais para auxiliar no dano total. Fazendo mais uma alusão à Darkstalkers, todos os especiais possuem versões EX, ou seja, variantes poderosas de especiais comuns. É bem complicado conseguir realizar combos com cancelamento em especiais, sendo esse o maior ponto negativo para o ritmo das batalhas.
Além disso, os super especiais estão presentes como já era comum na época. Contudo, o movimento mais curioso de Waku Waku 7 está no HaraHara Attack, um especial imbloqueável e poderosíssimo que exige um tempo de carregamento bem alto para ser preparado. Por fim, todos os personagens podem entrar em modo Super ao pressionar três botões simultaneamente, aumentando o dano e a defesa por um curto período de tempo.
No modo arcade, cada oponente derrotado dá uma Waku Waku Ball, que dá acesso a uma barra de especial extra. Como todo recurso do jogo utiliza pelo menos uma barra, cada uma adicionada dá mais vantagens ao jogador, o que é necessário pois o nível da IA no single player, ainda que não esteja entre os mais impossíveis dos arcades, exige precaução. No modo versus, as sete barras são disponibilizadas logo no início.
E sendo um jogo da Sunsoft, Waku Waku 7 não deixa cair a qualidade na parte de som. Além da trilha sonora marcante e que representa perfeitamente os personagens em seus temas, os efeitos sonoros são satisfatórios.
Waku Waku doesn't Stop (Tema de Arina)
The Sun Also Sets (Tema de Dandy-J)
Uma Waku Waku Ball rara por onde passou
Waku Waku 7 só teve um lançamento além dos fliperamas na época, que foi no Sega Saturn. Usando a expansão de memória RAM de 1MB, é uma versão capada pois apesar de manter a maior parte dos quadros de animação os cenários são feitos em baixa resolução, enquanto os efeitos sonoros e vozes estão em pobríssima qualidade. Porém, nada estraga tanto esse port quanto os carregamentos: há loading para carregar a fala pré-luta, entre rounds, para concluir a luta, para iniciar o jogo, e diversos outros momentos de espera. No entanto, a trilha foi retrabalhada com qualidade de CD.
Apenas em 2008 que uma versão próxima do original foi lançada, no PlayStation 2 exclusivamente no Japão em um pacote junto com Galaxy Fight, com direito a trilha rearranjada e modo de treino. Por fim, é possível jogar Waku Waku 7 via Arcade Archives no PS4, PS5, XBO, XSX e Switch.
Em meio a diversas jóias escondidas no gênero, Waku Waku 7 é um título extremamente divertido e único. Era bacana ver empresas não muito conhecidas dentro dos jogos de luta se aventurando nas batalhas 1v1, e a Sunsoft foi bem criativa aqui. É um jogo que com certeza vale a pena conhecer.
O temível FERNANDEZ é o último obstáculo do game. |
Revisão: Juliana Piombo dos Santos