Com uma longa história no mundo dos videogames, o ninja mais famoso dos animes e mangás recebeu mais um título, chamado
Naruto X Boruto Ultimate Ninja Storm Connections. Mantendo boa parte da jogabilidade e dos visuais vistos nos títulos passados, as novidades aqui ficam por conta de um novo enredo e uma coleção enorme de lutadores. Vista sua bandana e pegue algumas kunais, pois a análise vai começar!
O caminho do ninja
Desde 2003, quando tivemos a estreia de Naruto nos videogames, foram muitos lançamentos em diversos consoles diferentes. Dentre esses títulos, a série chamada Ultimate Ninja Storm pode ser considerada a de maior sucesso. Os seus jogos de luta colocam os personagens em ambientes 3D com direito a toda sorte de golpes e jutsus diferentes, além da possibilidade de usar itens e transformações.
Seis anos após o último game da série, chega em novembro de 2023 Naruto X Boruto Ultimate Ninja Storm Connections, com versões para PC e todos os consoles das gerações atual e anterior. A experiência dos combates é basicamente a mesma das anteriores, temperada com algumas adições pontuais. O mesmo serve para a produção técnica, sem praticamente nenhuma novidade significativa.
Falando mais especificamente dos visuais, é possível notar que eles estão um pouco datados, sobretudo em cutscenes mais simples como diálogos. Aquelas pré-renderizadas, como em grandes combates e acontecimentos, ainda guardam boas qualidades. Já durante as lutas os gráficos funcionam muito bem, com efeitos bonitos e boa qualidade. Os tempos de carregamento também são reduzidos.
Talvez o mais crítico sejam as dublagens, que sofrem com uma falta de sincronia gritante com os lábios. Aliás, além do japonês e do inglês, temos a opção do português brasileiro. A localização é completa, com menus, legendas e até dubladores saindo diretamente do anime. Elogio a nostalgia, mas o elenco recheado (que irei abordar em breve) resulta em algumas falas malfeitas ou que combinam pouco com os personagens.
Dividir para conquistar
Ultimate Ninja Storm Connections é dividido nos seguintes modos: História, que revive as partes principais dos animes Naruto e Naruto Shippuden; História Especial, que traz um enredo original situado no anime Boruto; Batalhas Online e Livre, sendo a última de forma local; Coleção, que traz todos os personagens, roupas, animações e demais itens do jogo.
O primeiro modo conta a história, em sua maioria, com imagens estáticas retiradas diretamente do anime. Talvez a ideia seja boa para quem acompanhou a série dessa maneira, mas na prática essas capturas têm qualidade média, sobretudo em “cenas de ação”. Como leitor do mangá, confesso que não gostei dessa forma de apresentação e acabei pulando várias delas, indo direto para as lutas e cutscenes do jogo.
Ao menos a narração é agradável, com as demais dublagens funcionando bem nas cenas estáticas (quando não ocorrem aqueles problemas que comentei antes). Os arcos de história foram bem escolhidos e trazem os momentos-chave dessa incrível saga, com direito a emocionantes lutas contra chefes como Naruto x Shukaku e Sasuke x Naruto. Cada fase vencida resulta em toda sorte de recompensas, como dinheiro e novas skins.
Inclusive, esse é um dos pontos mais fortes de Connections: a coleção do game é vasta, com cartões de informação, customizações visuais (como orelhas de gato e máscaras), poses, cenas de finalização e até mesmo o objeto usado no jutsu de substituição. Para completar, temos uma espécie de enciclopédia com vários verbetes interligados, permitindo aos jogadores conhecer mais detalhes do mundo do jogo.
Uma nova aventura
Já a História Especial é inédita, contando como Boruto, filho de Naruto, conheceu uma menina misteriosa chamada Nanashi em um jogo online popular chamado Ninja Heroes. Esse tal game tem uma relação direta com o também misterioso vilão Merz, que se inspira nos atos de Pain para iniciar uma nova Guerra Ninja.
Embora eu entenda que a trama à la Sword Art Online e Matrix — mundo digital realístico com batalhas que refletem no real e vice-versa — se justifique para que possamos ter certos combates de outra forma impossíveis (no contexto de um enredo coerente, como Naruto contra Kakashi), ela é um pouco forçada em vários pontos. Também não ajuda que algumas animações sejam feias e pouco dinâmicas, além dos já comentados problemas na dublagem.
Ao menos as lutas são interessantes, com cutscenes bem produzidas. No final, fiquei com uma sensação de que faltou mais esmero no que seria o único conteúdo inédito de Connections. O próprio enredo de Boruto é um tanto confuso e desinteressante em relação ao de Naruto, então as coisas só parecem ter seguido o mesmo ritmo. A única vantagem sobre o modo História é que temos uma produção mais caprichada no geral.
Entre Sannin e Genin
Vamos falar agora sobre as lutas em si. Connections mantém a base do que foi visto nos últimos Ultimate Ninja Storm 4, com combos relativamente simples e ataques especiais de fácil acesso. Ao contrário de outros jogos de luta em que é preciso decorar sequências de golpes e apertos de botões específicos, aqui o negócio fica basicamente por conta do timing.
Isso porque golpes especiais são facilmente acionados, exigindo apenas chakra e cuidado para ficar exposto ao contra-ataque. É possível criar combates individuais ou em trios, sendo que os últimos permitem combinações entre quaisquer personagens. Inclusive, certos times contam com golpes combinados únicos, com direito a animações especiais.
Por exemplo, se juntarmos Naruto, Hinata e Boruto, temos acesso a um finalizador único, afinal temos um verdadeiro ataque em família. O jogador também tem acesso a quatro ferramentas ninjas diferentes, assim como transformações especiais. Ou seja, é possível utilizar o gigantesco e poderoso Susano’o de Sasuke, por exemplo.
O já relativamente simples sistema de controle pode ser ainda mais simplificado no chamado Controle Simples. Com ele, é possível tornar toda ação de combate acionável com somente o apertar de um botão, incluindo ataques, golpes especiais e até o carregamento de chakra. Bom para novatos e quem quer ver lutas incríveis sem dificuldade, mas ruim para quem curte disputas mais técnicas.
Falando um pouco do elenco, temos mais de 130 personagens jogáveis. Embora seja uma quantidade louvável, ela vem com uma série de asteriscos. Por um lado, muitos nomes são basicamente o mesmo personagem com algumas mudanças, exemplificados por sete Narutos e sete Sasukes “diferentes”. Por outro lado, existem estreias inéditas como Indra e Asura Ōtsutsuki, irmãos e filhos do Sábio dos Seis Caminhos.
Também temos a estreia de Delta, Boro, Koji Kashin e Jigen, membros da organização Kara, antagonista de Boruto. Afinal, como o próprio título do game sugere, Naruto X Boruto Ultimate Ninja Storm tenta uma espécie de conexão entre as duas séries. Não acho que ela tenha realmente funcionado, sobretudo para quem ainda não conhece a mais recente, mas ao menos temos mais opções para jogar.
Não caia no genjutsu
É importante que o leitor entenda que Connections é um lançamento OK, mas que não deve ser encarado como uma novidade significativa. Quem teve oportunidade de jogar os últimos títulos da série Ultimate Ninja Storm encontrará uma experiência praticamente intacta, para o bem ou para o mal. A jogabilidade, por exemplo, é divertida se não for curtida em excesso.
Os visuais por vezes parecem saídos do PlayStation 3 e a jogabilidade é, em essência, a mesma dos últimos títulos. Existem novidades, mas muitas são pouco interessantes: um quiz sobre qual a sua emoção ao final dos capítulos da História, por exemplo, é algo quase insignificante. A seleção de lutadores recheada também é um pouco duvidável.
Lembra da “quantidade louvável”? Nomes como Anko, Hagaromo, Shizune e Kurenai são famosos, mas ficaram de fora, além das já comentadas “repetições”. É importante comentar que o jogo contará com cinco pacotes de DLC; em outras palavras, é provável que vamos receber esses e outros personagens faltantes em algum momento. A questão é que, para um jogo já sem muitas novidades, ter que pagar por extras é frustrante.
Na realidade, a recomendação de Ultimate Ninja Storm Connections é basicamente restrita aos jogadores mais ardorosos da série. Para quem tem acesso a um título anterior mais recente, como Ultimate Ninja Storm 4, talvez valha a pena esperar por um desconto. As novidades não são significativas a ponto de um investimento agora, exceto para os jogadores que realmente sejam fãs de carteirinha.
Esse é o meu jeito ninja!
Tal como a longa aventura na qual foi inspirado,
Naruto X Boruto Ultimate Ninja Storm Connections é repleto de altos e baixos, com uma leve vantagem para o primeiro lado. Como pontos negativos, temos uma jogabilidade um tanto datada e uma apresentação por vezes pobre, sobretudo considerando a história original repleta de momentos épicos.
Do lado positivo, podemos destacar um desempenho suave, uma seleção farta de personagens icônicos, uma jogabilidade acessível e divertida (em doses moderadas), muito conteúdo na forma de fichas, animações e combinações de golpes. A nostalgia de rever momentos icônicos e o breve, mas interessante, enredo inédito também são bons destaques. No final das contas, temos um jogo voltado para os fãs da obra e de animes em geral, sobretudo para quem quiser a coleção completa agora e não quer esperar por promoções.
Prós
- Jogo de luta é uma opção interessante para fãs da série e de animes em geral;
- Apanhado completo de Naruto a Naruto Shipudden, chegando ao recente Boruto;
- Jogabilidade fácil de entender;
- Dublagens e localização em português brasileiro, inglês e japonês;
- Boa quantidade de modos e missões para jogar;
- Muitas roupas, acessórios, animações e outros conteúdos para descobrir e liberar.
Contras
- Grande quantidade de personagens ao custo de muitas “repetições” e adição de nomes menos interessantes que algumas ausências;
- Produção técnica deixa a desejar em algumas animações e dublagens;
- Nenhuma novidade significativa em relação aos títulos anteriores, sobretudo na jogabilidade simplista.
Naruto X Boruto Ultimate Ninja Storm Connections — PC/PS5/PS4/Switch/XBO/XSX — Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: PS5
Revisão: Ives Boitano
Análise redigida com cópia digital cedida pela Bandai Namco
