Mas, como seus diversos spin-offs — SteamWorld Heist é um que merece ser mencionado com pompas — já demonstraram, a série nunca teve medo de sair de sua zona de conforto e se lançar em gêneros novos. SteamWorld Build segue esse roteiro, oferecendo um jogo divertido e capaz de entreter a quem busca uma experiência nova e relaxante no gênero de construção ao mesmo tempo em que retém o charme usual da saga.
A busca pela sobrevivência
Como vimos em nosso texto de impressões, por trás dos visuais coloridos, a história de SteamWorld Build é um pouco trágica. Neste universo steampunk, o planeta em que você vive está condenado e é uma mera questão de tempo até que tudo ao redor, incluindo você e sua família de robôs, vire pó.
Mas talvez a saída esteja debaixo de seus pés. Segundo rumores antigos, sob o solo existem tecnologias espaciais há muito enterradas que seriam capazes de salvar a população em um momento de crise, transportando-a para outro planeta.
Embora esses sejam só rumores, na situação em que o jogador se encontra, como o próprio jogo reforça, é cavar ou morrer tentando. Por isso, está em suas mãos construir e gerenciar uma cidade SteamWorld, preparando, assim que possível, contínuas expedições ao subsolo.
Quem sabe se a localidade prosperar o bastante e fizer bom uso dos recursos encontrados, talvez seja possível encontrar as tais tecnologias antigas para salvar a população.
O charme da vida cotidiana em um mundo Steampunk
Um dos primeiros pontos elogiáveis de SteamWorld Build é o seu amplo e amigável tutorial, algo que já havia ficado bastante perceptível em nosso primeiro contato com o jogo e que certamente agradará quem não tem muita experiência com este estilo.
Por meio do tutorial, que pode ser vivenciado em cada um dos mapas do título, pouco a pouco o jogador é apresentado à sua principal tarefa: construir estruturas capazes de atrair robôs trabalhadores para viver em sua cidade, monitorando e satisfazendo suas necessidades para que eles se mantenham produtivos dia após dia.
Como em todo bom título do gênero, o segredo está no que vai se revelando progressivamente; não é preciso de muito tempo para ver sua população aumentando e robôs mais capacitados (como engenheiros) chegando, o que acaba criando a necessidade de construções mais elaboradas para servir a todos.
Ou seja: novas edificações na cidade atraem trabalhadores que possuem diferentes necessidades e motivam novas construções, e assim sucessivamente. Este ciclo contínuo acaba gerando o loop de gameplay de SteamWorld Build.
Para ser sincero, não é nada inédito no mundo dos simuladores — há até uma interessante similaridade com a longeva franquia ANNO, da Ubisoft, muito conhecida pelos jogadores de PC — mas o charme da série, com seus robôs desengonçados e coloridos, junto da sucessiva introdução de novas construções e demandas, ajuda a entreter.
Para baixo e avante?
Pode-se dizer que o grande diferencial de SteamWorld Build está na exploração do subterrâneo em busca das tecnologias perdidas. Embora a escavação seja simples no início, logo são necessárias ferramentas mais elaboradas para remover obstáculos e conseguir avançar. Como esperado, os recursos encontrados no subsolo também passam a ser imprescindíveis para as operações na superfície e vice-versa, o que implica na necessidade de bom gerenciamento.
Ao explorar o subterrâneo, não é difícil encontrar criaturas hostis que atacarão suas máquinas e trabalhadores. Aqui é onde as coisas se inclinam a tomar um rumo interessante, pois somos convocados a planejar (e vigiar) defesas, lembrando um pouco o subgênero de defesa de torres (Tower Defense), em que o objetivo é guardar as suas propriedades de constantes ofensivas inimigas.
Quem acompanha a franquia SteamWorld desde os tempos do DSiWare certamente se agradará com essa referência ao passado, mas a verdade é que em nenhum momento essas ameaças se provam verdadeiramente letais, já que são no máximo as suas estruturas que precisarão ser reparadas, não reconstruídas do zero.
Quando se percebe isso, não é difícil se decepcionar um pouco com a falta de desafio justamente na mecânica que deveria cumprir esse papel, já que a economia em si também nunca se revelou, pelo menos em minha experiência, uma ameaça durante a gameplay (lembremos, para fins de contexto, que falir já era uma consequência real em títulos como RollerCoaster Tycoon e SimCity há décadas atrás, por exemplo).
Some a isso o curto tempo de campanha (é possível concluir o objetivo principal em menos de sete horas de jogo) e os poucos mapas disponíveis (apenas cinco), e a realidade é que para um título centrado em explorar o subterrâneo, SteamWorld Build não possui tanta profundidade assim, o que pode afastar jogadores acostumados a passar dias inteiros em jogos do gênero.
A impressão é que a desenvolvedora The Station optou por criar uma experiência mais casual e até mesmo relaxante, bem longe da pressão e complexidade de títulos como Cities: Skylines e outros. Temperar as expectativas e manter isso em mente permite aproveitar SteamWorld Build como o bom e divertido jogo que ele é.
Engenharia elogiável
Na semana passada, eu já havia tecido elogios a respeito da parte técnica do jogo, que pra mim continua sendo um de seus destaques. Fazendo jus ao histórico da franquia, é difícil não se impressionar com os detalhes e animações dos robôs e das construções, o que torna o ato de desenvolver tudo ainda mais recompensador.
A otimização também me surpreendeu positivamente. Jogando no PC, não presenciei quedas na taxa de quadros em nenhum momento, mesmo com muitas coisas na tela. A inclusão do nosso idioma, embora esperada, também merece ser mencionada, bem como a interface simples e funcional.
Uma experiência polida e divertida, ainda que não tão desafiadora assim
SteamWorld Build cumpre a sua missão e entrega um divertido jogo de construção com o inegável charme da versátil e já longeva franquia SteamWorld. Um pouco mais de profundidade ou desafio seriam bem-vindos, logicamente, mas sempre haverá espaço para experiências polidas que prezam pela diversão e são capazes de recepcionar novos jogadores com excelência. Recomendado.
Prós
- Apresenta o carisma já consagrado da série SteamWorld;
- É divertido desenvolver cidades e atender as necessidades e expectativas da população;
- Simples e acessível, é uma ótima opção para curiosos e jogadores iniciantes no gênero;
- Suporte a português brasileiro;
- Bem otimizado no PC.
Contras
- Passa longe da complexidade usualmente associada aos títulos do gênero, o que pode afastar jogadores veteranos;
- O flerte com o Tower Defense é raso e não produz o desafio esperado;
- Campanha principal é curta;
- Possui poucos cenários disponíveis.
SteamWorld Build — PC/PS4/PS5/XBO/XSX/Switch — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Juliana Piombo dos Santos
Análise produzida com cópia digital cedida pela Thunderful
Análise produzida com cópia digital cedida pela Thunderful