Análise: Air Twister (Multi): repetitividade e excentricidade voam juntas neste curioso rail shooter

Inspirado em Space Harrier, temos a experiência de um arcade dos anos 80 com uma roupagem mais moderna.

em 08/11/2023
Jogos antigos de fliperama são fascinantes na maneira como foram projetados para despertar a curiosidade dos jogadores. Algumas dessas máquinas ofereciam uma jogabilidade única que não podia ser replicada em casa devido aos recursos mecânicos de jogabilidade, ou toda a entrega audiovisual. Contudo, todos eles tinham um objetivo comum: desencadear uma dose de dopamina para manter o jogador imerso naquele mundo por alguns minutos, em troca de algumas moedas.


Air Twister segue essa filosofia de design, mas com toques modernos. Originalmente lançado em 2022 no serviço Apple Arcade, agora temos a oportunidade de experimentar mais uma obra de Yu Suzuki em outras plataformas. Inspirado por uma de suas produções, Space Harrier, e em outras influências como Panzer Dragoon (Saturn) e Rez (DC/PS2), temos um rail shooter que desperta a mesma curiosidade audiovisual dos fliperamas, assim como a simplicidade.

"Save the planet, get ready!"

A premissa de Air Twister é direta e simples: a princesa Arch deve salvar seu planeta de uma devastadora invasão alienígena, contando com suas habilidades de voo, suas armas e algumas criaturas gigantes aliadas como um elefante alado e um ganso com armadura, que servem como montarias contra ameaças mais perigosas. O jogo oferece um total de 12 fases, com um chefe no final de cada uma.

A ação se desenrola em trilhos, com a protagonista movendo-se automaticamente em um percurso, podendo se deslocar livremente por toda a área da tela. Para lidar com as hordas de inimigos, ela conta com uma arma que dispara projéteis de energia, que pode ser usada de duas formas: mirando manualmente em um alvo específico ou marcando vários alvos de uma vez, atacando-os com tiros teleguiados — essencial para lidar com formações em fileira.

Além dos inimigos, também encontramos obstáculos ambientais, como barreiras e pedras, para atrapalhar o progresso. Diferente de Space Harrier, Arch possui uma barra de vida representada por corações, permitindo-a receber múltiplos danos antes de ser derrotada. Quando todos os corações são esgotados, é possível utilizar dois continues para voltar à ação, mas os pontos são zerados. 

Air Twister traz alguns elementos modernos para a jogabilidade. A cada sequência inimiga derrotada, o jogador ganha estrelas douradas que podem ser usadas no Mapa de Aventura para desbloquear itens cosméticos, acessórios auxiliares, armas, aumento da vida, novos modos de jogo e colecionáveis. A escolha do que destravar não é totalmente livre, já que o menu organiza as opções como numa árvore de habilidades.

Os modos de jogo alternativos são simples e têm como foco principal a obtenção de estrelas ou a busca por pontuações mais elevadas. Por exemplo, se preferir uma abordagem direta e sem complicações, o jogo oferece uma experiência arcade, no qual se pode escolher o nível de dificuldade e jogar até o final, sem se preocupar com melhorias e customizações. Para aqueles que desejam acumular pontos em um modo infinito, o Pó Estelar apresenta fases bônus infinitas, desafiando os jogadores a destruir uma quantidade específica de inimigos dentro de um limite de tempo.

Embora a campanha principal seja relativamente curta, a necessidade de recomeçar do início acaba sendo o fator de extensão da aventura. A variedade de gameplay é limitada, tornando as repetições menos interessantes uma vez que o jogador domine a mecânica. Até mesmo o sistema de customização da aparência de Arch, embora interessante, não acrescenta algo à jogabilidade.

Um planeta excêntrico

Air Twister possui uma ambientação bem curiosa, não fazendo tanto sentido uma fase com a outra. O primeiro nível ocorre num oceano com vários cogumelos tanto dentro d’água quanto flutuando, a segunda apresenta um deserto com diversos esqueletos enormes espalhados pela região, enquanto o contexto é totalmente mudado no terceiro estágio, que ocorre num ambiente futurista com várias luzes neon e algumas estruturas triangulares compondo o local.

Isso se reflete nos inimigos também, que incluem uma variedade de formas geométricas prateadas, insetos lançadores de esferas espinhosas, dragões esqueléticos e outros seres peculiares. Vários desses monstros referenciam diretamente o universo de Space Harrier, às vezes de maneira descaradamente explícita, incluindo os tiros ovais coloridos de alguns oponentes.

Caso o jogador queira ir atrás de mais contexto e informações sobre esse mundo estranho, há um menu específico contando com textos destraváveis falando sobre personagens, tramas políticas e o planeta abordado no título. Há uma quantidade considerável de detalhes, ainda mais para um jogo que não se propõe a possuir uma narrativa grandiosa — as cinemáticas se resumem ao início, às apresentações de chefes e ao final —, mas o conteúdo presente é interessante.

A parte técnica denuncia um pouco de sua origem em dispositivos móveis, principalmente pela direção de arte básica. Há alguns problemas de pop-in de texturas, de sombras e de modelos mudando para versões mais detalhadas perto da área de visão do jogador, mas o resultado final é agradável. A interface não é adequadamente adaptada, contando com botões virtuais de pausa e avanço de cenas ocupando espaço de tela, enquanto a navegação de menus não é tão intuitiva com controles.

O conteúdo musical de Air Twister segue uma abordagem singular. Em vez de optar por um rock mais comum ou por uma orquestra no nível de Panzer Dragoon, o jogo nos presenteia com um repertório composto pelo músico holandes Valensia, explorando a vertente de ópera rock. Algumas das músicas remetem a obras da banda Queen, enquanto outras poderiam ser consideradas excelentes aberturas para desenhos dos anos 80.

Uma diversão descompromissada

Apesar de não ser uma aventura marcante e não se estender por dezenas de horas, Air Twister se destaca como um rail shooter divertido e descontraído, com uma abordagem moderna do espírito dos anos 80. É um título perfeito para sessões rápidas de jogatina em busca de recordes e desbloqueios de conteúdo, mas tenha em mente que a repetitividade é um fator sempre presente nessa guerra.

Prós:

  • Jogabilidade simples e fácil de compreender;
  • Ambientação com temáticas diferenciadas e únicas;
  • Trilha sonora sensacional e fora do padrão nos videogames;
  • Chefes divertidos de se enfrentar;
  • Textos traduzidos em português.

Contras:

  • A simplicidade da jogabilidade não abre tanta margem para complexidade;
  • O jogo se torna repetitivo em jogatinas prolongadas;
  • Problemas técnicos de pop-in de texturas, modelos e sombras;
  • A interface de menus não foi bem adaptada para controles.
Air Twister — PS4/PS5/XBO/XSX/Switch/PC/iOS — Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: PC

Revisão: Ives Boitano
Análise produzida com cópia digital cedida pela ININ Games 


Estudante de enfermagem de 25 anos, está nesse mundo dos joguinhos desde criança. Fã de games com vibe mais arcade e arqueólogo de velharias, mas não abandona experiências mais atuais. Acompanha a mídia de podcasts, dublagem e ouvinte assíduo de VGM. Pode ser encontrado como @AlecFull e semelhantes por aí.
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