Incumbindo ao público a missão de reinar sobre o antigo Egito em um dos períodos mais fascinantes da história humana — o colapso da Idade do Bronze —, PHARAOH resgata as raízes históricas da série entregando uma aventura mais contida que as da trilogia WARHAMMER, mas não menos complexa ou divertida por isso.
A arte da guerra
Caso este seja o seu primeiro contato com o nome Total War, aqui vai uma breve explicação sobre essa franquia, que, dada a sua exclusividade, permanece até hoje como um ótimo motivo para investir em um computador ao invés de um console.
Apresentada ao mundo com Shogun: Total War (PC), a série — que desde 2005 é propriedade da SEGA — destacou-se desde a estreia pelas suas grandes batalhas com exércitos em tempo real, inspirações históricas e vasta complexidade, que exigia dos jogadores não somente a conquista de territórios através de guerras ou diplomacia, mas o correto gerenciamento deles para triunfar na campanha.
Ao longo dos anos, Total War foi aperfeiçoando essa promessa, contemplando suas várias entradas em períodos como os Três Reinos da China (184-280 D.C.), a Guerra Peninsular (1807-1814) e até mesmo conflitos fantasiosos, graças aos divertidos crossovers com a franquia WARHAMMER.
Mais de um ano após o último grande título da saga, PHARAOH continua esse legado, desta vez propondo aos fãs uma campanha que mergulha na riqueza de detalhes do antigo Egito, entre 1200 e 1100 a.C.
Com a morte cada vez mais próxima do Faraó Merneptá, cresce a expectativa sobre quem assumirá seu posto em um contexto de crescentes revoltas sociais, desastres naturais e guerras implacáveis. Seria você o escolhido?
Sou faraó, sou faraó
Ao iniciar uma partida de Total War: PHARAOH, você poderá escolher entre oito comandantes disponíveis: os egípcios Ramsés, Seti, Tausserte e Amenemésses; os canaanitas Irsu e Bai e os hititas Supiluliuma e Kurunta.
Como é tradição na franquia, a escolha do comandante é essencial para os rumos de sua campanha, pois, dentre outros fatores, ela interfere em sua posição inicial do mapa e o tamanho de seu exército, alterando a dificuldade como um todo.
Ramsés, por exemplo, é a melhor escolha para os iniciantes que desejam aprender as mecânicas sem muitos percalços no processo; já o conspirador Bai, cercado por seus inimigos, é a opção mais recomendada para quem deseja desafios logo de cara.
Aliás, falando em desafios, PHARAOH inova com o recurso de personalização. Agora, é possível alterar individualmente a dificuldade da campanha, das batalhas e diversos outros parâmetros individuais, como o orçamento dos seus inimigos, seu posicionamento no mapa e até mesmo a personalidade da inteligência artificial, tornando-a mais pacífica ou agressiva conforme os turnos avançam.
Esta é uma novidade muito bem-vinda e que deve agradar tanto aos novatos quanto aos veteranos da série, já que é possível tornar duas campanhas com o mesmo comandante completamente diferentes. Dada a complexidade habitual da série (falarei mais sobre isso em breve), também é muito bem-vinda a possibilidade de tornar o jogo ainda mais acessível para quem está começando agora neste universo.
As riquezas do Egito
Na prática, PHARAOH segue os padrões de jogabilidade da franquia. Ao longo de mais de uma centena de turnos, você criará e gerenciará exércitos, capturará povoados e começará ou encerrará guerras enquanto realiza feitos que geram um determinado número de pontos. Acumule pontos suficientes e você poderá chegar a uma pequena, grande ou definitiva vitória como faraó ou rei dos hititas (escolher qual deles você almeja ser é um dever durante a campanha que interferirá nos objetivos).
Logicamente, é mais fácil falar do que fazer, especialmente porque há muitas coisas acontecendo no mapa ao mesmo tempo. Saber tomar territórios para si é muito diferente de gerenciá-los corretamente uma vez que sejam seus. Da mesma forma, conseguir manter os povoados felizes enquanto geram um fluxo contínuo de recursos, como alimentos, madeira e bronze, é a chave para conseguir sustentar exércitos cada vez maiores e mais poderosos.
Adicione a isso a ameaça constante de invasores, desastres naturais e rebeliões e você tem a receita perfeita para campanhas tão complexas quanto divertidas. Sendo perfeitamente honesto, demorará pelo menos uma ou duas dezenas de horas para se familiarizar com tudo que é apresentado aqui, mesmo que você já tenha uma certa experiência anterior com Total War. Vejo isso como algo muito positivo em PHARAOH.
Por exemplo, é possível venerar até três divindades, como Rá, Hórus e Anúbis, uma vez que seu culto tenha sido descoberto durante a campanha. Além dos figurões egípcios, também é possível cultuar deuses canaanitas, como Baal e Yam, ou hititas, como Kumarbi. Cada um desses cultos promove diferentes benefícios, como bônus na produção de alimentos ou menos fadiga para seus exércitos, configurando um recurso valioso durante a sua trajetória pelo Egito.
Fazendo justiça ao seu apelo histórico, PHARAOH também introduz os Legados Antigos, uma forma de homenagear governantes notáveis do passado. Escolha um deles, como Tutemés III ou Aquenáton, e tente refazer seus passos durante a campanha para ganhar vantagens especiais.
Juntamente com as novas construções, como os templos de adoração, e a introdução crucial dos entrepostos como estruturas satélites das cidades, há aqui diversos recursos que acabam enriquecendo a campanha do título mesmo que você já seja um veterano da saga. No fim das contas, a verdade é uma só: tornar-se faraó ou rei dos hititas não é o fim do jogo; é apenas a metade de uma trajetória que certamente vale a pena ser vivenciada.
Sem criaturas fantásticas desta vez
É importante reforçar que, assim como escrevi em meu texto de impressões, Total War: PHARAOH representa um retorno às origens históricas da série após o enorme sucesso da trilogia WARHAMMER. Em resumo, não espere aqui elementos místicos nas batalhas, tampouco generais superpoderosos, capazes de virar o jogo a qualquer momento, demolindo hordas e mais hordas de inimigos.
Pelo contrário, PHARAOH coloca de fato os pés no chão, resultando em batalhas mais lentas e, francamente, menos espetaculares quando comparadas às de seu predecessor WARHAMMER III. No entanto, isso também significa que há um foco redobrado na estratégia durante os confrontos; saber usar o terreno e as novidades como as alterações climáticas ao seu favor é fundamental para prosperar.
Sobre isso, um exército pequeno, mas escondido, terá vantagens significativas sobre combatentes cansados, que tenham percorrido grandes distâncias sob uma tempestade de areia, por exemplo. Projéteis, como as flechas dos arqueiros, também terão sua eficácia consideravelmente reduzida durante as fortes chuvas orientais.
São os pequenos detalhes, como esses, que mantêm as batalhas empolgantes e viciantes mesmo sem criaturas mitológicas de ambos os lados (quem sabe em um DLC tenhamos os deuses combatendo conosco, já que é inegável que há potencial para isso).
Inclusive, devo dizer que, pós-WARHAMMER, todo título mais realista sofreria para se destacar, mas a Creative Assembly fez um bom trabalho em PHARAOH, tanto com a apresentação artística quanto com a dinâmica das batalhas em si (é só uma pena que, novamente, não existam batalhas navais, apesar de podermos nos mover pela água).
Por fim, se havia alguma preocupação com o lado técnico do jogo, devo dizer que encerro minha análise com elogios também nesse quesito: em um PC com uma RTX 3060 e um Ryzen 7 5700x, não tive problemas para manter a taxa de quadros sempre acima de uma centena mesmo na configuração máxima em 1080p (só senti falta de recursos avançados da plataforma, como DLSS, FSR e Ray Tracing). Felizmente, a obra também conta com suporte a português brasileiro em seus menus e legendas, algo inegociável em um título detalhista como este.
Um bem-sucedido resgate das raízes históricas da franquia
Total War: PHARAOH confirma as expectativas ao seu respeito e entrega um dos melhores títulos da série Total War nos últimos anos. Embora suas batalhas sejam logicamente mais lentas e menos espetaculares se comparadas às grandes fantasias da trilogia WARHAMMER, em nenhum momento elas se provam menos empolgantes ou viciantes.
De quebra, ainda temos aqui uma das campanhas mais interessantes da série, com diversas ramificações e opções de personalização capazes de estender a vida útil do jogo por meses e anos a fio. Tornar-se faraó (ou rei dos hititas) é só metade do caminho; a história de reconstrução do Egito é mais complexa do que parece. Quem ganha com isso somos nós, os jogadores.
Prós
- Campanha divertida e desafiadora, com diversos elementos para gerenciar e recursos como o culto a divindades e Legados Antigos aumentando o fator replay;
- As mudanças climáticas conferem um novo grau de estratégia às batalhas em que se fazem presentes;
- O recurso de personalização da campanha é o mais amplo da série até agora e permite alterar drasticamente elementos significativos;
- Conta com suporte a português brasileiro (menus e legendas);
- Bem-otimizado.
Contras
- A diversidade de recursos, elementos e acontecimentos pode deixar o jogador confuso já no tutorial;
- Poderia ter incluído batalhas navais, mesmo que em menor escala do que as terrestres;
- Ausência de recursos comuns em jogos de PC, como DLSS, FSR e Ray Tracing, começa a ser questionável tanto pelo impacto visual quanto pelo bônus de performance em si.
Total War: PHARAOH — PC — Nota: 8.5
Revisão: Vitor Tibério
Análise produzida com cópia digital cedida pela SEGA
Análise produzida com cópia digital cedida pela SEGA