Lançado em 2014, o primeiro The Talos Principle alcançou status cult e aclamação dos jogadores por seus puzzles desafiadores e história com alto teor filosófico metafísico. Apesar de todo o sucesso, muitos consideram o game uma “joia escondida” dos videogames.
Depois de nove anos, sua sequência, The Talos Principle 2, está batendo à porta com lançamento marcado para o dia 2 de novembro e promete expandir o game original em quase todos os aspectos. O GameBlast teve acesso ao jogo e vamos lhe contar o que esperar da obra.
O Princípio da Individualidade
No primeiro jogo, acompanhamos uma série de desafios em uma simulação comandada por uma IA chamada Elohim, um dos vários nomes do deus das religiões abraâmicas (cristianismo, judaísmo e islamismo). O game aliava a mecânica de resolver enigmas com uma forte discussão sobre o indivíduo e a existência, fazendo diversas referências à religião, de nomes dos personagens e locais ao debate de conceitos como o bem e o mal, o idealismo e o niilismo, dentre outros tópicos.
A sequência agora se passa eras depois desses eventos. Você descobre que a ideia da simulação e Elohim era traçar um futuro para a humanidade, que havia sido extinta por uma doença desconhecida. Sendo assim, o robô que desafiasse Elohim e vencesse a simulação daria início a uma nova sociedade.
No momento de The Talos Principle 2, a sociedade de robôs se construiu à imagem e semelhança da raça humana, até em sua forma de organizar a sociedade. Você assume o papel de 1k, o milésimo robô criado. Isso se dá devido a um plano geral, dito quase como religioso, de os robôs criarem apenas mil deles.
Desse modo, quando 1k nasce, existe uma comemoração na cidade, que é interrompida quando uma projeção de um homem chamado de Prometheus aparece convocando os robôs para uma ilha misteriosa. E assim inicia a enigmática aventura em TP2.
Sociedade e Indivíduo
Uma mudança que logo mostra como The Talos Principle 2 expande os conceitos de seu mundo é a mudança de foco de uma estrutura construída em torno do indivíduo, como visto no primeiro jogo, para uma abordagem voltada à sociedade e ao modo como os indivíduos a compõem. Para além disso, houve uma mudança também nas discussões propostas, fazendo uma forte alusão ao mito grego de Prometeu, que roubou a chama do conhecimento do Olimpo para dar à humanidade e foi punido brutalmente por isso.
Se no primeiro jogo tínhamos o uso das religiões abraâmicas em sua primeira empreitada, neste segundo a desenvolvedora fez o caminho alternativo de se inspirar fortemente em mitos e figuras gregas, como o próprio Prometeu, Atena, Hefesto, dentre outros. Entretanto, essa mudança de foco não denota qualquer perda de qualidade nas discussões: questões sociais, como o papel da mídia e as próprias redes virtuais, pautam a narrativa.
Inclusive, existe até uma seção especial dentro do jogo, possibilitando que você faça parte de uma espécie de Twitter e participe de discussões com outros personagens do mundo de The Talos Principle 2.
A Filosofia da Liberdade
Saindo da metafísica, podemos destacar algumas mudanças mecânicas significativas que justificam a própria existência da sequência, a começar pelo de gameplay, que está mais diverso. Por ser um jogo de puzzles, é possível que uma parte dos jogadores fique entediada ao realizar uma tarefa repetitiva de resolução de enigmas, então o título explora diversas formas de tornar a gameplay dinâmica e instigante usando seu arsenal de escrita e de design para isso.
As paisagens e visuais, que, graças à tecnologia atual, estão mais belos que nunca, saltam aos olhos, não apenas em detalhe técnico da qualidade da imagem, mas também pelo bom uso da direção de arte para definir locais no mínimo majestosos. Existe também uma dinâmica de mudança de cenário a cada oito puzzles, trazendo a sensação de movimento e progressão ao longo da campanha.
Ainda existem diversos segredos, diálogos e opções alternativas para além dos enigmas tradicionais que avançam a história. Isso traz uma abertura maior, dando um aspecto de mundo aberto que possivelmente agradará a boa parte do público moderno.
Além do Bem e do Mal
Para todos que foram arrebatados pela experiência do primeiro jogo, o termo que mais define este projeto é ambição. Numa era em que tantos games mantêm suas produções no seguro e cada vez mais vemos “sequências” quase indistinguíveis umas da outras, The Talos Principle 2 expande seus conceitos sem medo de ousar e arriscar com novos debates, puzzles e um mundo inteiro completamente inédito para instigar jogadores que estão mais interessados nas perguntas do que nas respostas.
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Texto de impressões produzido com cópia de preview cedida pela Devolver Digital