A Capcom foi uma dessas desenvolvedoras que investiu pesado em deixar suas famosas produções ganharem o benefício da portabilidade, e Mega Man recebeu um tratamento de luxo. A linha clássica ganhou Mega Man: Powered Up, e a linha X recebeu em 2005 Mega Man: Maverick Hunter X, se tornando um dos melhores games da plataforma.
21XX e a origem de X
A história de Maverick Hunter X não muda tanto em relação à original. Em algum momento em 20XX, Dr. Light iniciou o processo de criação do primeiro robô independente, com a habilidade de pensar, sentir e agir de acordo com suas próprias convicções, como um humano. Contudo, o tempo de vida do cientista era curto devido à sua idade e o projeto não ficaria pronto a tempo, forçando-o a colocá-lo em desenvolvimento automático, cuja conclusão levaria no mínimo 30 anos.
Um século depois, em 21XX, um arqueólogo chamado Dr. Cain achou as instalações de Light com o robô, chamado de X, com suas escritas e instruções para quem o achasse. Com o despertar de X, Cain viu aquilo como uma tecnologia que serviria de base para uma nova leva de criações robóticas mais avançadas; assim surgiram os Reploids, que foram massificados pelo mundo.
Entretanto, com a capacidade de pensar, vem a possibilidade de cada Reploid ser uma ameaça em potencial para os humanos, tornando-se um Maverick. Uma organização chamada Maverick Hunter foi criada para lidar com esses casos, liderada por Sigma e contando com X e Zero, outro avançado robô secular achado.
Para piorar a situação, Sigma se tornou um Maverick e lançou uma iniciativa para destruir a humanidade. Cabe então aos nossos heróis lidar com esse problema e salvar o mundo da ameaça.
Refazendo os básicos
Marverick Hunter X é, essencialmente, o clássico de Super Nintendo em sua estrutura: derrote 8 chefes e obtenha seus poderes para usá-los contra outros Mavericks enquanto procura por cápsulas de armaduras e upgrades espalhados pelas fases. No PSP, porém, essa jornada recebeu uma nova cara poligonal e algumas novidades para incrementar a jogatina.
No começo, o protagonista azul não possui muitos recursos além de seus pulos e a confiável X-Buster. A maior mudança de gameplay, comparado à era clássica, é a possibilidade de “grudar” nas paredes, utilizando-as como impulso para subir ou pular de um lado para o outro, sendo um belo recurso vertical para a gameplay. Isso, somado ao dash, um avanço com botão dedicado, traz um dinamismo maior à ação.
A estrutura da fase introdutória e das oito principais permanece idêntica à original, proporcionando uma sensação familiar para os veteranos e mantendo a alta qualidade do level design intacta para que os novatos possam apreciar.
No entanto, houve alterações em três das quatro cápsulas de armadura. O exemplo mais significativo dessa mudança está na que concedia as partes das pernas da First Armor, que originalmente estava localizada na fase de Chill Penguin e agora se encontra na fábrica de Flame Mammoth. Contudo, a fortaleza de Sigma apresenta um level design inédito, com as três primeiras partes sendo completamente diferentes.
As mudanças
O maior benefício de Maverick Hunter X está na narrativa. O título original exibia texto em momentos específicos, mas o remake trouxe um pouco mais de profundidade ao incluir diálogos antes dos chefes, através dos quais é possível entender a real motivação dos adversários em se tornarem lacaios de Sigma.
Todo o texto é seguido por dublagem, tanto em inglês quanto em japonês. O elenco norte-americano conta com as vozes de Mega Man X8, fugindo do estigma de péssimas atuações que a franquia teve a partir de Mega Man 8 (PS1/Saturn) e Mega Man X4 (PS1/Saturn) e entregando um trabalho decente. Já a parte nipônica dispensa comentários, tão boa quanto da primeira vez em que a série nos brindou com voice acting.
Falando em áudio, toda a parte sonora foi refeita. Enquanto os efeitos sonoros misturam os barulhos remasterizados com alguns novos, a música é retrabalhada num estilo mais puxado para a música eletrônica, se afastando das guitarras e baterias ecoadas do SNES. Ainda que alguns remixes tenham ficado legais, como o tema da primeira parte da fortaleza de Sigma e a música da base de Launch Octopus, o original se sobressai.
Subterranean Base (Launch Octopus)
Sigma's Fortress 1
A parte visual está completamente em 3D, adicionando um pouco mais de profundidade aos ambientes visitados e mantendo as vivas cores do jogo original. O charme da pixel art é perdido no processo, mas a conversão fica excelente na telinha do portátil, disfarçando a baixa resolução das texturas
Um projeto que não foi para a frente
Inicialmente, a ideia de Keiji Inafune, o produtor responsável pela franquia à época, era que Maverick Hunter X fosse o início de uma série de remakes, indo do primeiro X ao X6. Ao dar uma nova abordagem à jornada do herói, haveria espaço para ajustar a narrativa da saga e adaptá-la à lore seguida naquele momento. No entanto, o projeto foi inteiramente descartado devido às vendas fracas do primeiro remake.
O resquício desse planejamento é comprovado no bônus destravado após concluirmos a campanha principal: um curta de 25 minutos intitulado “The Day of Σ (Sigma)”, que aborda eventos anteriores aos do próprio jogo, como o início da rebelião de Sigma contra os humanos e a primeira luta entre Zero, X e o vilão. Esta animação está presente nas coletâneas Mega Man X: Legacy Collection 1 e 2 (Multi).
Trazendo um remake fiel com adições bem-vindas, Mega Man Maverick Hunter X é uma das pérolas do primeiro console portátil da Sony, dando atenção à narrativa da saga e adaptando-a à direção que a lore estava tomando naquele momento. Embora não substitua a obra-prima original da Capcom, ele oferece uma perspectiva alternativa bem-vinda do início da jornada de X. É uma pena que não tenhamos tido a oportunidade de ver as outras aventuras da série sob essa nova visão.
Revisão: Davi Sousa