O ano de 1998 é frequentemente lembrado como um dos momentos mais memoráveis na história dos videogames. Entre títulos emblemáticos como Metal Gear Solid, Resident Evil 2 e The Legend of Zelda: Ocarina of Time, alguns jogos notáveis lançados na mesma época acabaram recebendo menos destaque do que mereciam.
Esse é precisamente o caso de Brave Fencer Musashi, um RPG de ação produzido para o primeiro PlayStation pela então Squaresoft, com ninguém menos que Hironobu Sakaguchi, o lendário criador de Final Fantasy, atuando como produtor executivo.
O pequeno samurai
A trama de Brave Fencer Musashi se desenrola no reino de Allucanet, que acabou de ser invadido por um império inimigo. Para proteger sua terra e seu povo, a princesa Fillet convoca Musashi, um jovem que parece ser a reencarnação de um fantástico guerreiro que já havia salvo o reino no passado.
Para cumprir essa missão, o pequeno herói deve coletar a lendária espada Lumina e recuperar os cinco pergaminhos, que representam diferentes elementos e ampliam os poderes da arma. No entanto, após adquirir o poderoso equipamento, nosso campeão é surpreendido com o sequestro da princesa e de vários habitantes de Allucanet, assumindo também a tarefa de resgatá-los.
Embora a história seja direta e simples, ela é repleta de momentos empolgantes e memoráveis que a tornam extremamente envolvente. Uma característica fascinante do enredo de Brave Fencer Musashi é seu senso de humor, com a presença de personagens carismáticos e frequentemente hilariantes.
Isso é acentuado pela excelente dublagem presente na maioria dos diálogos, com alguns indivíduos adotando um tom exagerado em certos momentos, tornando tudo ainda mais cômico. Um exemplo notável disso é o próprio Musashi, que se comporta mais como uma criança orgulhosa do que como um herói de fato.
Diversos sistemas condensados em um ótimo jogo
Essencialmente, Brave Fencer Musashi é um RPG de ação 3D em que exploramos as terras de Allucanet e enfrentamos uma ampla variedade de inimigos pelo caminho. No entanto, o título apresenta variados sistemas que tornam a experiência de jogo diversificada.
Como mencionado, devemos encontrar e coletar os cinco pergaminhos que conferem habilidades especiais à espada Lumina. Com essas técnicas, conseguimos acessar áreas anteriormente bloqueadas, como o primeiro pergaminho que causa um terremoto e remove obstáculos que antes nos impediam de avançar.
Além das maestrias, podemos adquirir peças de uma lendária armadura que expandem nossas opções, como a capacidade de escalar determinadas paredes fornecida pela primeira parte do equipamento, o bracelete.
Nosso protagonista, Musashi, é inspirado em Miyamoto Musashi, um famoso samurai conhecido por criar um estilo de luta com duas espadas. O jogo segue essa premissa e nos permite utilizar duas armas: a já mencionada Lumina, para golpes especiais; e a Fusion, para ataques normais e a absorção de monstros.
Quando absorvemos um adversário, adquirimos sua habilidade principal, como a capacidade de lançar projéteis, empunhar uma lança ou saltar com a ponta da espada. Essa mecânica adiciona uma camada de puzzle ao jogo, pois, em várias ocasiões, precisamos assimilar monstros específicos para realizar ações no cenário e desbloquear passagens ou mecanismos.
Em relação aos habitantes perdidos de Allucanet, devemos encontrá-los e libertá-los quebrando objetos semelhantes a cristais que os mantêm prisioneiros. Vale ressaltar que, em algumas situações, é necessário que pessoas específicas tenham retornado à cidade para que possamos avançar na campanha, o que estimula a exploração e, ao mesmo tempo, pode travar a progressão do jogador.
Por fim, mas não menos importante, o jogo apresenta um sistema de dia e noite que precisa ser gerenciado com cuidado. À medida que o tempo passa, Musashi fica cada vez mais cansado e, quando a fadiga atinge um nível crítico, ele se move com dificuldade e não pode executar qualquer ação com eficiência. Caso a canseira atinja níveis extremos, Musashi simplesmente cai no sono e fica vulnerável a toda sorte de ataques.
Para recuperar a energia, podemos descansar na hospedaria ou em nosso quarto no castelo e também consumir itens e alimentos específicos. Portanto, além de lidar com os diferentes tipos de adversários, devemos estar constantemente atentos à exaustão do protagonista.
Ainda sobre esse sistema, é importante mencionar que ele não afeta apenas Musashi, mas também o mundo ao seu redor, com os NPCs alterando suas atividades de acordo com a hora e o dia da semana, algo semelhante a jogos de simulação. Os comércios, por exemplo, têm horários e dias fixos de funcionamento.
Nesse sentido, Brave Fencer Musashi apresenta diversos sistemas interdependentes e interessantes que tornam a jogabilidade extremamente variada e proporcionam surpresas constantes, evitando a sensação de monotonia que poderia ocorrer devido à simplicidade dos objetivos principais, que se tornam conhecidos pelos jogadores nos primeiros minutos.
A dificuldade do game não está relacionada aos inimigos poderosos, mas sim à necessidade de conhecer as habilidades que o protagonista possui e as que pode adquirir temporariamente dos adversários, além de compreender como essas maestrias podem ser usadas em cada situação específica, inclusive nos embates contra chefes. Dessa forma, Brave Fencer acaba se mostrando como um jogo acessível a qualquer tipo de jogador.
O Legado do Samurai
Para aqueles que desejam mergulhar mais fundo na fonte de inspiração, Miyamoto Musashi deixou um legado com seu livro conhecido como Livro dos Cinco Anéis (uma possível referência para a criação dos cinco pergaminhos?). O lendário samurai também inspirou várias obras de ficção, com destaque para o mangá Vagabond, criado por Takehiko Inoue, o mesmo autor de Slam Dunk.
Miyamoto ainda é visto com frequência em jogos que se passam no Japão Feudal, como nas franquias da Koei Tecmo Samurai Warriors e Nobunaga's Ambition. Quanto ao jogo da Square, o título recebeu uma sequência para o PlayStation 2 em 2005, chamada Musashi: Samurai Legend. No entanto, a drástica mudança no estilo visual causou muita estranheza e afastou o interesse deste redator.
Na época de seu lançamento, Brave Fencer Musashi foi bem recebido pelo público; no entanto, ele foi lançado no mesmo ano em que surgiram obras que moldariam gêneros de jogos 3D, o que de certa forma limitou seu alcance. O jogo também foi erroneamente comparado com The Legend of Zelda: Ocarina of Time, embora suas propostas fossem completamente diferentes.
Por que não um remake?
Brave Fencer Musashi foi lançado em um momento crucial na história dos videogames e conquistou seu lugar de destaque, mesmo que menor do que merecia. É um jogo que permanece incrivelmente divertido até hoje e que mereceria a atenção dos desenvolvedores nesta era de constantes remakes e remasterizações.
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli