Spyro the Dragon (PS): 25 anos do clássico estrelado pelo carismático dragão roxo

A primeira aventura de Spyro se tornou um dos melhores jogos do primeiro PlayStation, com algumas inovações técnicas notáveis.

em 09/09/2023
Os jogos de mascote encontraram novas possibilidades dentro do 3D, onde não só antigos rostos apareciam nesse mundo diferente, como figuras inéditas começaram a nascer e marcar o mundo dos videogames — positivamente ou negativamente — de formas únicas. Claro, não se compara à enxurrada vista durante a geração 16-bits, mas dá para dizer que foi a última grande era dos mascotes.

Em 1998, a Insomniac Games, que já havia desenvolvido um título em 1996, ficou encarregada de dar vida a uma nova IP da Universal Interactive Studios. Nascia Spyro the Dragon, que se tornaria uma  longeva franquia.  

O "parente" do Crash

A criação de Spyro guarda semelhanças com a de Crash Bandicoot, em que a Universal Interactive se encarregou do financiamento e da propriedade intelectual; a Insomniac desenvolveu o game e sua concepção de personagens e história; e a Sony ficou responsável pela publicação em sua plataforma.

Inicialmente, os conceitos relacionados a Spyro tinham uma atmosfera mais sombria. No entanto, na época, o mercado de jogos voltados ao público infantil estava em baixa no PlayStation e encontrava seu nicho no Nintendo 64, principalmente nos títulos da Rare e da própria Nintendo. Portanto, a ideia de uma direção mais colorida e atrativa foi adotada em detrimento da abordagem mais sombria para cobrir essa fatia em decadência.
Já houve crossover entre as duas franquias no GBA, apesar da baixa qualidade das produções.
A relação entre a Insomniac e a Naughty Dog, responsável pelos games do marsupial no PlayStation 1, tornou-se ainda mais próxima, já que ambas estavam sob o guarda-chuva da Universal. As duas desenvolvedoras começaram a compartilhar suas tecnologias e discutir produções, proporcionando ajuda mútua em seus projetos.

Após criar os três primeiros Spyro, da mesma forma que a Naughty Dog, a Insomniac seguiu em uma direção independente da Universal Interactive, que precisou continuar suas franquias com outras desenvolvedoras, resultando em produções de qualidade questionável.

O reido dos dragões é ameaçado

Spyro se passa em um mundo conhecido como Dragon Realms, dividido em cinco localidades que servem de cenário para a aventura e abrigam clãs específicos de dragões: Artisans, Peace Keepers, Magic Crafters, Beast Makers e Dream Weavers.

Há também um "sexto mundo" neste universo, dominado pelo antagonista Gnasty Gnorc, uma criatura que é uma fusão de gnomo com orc e foi banida de seu próprio mundo. Ele fica profundamente ofendido ao tirarem sarro dele durante uma entrevista de TV, e passa a buscar vingança.

Através de um feitiço, o vilão transforma todos os habitantes do reino em estátuas de cristal, incluindo seus tesouros e ovos, e alguns desses tesouros são transformados em monstros para dar início ao seu plano de conquista do reino.

É nesse cenário que surge Spyro, um jovem dragão que foi ignorado pelo antagonista por ser muito baixinho, mas que acaba sendo o único capaz de derrotar Gnasty Gnorc, restaurar a paz em seu lar, trazer de volta toda a população e recuperar tudo o que foi roubado com a ajuda de seu companheiro, a libélula Sparx.

Todo o título possui dublagem de boa qualidade dentro da temática, destacando as características únicas de cada dragão, inclusive a personalidade curiosa e energética do próprio protagonista.

A vastidão de um mundo 32-bits

Spyro the Dragon se enquadra no subgênero collectathon, jogo de plataforma centrado na exploração das fases em busca do objetivo principal e de outros itens colecionáveis secundários que são necessários para desbloquear o final verdadeiro.

Cada mundo atua como um hub que abriga cinco fases, e em todos esses locais estão espalhados os dragões cristalizados que servem como o principal item para colecionar. Ao tocá-los, eles são imediatamente libertados e fornecem dicas a Spyro, seja sobre os controles, as tarefas a serem realizadas, ou apenas agradecendo pela ajuda.

Ao longo do caminho, há tesouros, como joias — que também podem ser obtidas derrotando inimigos — e ovos de dragão, que exigem perseguir um ladrão para coleta-los. Para ir de um mundo a outro, Spyro precisará coletar uma quantidade específica de joias ou dragões resgatados, o que o levará a outro local por meio de um balão, já que ele não pode voar.

A característica principal da gameplay é justamente essa falha aérea do nosso pequeno herói, pois é nela que reside o principal movimento de mobilidade: planar. Dominar o controle do planeio é essencial para alcançar muitos dos colecionáveis, já que a maior parte dos desafios de plataforma está concentrada nessa mecânica, considerando a anatomia quadrúpede de Spyro quando está no chão.

Para enfrentar os monstros que assolam Dragon Realms, o jogador pode atacar com uma investida em alta velocidade e um sopro de fogo. A efetividade dessas habilidades varia entre as criaturas, já que algumas estarão protegidas por armaduras e escudos de ferro, impedindo o uso do fogo, enquanto a maioria são alvos perfeitos para uma cabeçada draconiana — que também ajuda em pousos mais precisos durante a planagem.

Draw distance inteligente

As fases e hubs que o jogador visita durante a aventura são notavelmente expansivos para os padrões do PlayStation. É verdade que o design dos níveis não atinge a mesma complexidade encontrada em títulos como Banjo-Kazooie (N64), mas vale ressaltar que esse tipo de level design era menos comum na biblioteca do console, e os que existiam enfrentavam um desafio naquela geração: o draw distance, a área do jogo que o hardware conseguia renderizar dentro de suas limitações.

A Insomniac, ciente das limitações de memória RAM da plataforma, desenvolveu um motor gráfico que abordou essa questão de forma elegante: o que está próximo da visão de Spyro é detalhado e modelado com o máximo de qualidade possível, enquanto o que está distante possui menor detalhamento poligonal e carece de texturas, que são carregadas gradualmente de acordo com a proximidade. Dessa forma, a necessidade de usar névoa ou de renderizar o cenário de forma explícita não é necessária, com todos os elementos podendo ser vistos a distância e beneficiando a habilidade de planar do protagonista.

Essa técnica foi uma grande novidade na época e passou a ser abraçada, continuando a ser utilizada até os dias de hoje.
O visual é construído com base nesse sistema de renderização, tornando Spyro the Dragon um dos jogos mais visualmente impressionantes do PS1 e também um dos mais vibrantes em termos de cores. É uma das poucas criações dessa geração que não recorre a elementos 2D como árvores para compor os cenários, já que tudo é feito em polígonos — até mesmo os elementos de interface, como textos.

A trilha sonora é notavelmente caracterizada por uma forte ênfase na percussão, em um estilo que remete à sonoridade medieval e nórdica, o que se encaixa perfeitamente com a ambientação do universo do jogo. Há várias faixas memoráveis, sendo o tema principal uma das mais marcantes.
 

O rugido do pequeno dragão

Spyro the Dragon faz parte da Spyro Reignited Trilogy, uma coleção que traz remakes dos três jogos originais do PS1, com visuais completamente reimaginados, trilhas sonoras recriadas e jogabilidade mais refinada, tornando o controle da primeira aventura mais semelhante ao das suas sequências. Essa trilogia é a forma mais acessível de experimentar esses games e está disponível para PS4, Xbox One, Switch e PC. No entanto, a versão original ainda pode ser jogada no bom e velho PS1.

Começando com grande destaque tanto em crítica quanto em vendas, Spyro the Dragon foi o primeiro de uma franquia icônica na indústria, introduzindo um personagem extremamente carismático e único e colocando a Insomniac Games como um dos principais estúdios da indústria. É um título que vale a pena revisitar até hoje, seja por meio do remake ou pelo original.




Revisão: Davi Souza

Estudante de enfermagem de 25 anos, está nesse mundo dos joguinhos desde criança. Fã de games com vibe mais arcade e arqueólogo de velharias, mas não abandona experiências mais atuais. Acompanha a mídia de podcasts, dublagem e ouvinte assíduo de VGM. Pode ser encontrado como @AlecFull e semelhantes por aí.
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