Pensando nisso, a desenvolvedora independente Jess Yu, também conhecida como pank0, criou Usagi Shima, que chegou à App Store (iOS) e à Google Play (Android) no início no início deste mês. Trata-se de um simulador fofinho no qual tudo o que precisamos fazer é interagir com os coelhinhos que aparecem na ilha conforme a decoramos ao nosso gosto.
A ilha dos coelhos
A história de Usagi Shima é bastante simples: o jogador, referido como Cuidador, chega a uma ilha deserta e tem como missão reconstruir o local com estruturas, vegetação e brinquedos para atrair coelhos. Assim que o jogo é iniciado, um básico tutorial mostra as principais funcionalidades, sendo a principal missão construir a loja de Dango, um coelhinho residente da ilha.
Após esse início, tudo o que resta ao Cuidador é esperar os futuros lagomorfos chegarem. Ao todo, são 30 desses bichinhos fofos (fora os NPCs), das mais variadas cores, formas e personalidades, que chegam à ilha atraídos por objetos e estruturas de seu interesse. Alguns desses itens, inclusive, são interativos, como lâmpadas que acendem durante a noite, e mais decorações ficam disponíveis na loja conforme novos visitantes são acolhidos.
Todos os coelhinhos ficam registrados no Livro dos Coelhos (Bunbook), uma espécie de catálogo com suas principais características, nível de afeição em relação ao jogador, itens favoritos e mais. Quando um orelhudinho (OK, nem todos são) chega ao nível máximo de amizade, ele deixa uma lembrança (keepsake) para o Cuidador, que pode ser usada para decorar a ilha.
Além disso, podemos convidar até três coelhos com os quais atingimos afeição máxima para serem moradores permanentes da ilha, embora, na minha opinião, esse número seja um pouco limitado. Contudo, não existe nenhum tipo de penalidade ao “expulsar” um deles para convidar outro — no fim das contas, é como se fosse apenas um botão de “liga/desliga”, pois os bichinhos sempre voltam.
Interagindo com os coelhinhos
O Cuidador tem cinco atividades principais: acarinhar os coelhinhos, escová-los, tirar fotos, brincar de pique-esconde com eles e alimentá-los. Para saber qual orelhudinho demanda determinada ação, um ícone com a respectiva carinha aparece na parte inferior da tela e tudo o que precisamos fazer é clicar nele para sermos redirecionados ao coelho específico.
Além de ganhar afeição por interagir com os bichinhos, o Cuidador recebe cenouras, que funcionam como moeda in-game em Usagi Shima. Com elas, tem-se acesso a novos itens e decorações, porém as estruturas precisam ser compradas com cenouras douradas.
Para obtê-las, existem duas maneiras principais: completar as missões diárias ou comprá-las na loja de presentes por dinheiro real. Como modos alternativos, às vezes é possível encontrar as cenouras douradas a esmo na ilha ou recebê-las como recompensa dos coelhos ao interagir com eles (ou como gorjetas).
Por ser Usagi Shima um jogo incremental (ou idle game, termo mais utilizado), o jogador não precisa ficar o tempo todo no aplicativo. Existem, porém, alguns pontos que devem ser levados em consideração: todos os dias, à meia-noite (no fuso horário do jogador), começa um novo dia e, com isso, a recompensa e as missões diárias são atualizadas; os itens da loja mudam a cada seis horas, totalizando quatro rotações por dia; e a caixinha de gorjetas (tip jar) deve ser esvaziada com certa frequência, pois só guarda dez registros por vez.
Há também uma lista de conquistas baseadas nas atividades realizadas no jogo, que variam de fazer amizade com um número específico de coelhinhos a atingir o ranque de melhor amigo com todos eles. Essas recompensas também são diversas, podendo ser cenouras, cenouras douradas e até mesmo itens de decoração.
Infelizmente, existe um limite de fotos que podem ser salvas. Quando o álbum fica cheio, é necessário mover manualmente as imagens para a página individual de cada coelhinho ou apagá-las, não existindo essa opção no momento de tirar uma nova foto.
Também entra como ponto negativo não saber quais itens e estruturas atraem certos coelhos, então investir nessas decorações acaba sendo um exercício de tentativa e erro. Levando em consideração que alguns itens requerem cenouras douradas para serem comprados, gastá-las a esmo pode desmotivar o jogador.
A simplicidade que cativa e vicia
Apesar de ser desenvolvido por uma única pessoa, Usagi Shima traz uma gama de ilustrações de qualidade ímpar, muito fofas e animadas, mostrando o carinho e a dedicação que pank0 colocou em sua criação. Todos os coelhinhos são distinguíveis entre si, fazendo com que as atividades sejam sempre prazerosas e divertidas.
A trilha sonora também contribui para uma atmosfera cativante e aconchegante enquanto interagimos com os visitantes curiosos e os vemos brincar, dormir e até pescar ou comer lámen. Claro que, na vida real, coelhos não devem comer bolinhos de arroz e sanduíches, muito menos passar um tempo em fontes termais, mas adicionar essas atividades ao repertório dos bichinhos traz um quê de fantasia bem-vindo.
Além disso, Usagi Shima conta com suporte a diversos idiomas, sendo o português brasileiro um deles. Contudo, por se tratar de um game mais visual e gestual, com pouquíssimos textos, essa configuração pode ser vista mais como um ponto de acessibilidade para um público mais jovem, como as crianças.
Algumas ressalvas inofensivas que merecem atenção
Com tudo sendo muito convidativo e colorido, é fácil perder a noção do tempo ao interagir com os coelhinhos. Isso pode ser especialmente preocupante quando temos várias atividades simultâneas — e até mesmo uma lista de conquistas — para serem realizadas, aumentando consideravelmente o tempo de exposição à tela.
Outro ponto que merece ser mencionado é o fato de que o jogo, apesar de gratuito, possui microtransações. Embora os preços não sejam abusivos, é totalmente desaconselhável deixar o acesso à loja de aplicativos habilitado para crianças para evitar sustos na fatura do cartão de crédito.
Ainda neste contexto, Usagi Shima conta com um sistema de anúncios para agilizar alguns ganhos in-game, como assistir a vídeos para construir uma estrutura mais rapidamente ou dobrar as recompensas recebidas. Dessa maneira, a melhor saída pode ser comprar o pacote de suporte à desenvolvedora para remover ads e ter acesso a uma experiência mais “limpa”, por assim dizer.
Uma carta de amor aos coelhos
Usagi Shima traz em sua simplicidade um passaporte mais que bem-vindo para uma experiência colorida e aconchegante em uma ilha povoada por coelhinhos fofinhos e diferentes. Mesmo com algumas ressalvas importantes, especialmente a existência de microtransações, ele é relaxante o suficiente para funcionar como uma válvula de escape de um mundo conturbado e sempre apressado; inclusive, se aproveitado em doses homeopáticas e sem muitas pretensões, pode ser uma ótima fonte de serotonina.
Minha "Usagi Shima" na vida real possui apenas um residente, o Inaba |
Prós
- Muitos coelhos fofinhos para catalogar e interagir;
- Diversos itens decorativos, bem como estruturas para construir e atrair os bichinhos;
- Experiência totalmente casual e ditada pelo ritmo do jogador;
- As atividades são mais gestuais e visuais, fazendo com que o jogo seja acessível a todos os públicos;
- Atmosfera aconchegante, com artes, músicas e efeitos sonoros simples, mas imersivos e cativantes;
- O português brasileiro é um dos idiomas disponíveis.
Contras
- O acesso às microtransações deve ser limitado para as crianças;
- A presença de anúncios pode se tornar incômoda depois de um tempo;
- Limite de apenas três coelhos que podem se tornar residentes permanentes da ilha;
- Não existe a opção de apagar ou mover fotos no momento de tirar novas, caso o álbum esteja lotado;
- Sem indicação de itens e estruturas favoritos de cada coelhinho, fazendo com que eles apareçam aleatoriamente e levando o jogador a gastar recursos com tentativa e erro.
Usagi Shima — Android/iOS — Nota: 8.5Versão utilizada para análise: Android
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia adquirida gratuitamente pela redatora