Desenvolvido pela Amplitude Studio e publicado pela SEGA, Humankind é um jogo de estratégia 4X (explorar, expandir, extrair, exterminar) que estreou originalmente no PC em 2021. Agora disponível em todas as plataformas, com exceção do Switch, trata-se de um título repleto de conteúdo e qualidades, mas que enfrenta desafios na adaptação para consoles.
Diversas civilizações em diferentes épocas
Em Humankind, nossa jornada começa modestamente com uma pequena tribo na era neolítica. À medida que progredimos e cumprimos os requisitos para avançar para a próxima época, ganhamos a oportunidade de escolher uma nova nação.
O diferencial marcante e o ponto forte deste título da Amplitude residem na liberdade de escolha cultural. A cada novo período, podemos optar por adotar outra civilização, possibilitando assim uma mistura fascinante de recursos e habilidades de cada cultura. Neste contexto, o jogo oferece dezenas de povos distintos e abrange sete eras: Neolítica, Antiga, Clássica, Medieval, Moderna, Industrial e Contemporânea.
Para avançar uma temporada, precisamos acumular Estrelas da Era, que são conquistadas ao cumprir requisitos específicos, como aquisição de determinado valor de ciência, influência, postos avançados ou riqueza. Embora sete estrelas sejam necessárias para prosseguir para o próximo tempo, cada idade possui mais delas disponíveis, o que pode ser um motivo para o jogador permanecer por mais tempo na época em que está, já que as estrelas podem fornecer novas habilidades e garantir mais Glória.
Influência e estabilidade
Como é típico neste gênero, todas as ações ocorrem em turnos. Nesse sentido, nossa movimentação acontece em um mapa dividido em hexágonos, cada um com diferentes tipos de recursos a serem explorados. Portanto, cabe ao jogador identificar os locais ideais para construir estruturas e distritos que gerarão alimentos, minérios e riquezas.
Para reivindicar uma região, é necessário estabelecer um posto avançado, que pode ser posteriormente transformado em uma cidade. No entanto, a construção dessas estruturas requer influência, um recurso fundamental para a vitória e que pode ser adquirido de várias maneiras. Para exemplificar, algumas construções e heranças de uma civilização escolhida durante a transição de eras podem fazer com que um território específico produza mais influência a cada turno.
Além de ser fundamental para reivindicar novas zonas e urbanizá-las, esse recurso é usado em outras ações importantes, como promulgar Cívicos, sistema que veremos mais adiante. Quanto mais desse valor geramos a cada turno, maior será nossa esfera de influência, permitindo que tentemos a incorporação de regiões vizinhas que estão sendo afetadas pela influência do nosso império, seja por meio da guerra ou da diplomacia.
As batalhas também seguem o sistema de turnos e ocorrem quando dois grupos se encontram no mapa, independentemente das nações estarem ou não em guerra. É digno de nota que o jogo oferece a opção de deixar que os confrontos fiquem automáticos ou de resolvê-los instantaneamente, com um indicador sempre fornecendo as nossas chances de vitória.
Outro elemento crucial é a estabilidade, que representa o controle que temos sobre uma cidade. Alguns distritos podem gerar benefícios, mas também podem reduzir a estabilidade, tornando esse aspecto um fator crítico a ser considerado, pois um território instável pode impedir a construção de novas estruturas e aumentar o risco de revoltas.
Em suma, esses dois sistemas tornam a construção de cidades, distritos e estruturas um processo complexo e desafiador, demandando maior atenção dos jogadores. Apesar de não ser o jogo mais amigável para iniciantes, o título oferece tutoriais (um pouco maçantes) e está completamente legendado em português, o que pode ser de grande ajuda.
Rico em muitos aspectos
Em Humankind, a vitória é conquistada pelo grupo que acumular mais Glória ao final dos turnos. Esse é outro elemento que pode ser adquirido de diversas formas diferentes, como vencer guerras, conquistar algumas espécies de tecnologias, descobrir maravilhas da natureza e construir monumentos culturais.
É importante mencionar que o título oferece a possibilidade de personalizar nossa experiência de jogo. Além da dificuldade, os jogadores podem selecionar aspectos como o número de facções, duração dos turnos e os requisitos para o fim de uma partida, que, além dos turnos, variam entre opções como aniquilação de outras nações ou enviar o homem à lua. Esse nível de customização se estende ao modo online, que permite até oito jogadores em uma partida.
Durante a jornada, enfrentamos situações específicas que demandam escolhas, como decidir entre o uso de gatos ou furões para lidar com uma infestação de ratos ou determinar o destino de um grupo com conotações proféticas. Essas escolhas têm impacto direto em nossa governança, com cada uma delas possuindo pontos positivos e negativos.
Outro aspecto fascinante que molda a nação é a mecânica de Cívicos, que funcionam como costumes e leis. Cada cívico oferece duas opções que influenciam todos os aspectos da sociedade, incluindo economia, religião e exército.
Essas alternativas surgem quando algum evento especial acontece no jogo, como o encontro com um povo independente que controla alguma região ou o aumento demasiado da religião em uma determinada área. Dessa forma, as opções de cívicos com que nos deparamos podem ser diferentes a cada nova jogada.
Com uma ampla variedade de nações e a diversidade de táticas personalizáveis, além de eventos imprevisíveis, Humankind oferece uma jogabilidade rica, envolvente e viciante, sendo uma excelente opção para entusiastas do gênero. Ainda vale mencionar que a edição de consoles inclui alguns DLCs, dentre os quais merecem destaque o Cultures of Africa e o Cultures of Latin America, que adicionam diversos novos recursos como povos, eventos, maravilhas naturais e culturais e músicas.
Problemas de adaptação
Todos os elementos mencionados até agora poderiam tornar Humankind uma adição excepcional aos consoles, não fosse por sua adaptação problemática. Infelizmente, o título da SEGA é mais um exemplo de que migrar um jogo concebido para o uso do mouse requer mais do que simplesmente mapear comandos para os botões disponíveis de um controle.
Humankind é repleto de mecânicas e informações, muitas das quais poderiam estar agrupadas em um único sistema de navegação ao invés de distribuídas em vários botões. Para ilustrar o problema, há pelo menos cinco funções que exigem combinações diferentes de dois botões para serem acessadas. Esse aspecto prejudica demais a jogabilidade, pois os menus se tornam pouco intuitivos e de difícil memorização.
Embora não seja um 4X, Nobunaga's Ambition: Awakening possui tantos recursos e possibilidades quanto qualquer jogo do gênero e, graças à sua excelente interface, é um perfeito exemplo recente de que esse nicho de estratégia e gerenciamento pode funcionar muito bem em consoles.
Um excelente jogo, mas idealmente feito para PC
Humankind é, inegavelmente, um título rico em conteúdo e um grande representante de seu gênero. No entanto, infelizmente, sua adaptação inadequada para os consoles fazem com que ele seja mais um exemplar da estante de obras que, talvez, devessem ter permanecido apenas no PC.
Prós:
- A possibilidade de escolher diferentes civilizações e misturá-las ao longo das eras proporciona uma experiência de jogo diversificada;
- Mecânicas que envolvem influência e estabilidade adicionam profundidade estratégica, exigindo decisões ponderadas do jogador;
- A capacidade de personalizar a partida, incluindo dificuldade e condições para o término, oferece flexibilidade aos jogadores;
- Legendado em português.
Contras:
- Pouco convidativo para iniciantes, com tutoriais um pouco maçantes;
- A adaptação para consoles é extremamente deficiente, com menus e comandos pouco intuitivos e de difícil memorização, o que prejudica demais a jogabilidade.
Humankind — PC/PS4/PS5/XBO/XSX — Nota: 6.5Versão utilizada para análise: PS4
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela SEGA