Análise: Double Dragon Gaiden: Rise of the Dragons (Multi) oferece pancadaria ágil, porém desequilibrada

A nova aventura dos irmãos Lee tem algumas ideias notáveis, mas escolhas duvidosas comprometem a jornada.

em 03/08/2023

Em Double Dragon Gaiden: Rise of the Dragons, os irmãos Billy e Jimmy Lee e seus amigos precisam descer o sarrafo em gangues que assolam a cidade de Nova York. O jogo resgata conceitos clássicos de beat ‘em ups e os moderniza com mecânicas interessantes, como a possibilidade de alternar entre dois heróis, muitos combos ágeis e elementos de roguelike. A pancadaria é eletrizante, porém problemas consideráveis atrapalham a experiência.

Quebrando tudo em dupla

Como todo beat ‘em up clássico, Double Dragon Gaiden é simples de entender em um primeiro momento: basta andar e atacar todos que aparecem pelo caminho. Além dos golpes normais, os heróis contam com técnicas especiais poderosas que, quando ativadas nos momentos certos, resultam em combos elaborados — com um pouco de perícia, é possível acertar inimigos repetidamente no ar.


Uma mecânica única em Gaiden é que selecionamos dois personagens e podemos alternar entre eles durante as partidas. Além de oferecer variedade entre os estágios, o sistema é estratégico, permitindo criar sequências de golpes com lutadores diferentes. Os heróis têm estilos bem distintos: Billy e Jimmy golpeiam com chutes e socos, respectivamente; Marian usa pistolas e outras armas de fogo para acertar inimigos de longe, já Uncle Martin agarra e lança oponentes uns nos outros.

Dominar os personagens e suas particularidades é essencial, pois os estágios estão infestados de inimigos que atacam em grupos. Por causa disso, raramente golpear de qualquer jeito funciona, então é importante pensar com cuidado. Inclusive, há um incentivo para usar as habilidades de forma inteligente: itens de recuperar vida são escassos, no entanto mais deles surgem ao derrotar três ou mais oponentes com um único golpe especial. Esse conceito cria uma dinâmica interessante focada em acabar com grupos de uma só vez.



Dominando habilidades para acabar com gangues

Fui surpreendido com a variedade do combate de Double Dragon Gaiden, apesar da simplicidade inata do gênero. No começo, parece que basta fazer o combo básico para avançar, mas a quantidade crescente de inimigos nos força a usar os outros recursos sempre que possível. Com isso, aos poucos, fui aprendendo a fazer sequências mais elaboradas, misturando saltos, ataques básicos e técnicas especiais para dar conta de grandes grupos de inimigos.

De longe, minha característica favorita no jogo é o estilo único de cada herói. No total, há mais de dez personagens jogáveis, incluindo chefes, e é impressionante como eles são bem diferentes entre si. Além disso, poder alternar entre dois lutadores traz dinâmicas interessantes, como montar uma dupla cujas características se complementam. Particularmente, apreciei os agarrões de Uncle Martin para acabar com grandes grupos de uma vez, gostei de usar os ataques rápidos com a espada de Lady Okada e os combos técnicos de Billy e Jimmy Lee.


Beat ‘em ups são meio repetitivos e Double Dragon Gaiden não é diferente, afinal a variedade de inimigos é pequena, por mais que o andamento ágil amenize essa sensação. Porém, o jogo tem alguns problemas irritantes em seus sistemas. Para começar, não há defesa, esquiva ou quadros de invencibilidade ao usar especiais, então é fácil ser interrompido durante os combos. Isso cria uma situação chata: é muito difícil escapar de sequências de ataques dos inimigos e, nos momentos mais frenéticos, isso acaba resultando em morte.

Para piorar, alguns movimentos são demasiadamente travados ou lentos, como certos golpes aéreos que deixam os heróis completamente abertos. Some isso a oponentes extremamente ágeis e a pouca possibilidade de revidar e temos como resultado situações frustrantes. Esse tipo de coisa é ainda mais irritante nos chefes mais avançados, que escapam dos nossos golpes com extrema facilidade, interrompem nossos combos e contra-atacam com sequências devastadoras.



Em uma aventura criativa, mas problemática

A estrutura da campanha de Double Dragon Gaiden é bem curiosa. Quatro estágios estão disponíveis, porém eles se alteram de acordo com a ordem em que escolhemos completá-los: a primeira missão tem uma única área e menos inimigos, já a terceira e a quarta contam com três trechos, novos tipos de oponentes e chefes mais complexos. Ou seja, basta escolher uma ordem diferente de estágios em cada partida para deixá-las mais distintas. A campanha dura pouco mais de uma hora e a intenção é completá-la várias vezes.

Leves elementos de roguelike tentam trazer variedade à campanha. No fim de cada área, podemos comprar melhorias para os personagens, como aumento de força de alguns ataques ou diminuição do custo de técnicas especiais. O dinheiro acumulado ao final da jornada é convertido em fichas, que são utilizadas para desbloquear recursos, como novos personagens jogáveis e artes conceituais. Por fim, há opções para customizar o desafio para mais ou para menos — quanto maior o risco, maior será o ganho de fichas.


No papel, essas decisões parecem ótimas, atacando a repetitividade do gênero. No entanto, elementos desbalanceados acabam gerando o efeito contrário. A ideia de tornar as fases progressivamente mais complexas é criativa, porém a dificuldade é completamente desequilibrada: a partir do terceiro estágio, o desafio sobre vertiginosamente, resultando em frustração. Fora isso, certas versões finais dos chefes são demasiadamente poderosas e irritantes.

Os estágios também têm problemas de design. Há uma tentativa nobre de tentar trazer algo diferente dos tradicionais corredores simples de beat ‘em ups, mas a implementação ficou devendo. Certas áreas avançadas apresentam trechos de plataforma que são mais desagradáveis do que deveriam devido à péssima movimentação aérea dos personagens. Há também alguns perigos irritantes, como uma área praticamente toda escura em que é complicado enxergar inimigos e armadilhas.


Devido a todos esses detalhes, selecionar a ordem dos estágios se torna uma simples tarefa de evitar os trechos desagradáveis, como a parte cheia de buracos no QG dos Okada ou não enfrentar a versão mais poderosa de Willy Metranca. Como roguelike, o jogo também falha: as melhorias disponíveis entre as fases não têm impacto e os estágios não mudam entre as partidas. Para piorar, liberar personagens e outros conteúdos exige grinding, pois muitos dos itens têm alto custo em fichas.

Mesmo assim, me diverti com Double Dragon Gaiden. Passada a curva de aprendizado inicial, fui capaz de fazer longos combos e finalizações impressionantes com ataques especiais. Apreciei também testar as possibilidades dos vários personagens, cujas características próprias mudam sensivelmente o ritmo de jogo. Com o tempo, até consegui lidar melhor com as mecânicas mal pensadas do combate, por mais que a chateação aparecesse de vez em quando. Torço para que os defeitos sejam corrigidos no futuro.



Uma pancadaria de alguns bons momentos

Double Dragon Gaiden: Rise of the Dragons é um beat ‘em up que não tem medo de arriscar, apesar de acabar se perdendo no meio do caminho. O destaque está no combate, que nos desafia a combinar ataques normais e técnicas especiais enquanto alternamos entre heróis para criar combos impressionantes. Além disso, muitos personagens jogáveis distintos e estágios que mudam conforme a ordem de seleção oferecem muitas possibilidades nas partidas.

Contudo, a execução mediana de muitas das ideias atrapalha a jogatina: falhas no sistema de luta criam situações injustas, os elementos de roguelike são irrelevantes, alguns estágios têm recursos mal pensados e a dificuldade é desequilibrada. Isso, em conjunto à repetitividade, resulta em uma experiência que às vezes é irritante.

No mais, Double Dragon Gaiden: Rise of the Dragons tem lampejos de criatividade com trechos ágeis e divertidos, só é necessário estar disposto a encarar seus tropeços.

Prós

  • Sistema de luta ágil e com boas possibilidades de combo;
  • Muitos personagens com mecânicas distintas para dominar;
  • Ideias criativas na estrutura da campanha trazem um pouco de rejogabilidade.

Contras

  • Problemas nas mecânicas de combate criam situações injustas;
  • Campanha repetitiva e com dificuldade desbalanceada;
  • Estágios com trechos mal pensados, como os momentos de plataforma.
Double Dragon Gaiden: Rise of the Dragons — PC/PS4/PS5/XBO/XSX/Switch — Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Modus Games

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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