Desenvolvido pela Crackshell e publicado pela Modus Games, Hammerwatch II é um RPG de ação que se passa em um mundo de fantasia medieval. Nele, assumimos o papel de um herói com o objetivo de salvar o reino de Herian da influência de Pestilento, o Horrível, e seu exército de dragões, que conseguiram destronar o Rei Roland e causar devastação.
Encarnando um valente membro de um movimento de resistência, você pode lutar tanto sozinho quanto na companhia de até três companheiros de armas, com o intuito de libertar o mundo e restaurar a paz. Com uma premissa clichê, porém adequada para esse tipo de enredo, na análise a seguir vamos saber se foi uma decisão acertada deixar de lado uma bela caneca de bebida na taverna e embarcar nessa campanha.
Em meio a um mundo belo e confuso
A história de Hammerwatch II começa imediatamente após a conclusão de seu antecessor, Hammerwatch. Decorre um período de 10 anos entre esses dois capítulos da narrativa, durante o qual a equipe da Crackshell desenvolveu a história, que é essencialmente apresentada por meio de descrições de missões e diálogos com os habitantes de Herian. O primeiro jogo recebeu uma atualização com o lançamento da sequência, que trouxe melhorias nos gráficos, na jogabilidade e no suporte a mods, deixando-o com características que também estão presentes no título mais recente e alinhando a experiência dos dois títulos.Apesar desse detalhe, que pode ser de interesse apenas para os aficionados pelo universo de Hammerwatch, é importante esclarecer que não há um meio de transferir o progresso do primeiro jogo para a sequência, devido às diferenças significativas entre as experiências de jogo.
Ao iniciar uma nova campanha, o jogador pode escolher entre cinco classes de personagens para criar sua persona no jogo: Paladino, Ladino, Mago, Bruxo ou Patrulheiro. Cada classe possui habilidades e técnicas únicas que podem ser aprimoradas à medida que o jogador avança de nível e obtém equipamentos com características especiais.
Conforme sobe uma quantidade de níveis, sua proficiência na classe escolhida pode ser aumentada ao treinar com mentores nas principais localidades do mundo e liberando novas habilidades, passivas ou não, para deixar seu herói mais forte — fazendo desse um dos maiores estímulos para a jogatina.
Independentemente de jogar sozinho ou com até três jogadores em um ambiente online, a nossa tarefa é explorar o reino de Herian para completar várias missões em troca de novos equipamentos, dinheiro, pontos de experiência e promessas de momentos memoráveis ao longo da grande jornada em Hammerwatch II.
Um rolê complicado
No entanto, apesar de parecer convidativa, a experiência de Hammerwatch II, na prática, revela um ritmo cansativo e, em certos momentos, torna-se monótona. Os visuais em pixel art, elaborados com esmero e oferecendo uma ampla gama de ajustes visuais, assim como a trilha sonora composta de forma apropriada para uma campanha de RPG de mesa, muitas vezes conseguem aliviar a falta de interesse do jogo.Feitas essas breves pontuações positivas, vamos abordar as diversas características que contribuem para a nossa experiência em Hammerwatch II beirar o desagradável, começando pela progressão da história, que se desenrola de maneira extremamente lenta e apresenta um desenvolvimento superficial e pouco envolvente.
Com exceção da cutscene inicial, que nos proporciona um breve prólogo sobre os desfechos do jogo anterior e estabelece o início de nossa aventura em uma masmorra, o restante da narrativa se desenrola por meio de balões de diálogo com os habitantes de Herian e das anotações em nosso diário de viagem. Se você entrou nessa pela história, aceite que “deu ruim”.
A cada nova localidade explorada, podemos interagir com os moradores ou viajantes para obter informações e, em grande parte dos casos, receber nossas missões. Cheguei a um ponto em que tinha cerca de uma dezena de missões pendentes, incluindo a principal. Ficou evidente que é esse tipo de dinâmica que orienta nossa exploração pelo mapa do jogo, mesclando o sentimento de aventura com a sensação de "Para onde devo ir agora?".
No entanto, a navegação se mostra bastante ineficaz. A ausência de um minimapa na tela nos deixa dependentes da ativação (ou não) de um mapa semitransparente que ocupa toda a tela, proporcionando uma noção mínima do entorno para nos auxiliar nas explorações.
Essas explorações frequentemente nos levam a masmorras repletas de inimigos, mas com escassas recompensas. Cada masmorra na qual entrei deixou uma sensação de que investi muito tempo lá dentro, mas obtendo ganhos mínimos. Além disso, a reciclagem de elementos visuais frequentemente nos faz sentir como se já tivéssemos estado naquele local anteriormente.
A economia do jogo também apresenta desafios na administração de nosso inventário. Cada mercador segue regras específicas para comprar e vender itens. Essas regras podem envolver a presença de atributos específicos nos itens para venda, como veneno ou queimadura, ou a aquisição de itens de determinada classe ou raridade.
Além disso, os mercadores têm recursos financeiros limitados para negociar conosco. Se você jogou The Witcher 3, certamente reconhecerá a situação clássica em que você possui um item de grande valor, mas não pode vendê-lo para adquirir itens melhores porque o mercador está sem grana para te pagar por ele.
Porém, de todos os detalhes que tornam a experiência de jogo um tanto enfadonha, um se destaca como verdadeiramente problemático: o controle. Embora apresente uma jogabilidade concisa, dominá-la exige um investimento significativo de tempo e inúmeras tentativas por parte do jogador.
Hammerwatch II pode ser jogado tanto com o tradicional mouse e teclado quanto com gamepads. Como tenho mais familiaridade com consoles, naturalmente conectei um controle para jogar e tive uma experiência extremamente frustrante.
Ao verificar a disposição dos botões, percebi que nem todas as funções eram atribuídas automaticamente, o que me obrigou a atribuir os comandos ausentes a botões que já poderiam ser usados de modo automático para essas funções, como os atalhos para o uso de poções no D-pad.
Tive a impressão de que a equipe da Crackshell desenvolveu a jogabilidade de modo que atenda os dois modos, mas com a interface de usuário priorizando aqueles que jogam com mouse e teclado, lembrando no último momento a necessidade de suporte para controles, especialmente considerando o lançamento futuro do jogo para consoles.
Embora tenha persistido em usar o gamepad durante a minha jogatina, precisei recorrer ao mouse para interagir com os menus. Mesmo sendo incômodo, foi a solução que encontrei para jogar de maneira mais confortável.
Cooperar é preciso, e também limitado
Conforme mencionado anteriormente, uma outra característica de Hammerwatch II é a opção de jogar em modo online, permitindo grupos de até quatro jogadores simultaneamente. Em teoria, é simples: criar um lobby, convidar amigos e iniciar a sessão de jogo. O mesmo vale para quem deseja jogar com jogadores aleatórios pela rede, bastando verificar os lobbies disponíveis e se unir a um grupo.Contudo, algumas regras se aplicam a essa modalidade, o que, de certo modo, restringe a experiência para quem opta pelo modo online. Quando testei essa funcionalidade, fui surpreendido ao descobrir que não é possível usar o mesmo personagem com o qual havia jogado por horas no modo solo para o jogo online.
Outra regra específica para o modo online é que somente o jogador que hospeda a sala tem a capacidade de salvar o progresso. Isso torna a experiência um tanto complexa para aqueles que jogam de forma mais dedicada sem um grupo fixo e organizado. Em uma situação ideal, reúna seus amigos, determinem o anfitrião para garantir o progresso da campanha e então deem início a sua jornada.
Caso contrário, se você busca jogar aleatoriamente com pessoas pela Internet, deverá procurar uma sala e esperar não ser expulso pelo anfitrião. Você ainda terá a vantagem de que seu personagem estará no mesmo nível do líder do grupo e poderá alocar pontos de habilidade em seu herói para construir uma build personalizada e assim se juntar à campanha em andamento. Embora não seja a experiência ideal, é “o que temos para hoje”.
Confesso que eu queria ter gostado mais
Hammerwatch II tem seus méritos, especialmente em seus visuais em pixel art elaborados e na possibilidade de jogo em grupo online. No entanto, as limitações presentes na progressão da história, a navegação pouco eficaz e a complexidade da economia podem prejudicar o prazer do jogo. A experiência online também traz desafios com suas regras específicas.Para os fãs de RPGs de ação e jogos de fantasia medieval, Hammerwatch II pode ser uma opção a ser considerada, mas é importante estar ciente das possíveis frustrações que podem surgir devido aos aspectos menos polidos da jogabilidade. Uma experiência com um misto de altos e baixos, na qual os visuais e a atmosfera cativante podem lutar contra as limitações que podem tornar a jornada menos atraente.
Prós
- Os visuais em pixel art e a trilha sonora contribuem para a atmosfera do jogo, alinhando-se bem à temática de fantasia medieval;
- Multiplayer cooperativo online, mesmo com limitações, é um atrativo;
- A variedade de classes permite experimentações constantes na hora de jogar.
Contras
- Narrativa com progressão lenta e com desenvolvimento raso que pode afetar o interesse do jogador;
- A navegação pelo mapa é ineficaz, tornando a exploração desafiadora e cansativa;
- Atividades como a exploração de masmorras oferecem poucas recompensas em relação ao esforço investido, o que pode levar à frustração;
- A economia do jogo, com regras específicas para compra e venda de itens, pode confundir e tornar a administração do inventário complicada;
- O jogo online possui restrições, como a impossibilidade de usar o mesmo personagem do modo solo e a exigência de que apenas o host da sala possa salvar o progresso;
- A interface de usuário não favorece muito o uso de controles.
Hammerwatch II — PC — Nota: 6.0
Revisão: Ives Boitano
Análise produzida com cópia digital cedida pela Modus Games