Encarta MindMaze (PC): explorando um castelo e desvendando um mundo de conhecimentos

Conheça o peculiar jogo da Microsoft que acompanhou por mais de 15 anos uma das primeiras enciclopédias digitais para computadores.

em 29/07/2023
Muito antes da popularização da Internet, na transição entre as décadas de 1980 e 1990, os PCs começaram a adentrar os lares das famílias, sobretudo nos países do hemisfério norte. Múltiplas possibilidades surgiram com aquele novo equipamento, dentre elas a de poder obter conhecimentos da história do mundo, de ciências, geografia, artes e muito mais, sem precisar sair de casa.


Era a época do surgimento das enciclopédias eletrônicas, que, aliadas à capacidade de armazenamento do CD-ROM, permitiram ao grande público consultar em seus computadores vídeos, áudios, textos e imagens sobre diversos assuntos. Uma das primeiras enciclopédias eletrônicas de sucesso mundial foi a Encarta, lançada pela Microsoft em 1993.

Um dos desafios que os profissionais da educação costumam enfrentar até hoje é o de estimular os estudantes a obter novos conhecimentos de forma divertida. Se hoje já é bem definido o conceito de serious games que auxiliam nos processos de ensino, em parte isso deve-se à iniciativas como a da Microsoft, que, ao lançar a Encarta, acrescentou ao pacote um game educativo baseado nos conteúdos de sua enciclopédia. Dessa forma, foi criado Encarta MindMaze, presente nas versões em língua inglesa do software de 1993 até 2009.

Pelos corredores de um castelo

Em Encarta MindMaze, o jogador viaja aos tempos medievais e é convidado a percorrer as salas e corredores de um castelo repleto de conhecimentos, música e arte. Seu objetivo é chegar à sala final e se encontrar com os guardiões do castelo; para isso, em seu caminho deverá responder a diversas perguntas sobre temas como ciências, esportes, história e geografia. 

A cada sala adentrada, uma pergunta com quatro alternativas é feita e, dependendo do tempo levado para respondê-la, uma quantidade diferente de pontos é dada pelo acerto. Caso erremos a pergunta duas vezes, outra pergunta será realizada, sem prejuízo ao placar.

Ao iniciar a aventura, podemos escolher o nível de dificuldade das perguntas, com as mais difíceis rendendo mais pontos. Nas salas também são encontrados itens de mobília e quadros, que nos permitem ler sobre tópicos temáticos dos conteúdos da enciclopédia; personagens, que conversam com o jogador; e portas, que levam a outras salas e corredores. O objetivo é estimular os jovens exploradores a obter conhecimentos por meio destas atividades.

Caso, no percurso, se entre novamente em uma sala que já foi percorrida, não é necessário responder a uma nova pergunta, porém, se pelo caminho um mago ou fantasma lhe questionar algo e você errar a pergunta feita, terá de refazer todo o trajeto. 

Conforme avançamos com êxito pelos desafios e conseguimos uma boa pontuação, o game disponibiliza diplomas de nossas conquistas, que em uma era pré-redes sociais eram “compartilháveis” com os amigos por meio da boa e velha impressão.

Chegando ao final do percurso, os guardiões recepcionam o jogador e o parabenizam pela conquista, registrando em um placar geral quantos pontos foram conquistados naquela partida.

Devagar se vai ao longe

A versão de Encarta MindMaze presente nas primeiras edições da enciclopédia apresenta gráficos bem simples e diversos efeitos sonoros, como falas e músicas, possíveis graças ao uso do CD-ROM como mídia de armazenamento.

Mesmo com sua simplicidade, algo incomodou Bill Gates, então dono (e chefe) da Microsoft: para os computadores da época, tratava-se de um jogo lento, cujas transições entre as salas demoravam a acontecer enquanto os elementos gráficos eram dispostos na tela.

Isso ocorreu porque os desenvolvedores da Microsoft designaram a outra empresa a programação do MindMaze, buscando agilizar o processo de desenvolvimento da Encarta como um todo.

A Synergistic Software, ao programar o jogo, utilizou uma linguagem de programação interpretada, diferente da utilizada na enciclopédia em si, que era otimizada para computadores mais lentos. Assim, aos olhos do usuário, havia um “descompasso” de performance entre a enciclopédia e o game.

Bill Gates enviou um email à equipe responsável pelo desenvolvimento da Encarta, dizendo que o MindMaze era “a coisa mais lenta que ele já havia visto”. O que pode parecer algo frustrante na verdade se tornou um alívio e um estímulo aos desenvolvedores, pois o chefe aprovara o conceito e conteúdo do produto e reclamara apenas de sua performance. 

Assim, para as próximas versões do Encarta, novamente um estúdio externo foi contratado para desenvolver o MindMaze, dessa vez com ferramentas de programação mais adequadas, e efetuando uma grande repaginada na interface gráfica, nas ilustrações e no enredo. Junto à Microsoft Encarta 95 estreou então o “novo” MindMaze, disponibilizado em conjunto à enciclopédia até 2009.

Novo enredo, mas nem tudo novo

Na aventura de cara nova, os desafios continuam acontecendo entre salas e corredores, mas dessa vez no castelo do Rei Miser, o Primeiro. Uma terrível maldição acometeu o lugar, e só conseguiremos quebrá-la respondendo a diversas perguntas até chegarmos ao salão do trono.

Continuam presentes todos os elementos que compunham as salas, como os personagens, mobílias e quadros, mas estes apresentam um refinamento maior no estilo gráfico adotado, fazendo com que a aventura pareça mesmo se passar na Idade Média.

No final da campanha, é descrita por meio de um texto uma situação muito interessante: em meio a um banquete com muitos convidados, o Rei informa a todos que, por ter sido salvo pelo viajante do tempo e não possuir herdeiros, deixará o reino como herança para o jogador!

Do início ao fim

Encarta MindMaze permaneceu sendo disponibilizado junto à enciclopédia em praticamente toda a vida útil da mesma. Nas primeiras versões, era facilmente encontrado por opções destacadas no menu; já nas últimas iterações estava presente mas de forma mais discreta, sendo ativado por meio do comando Ctrl+Z no teclado.

Nem todas as edições internacionais da Encarta contavam com o MindMaze instalado. Isso ocorreu provavelmente pela necessidade de adaptações de conteúdo, além da dublagem, pois nem todos os verbetes e artigos disponíveis na versão em inglês também estavam inclusos, por exemplo, na adaptação em português.

Como não houve atualizações relevantes desenvolvidas especificamente para o game desde a Encarta 95, nas últimas versões alguns bugs podem ser encontrados no MindMaze, como alternativas incorretas de respostas às perguntas, sobretudo se ele for instalado em sistemas operacionais mais recentes. 

Com o tempo, a relevância e uso das enciclopédias digitais em CD e DVD foi diminuindo, muito por causa da concorrência advinda das enciclopédias hospedadas na Internet, gratuitas e atualizadas frequentemente, como a Wikipédia, que surgiu em 2001 e tem seu conteúdo atualizado diariamente por milhares de pessoas de todo o mundo. Assim, em 2009 a Microsoft descontinuou a Encarta e, por consequência, seu parceiro MindMaze.

No universo dos jogos sérios educativos, a importância e legado do Encarta MindMaze se mantém mesmo após tantos anos, pois trata-se de um game pioneiro na área ao trazer desafios lúdicos para promoção da obtenção de conhecimentos diversos ao público em geral de uma forma agradável e divertida.

Revisão: Davi Sousa
Referências: Microsoft e Medium

Entendo videogames como sendo uma expressão de arte e lazer e, também, como uma impactante ferramenta de educação. No momento, doutorando em Sistemas da Informação pela EACH-USP, desenvolvendo jogos e sistemas desde 2020. Se quiser bater um papo comigo, nas redes sociais procure por @RodrigoGPontes.
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