Impressões: Six Days in Fallujah (PC) é um shooter tático que não consegue entreter nem conscientizar

Há mais de 10 anos em desenvolvimento e colecionando polêmicas, o jogo está disponível em acesso antecipado no Steam.

em 06/07/2023

A adaptação e dramatização de eventos trágicos da vida real não é novidade na nossa realidade, por isso, é comum vermos críticas e controvérsias com essas obras devido ao impacto negativo que pode ter nas pessoas atualmente. 

É neste cenário que se encontra Six Days in Fallujah, shooter tático desenvolvido pela Highwire Games e distribuído pela Victura que chegou em acesso antecipado no Steam no dia 22 de junho. O projeto adapta a batalha real da cidade de Fallujah, que aconteceu durante o conflito da invasão do Iraque realizada pelos Estados Unidos em 2004.

A guerra nunca muda



Six Days tem o intuito de transportar o jogador para uma das batalhas mais sangrentas da história moderna. Essa intenção se manifesta em algumas características dentro do jogo, como os vídeos com veteranos e militares contando suas experiências no conflito, e a recriação de eventos reais dentro das missões do jogo.

Falando em conteúdo, o jogo é mais um projeto de acesso antecipado que falta o básico para uma experiência minimamente satisfatória. Existem apenas quatro tipos de missões: assegurar e resgatar feridos, limpar a área para suporte aéreo, neutralizar um local recheado de inimigos e escoltar um comboio. 

Apenas quatro missões que se repetem infinitamente no único modo de jogo que existe disponível no momento: o coop de quatro jogadores contra inimigos controlados pelo jogo. O modo offline, a campanha, outras missões e todo o resto do conteúdo ficou de fora dessa build inicial. A inteligência artificial dos inimigos e o mapa procedural foram algumas soluções encaixadas no projeto para tentar trazer alguma complexidade ou fator replay.




É dito que os inimigos são controlados por uma I.A. robusta que transforma o jeito que cada partida acontece. Os desenvolvedores afirmam que eles podem andar por todo o mapa e fazer emboscadas improváveis de formas criativas. Entretanto, durante minha experiência com o jogo pude perceber apenas inconstância desse recurso. Os inimigos ora eram extremamente inteligentes, atirando de uma sacada do prédio ao lado enquanto tentavam encurralar o esquadrão, ou eram completamente cegos e andavam de um lado para o outro sem atirar em ninguém nem buscar abrigo.




Sobre o mapa procedural, é notável que cada partida tenha algumas configurações de casas e ruas diferentes, porém, como o design e o interior das casas e construções são bem similares, e alguns itens estáticos como carros e objetos destruídos se mantêm em todas as versões dos mapas, o fator procedural perde força no âmbito geral da experiência.

Existem algumas mecânicas que ainda precisam de aprimoramento e não funcionam muito bem. Levantar um aliado caído sempre acaba em bugs ou em uma animação travada. O sistema de cura automática também não encaixa muito bem no contexto tático, tirando do jogador a opção de se curar como e quando achar melhor. Mesmo com a intenção de ser hiper-realista, o jogo fica muito mais próximo de um Call of Duty do que um Escape From Tarkov (PC). 

Propaganda Ianque?



Abordar uma batalha recente na história dos conflitos globais é uma escolha no mínimo arriscada por parte dos desenvolvedores. A própria Konami, que iria publicar o projeto, abandonou a ideia devido às controvérsias do tema. Até a Sony chegou a ter o jogo no seu radar só para deixar cair no esquecimento tempos depois. Six Days chegou a ser cancelado e teve sua ressurreição em 2021 com a publicação da Victura.

Desde seu anúncio em 2009, o game colecionou uma série de críticas devido ao seu tema, abordagem e potencial dano aos envolvidos do conflito. Muitas ONGs antiguerra destacaram que a comercialização com um episódio tão recente da história mundial era antiético e danoso.




Outros críticos apontaram para a falta de pontos de vista sobre o contexto histórico, já que a ótica do jogo era completamente pró-americana. Algo que se concretizou com o lançamento do acesso antecipado. Six Days in Fallujah traz diversos depoimentos reais, todos de veteranos do exército norte-americano, o mesmo que invadiu o Iraque, causando destruição, acusações de crimes de guerra e morte por onde passou. Não existe, até o momento, qualquer contraponto sobre a narrativa estadunidense. Não há um texto ou vídeo com cidadãos iraquianos, soldados ou até mesmo insurgentes. 

Os desenvolvedores prometeram adicionar algo do tipo até 2024, mas é notável que o game parece muito mais inclinado a glorificar a honra e a bravura dos tais “heróis do povo americano” do que mostrar de fato como a guerra não tem lados certos nos conflitos modernos e são certamente envoltos de temáticas cinzas e ambíguas. 

Para entusiastas de conflitos modernos 

Six Days in Fallujah é uma experiência que pode crescer com suas constantes atualizações, as missões propostas apresentam certo desafio, mas faltam um fator replay e uma diversão mais concisa. Adições como o modo single player e até a mudança do foco narrativo seriam bem-vindos para tornar a experiência completa e menos controversa. É um título problemático que nasceu em torno de um péssimo contexto e deve agradar apenas aos mais fanáticos pelo mundo bélico atual. 

Revisão: Vitor Tibério

Redator publicitário em tempo integral e amante de games nas horas vagas. Provavelmente aprendi a segurar um controle mais rápido do que uma mamadeira. Cresci com os maiores clássicos da Big N como Zelda, Mario e Pokémon. Hoje aproveito os pequenos momentos de descanso da vida corrida para me perder em Hyrule, em uma Tóquio pós-apocalíptica ou em um mundo de encanadores e cogumelos.
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