Em Dezembro de 1987, o mundo era agraciado pelo primeiro jogo de Final Fantasy para o Nintendo Entertainment System, ou, simplesmente, Nintendinho. Naquela época, Hironobu Sakaguchi, diretor do game, não poderia imaginar que esta se tornaria uma das franquias mais bem sucedidas da história dos videogames.
Cá estamos nós, quase 36 anos depois, com o recente lançamento de Final Fantasy XVI (chamaremos de FFXVI), por enquanto exclusivo para PlayStation 5, adicionado a uma vasta coleção de títulos, separados entre jogos principais — os numerados — e outros categorizados como spin-offs, mas não necessariamente menos importantes. Diante disto, uma dúvida que sempre está assombrando os corações dos jogadores é se existe a obrigatoriedade de se jogar Final Fantasy desde o primeiro — aquele lançado ainda na era 8-bits — para poder aproveitar devidamente os jogos mais atuais.
Como jogador quase nada assíduo de Final Fantasy e com quase 60 horas acumuladas em FFXVI, rumo à platina, quero apresentar o meu ponto de vista sobre jogar o último lançamento da série com uma experiência quase nula em jogos anteriores e discutir sobre o fato de que FFXVI é praticamente perfeito sob a ótica daquilo a que ele se propõe: modernizar a franquia de acordo com os padrões atuais presentes nos jogos de referência do mesmo gênero, contar uma história digna de cinema e, acima de tudo, atrair um público mais jovem que sequer sabe o que significa batalha por turno.
Zerei Final Fantasy IX, mas com revista, e não me orgulho disso
O primeiro contato que tive com Final Fantasy foi em minha juventude. Peguei Final Fantasy IX (PS1) emprestado de um amigo, e junto com ele, uma revista de detonado. Naquela época, as revistas de videogame se encarregavam de publicar o conteúdo sobre jogos e os detonados eram o que hoje conhecemos como walkthrough, agora bem mais dinâmicos e disseminados graças às redes sociais.
Meu nível de Inglês era praticamente inexistente, e acompanhar um jogo denso como FFIX, para a minha realidade, era uma missão impossível. Lembro-me de jogar por horas a fio, com a revista a tiracolo, que indicava “vire à esquerda no próximo corredor, em seguida desça as escadas”, e assim fui seguindo, ao longo de 4 CD-ROMs. Moral da história: eu não lembro de praticamente nada do jogo.
Alguns bons anos depois, experimentei um remake do primeiro Final Fantasy para PlayStation Portable, mas acabei desistindo na metade. A minha experiência com a franquia, portanto, se resumia a esses dois jogos, mas sempre ficava curioso quando um novo título era lançado. Apesar da curiosidade, acabava desistindo de buscar qualquer informação adicional sobre o lançamento pois, erroneamente, acreditava que só seria possível aproveitá-lo se eu tivesse um background que deveria ser lapidado desde os primórdios da série.
Os dois lados de Final Fantasy XVI: Crônicas de Shiva e Ifrit
Não muito diferente do que ocorre com outros títulos, o lançamento de FFXVI trouxe uma acalorada discussão à tona. De um lado, jogadores saudosistas das batalhas por turno reclamam que o jogo perdeu a sua essência e que está fácil demais. De outro, pessoas ensandecidas com a quantidade de plot twists na história de Clive Rosfield, que sobrepuja, em minha modesta opinião, as Crônicas do Gelo e do Fogo, uma das mais importantes séries de livros de fantasia que existem e que, evidentemente, serviram de inspiração para a história que se passa nos continentes da Tormenta e Cinza, declaram sua satisfação com o jogo com notas relevantes no Metacritic — 8.2 de user score.
De fato, a história de FFXVI foi algo que me deixou perplexo do início ao fim. Não me lembro de ter visto nada com tamanha escala em minha modéstia experiência com jogos. Desde o início, sobretudo nos momentos em que os Eikons (criaturas extremamente poderosas encarnadas em seres humanos chamados de Dominantes) aparecem, nos deparamos com cenas ricas de beleza e magnitude. A qualidade cinematográfica de FFXVI é digna de estar junto aos melhores filmes de Hollywood e o final da história me deixou embasbacado e inconformado até agora. Isto por si só já é um motivo bastante convincente para adquirir o game, visto que muitas vezes pagamos caro em jogos que nem uma história decente conseguem apresentar.
Dante, é você?
Desde o início do gameplay, achei as batalhas muito mais similares a um Hack ‘n’ Slash. Em outros momentos, algumas nuances dos combates nos levam a pensar em Monster Hunter. De fato, Ryota Suzuki, designer de combate de FFXVI que também responde por títulos como Monster Hunter e Devil May Cry 5, diz que seu mais novo jogo é a sua obra-prima. Eu não considero as batalhas normais dignas de destaque, mas, em compensação, os combates de chefe são levados a um outro patamar. Às vezes, demoradas demais, mas isto não apequena a grandiosidade dos encontros brutais entre os Eikons.
De modo geral, trata-se de um modelo de combate acessível a todos: a esquiva não é extremamente precisa e nada punitiva, grande parte dos ataques poderão ser desferidos com apenas um botão e soma-se a isso o uso de anéis, disponíveis desde o início do jogo, porém não obrigatórios, que facilitam ainda mais as batalhas para os menos experientes. Estes artefatos poderão tornar a esquiva e a cura de Clive automáticas, por exemplo, dentre outros benefícios.
Fácil demais? Depende do público
Os mecanismos de combate mais acessíveis, somados ao modelo de sidequests, pontos de viagem rápida, equipamentos e estatísticas simplificados deixam FFXVI relativamente descolado dos seus jogos antecessores, a descontento dos mais exigentes, porém, aproxima-o do público mais jovem, que é o que mais consome videogames na atualidade. Apesar de eu não ser tão jovem assim, isto certamente contribuiu para que eu apreciasse ainda mais o título, pois já conhecia vários sistemas ali presentes por estarem, parcialmente ou totalmente, implementados em outros jogos de aventura e RPG atuais.
Além disso, os mais destemidos, ao desbloquear a dificuldade Final Fantasy, poderão desfrutar de combates bem mais difíceis do que nas dificuldades anteriores. Logo, FFXVI poderá agradar tanto ao jogador casual, que busca apenas uma história, quanto aos mais dedicados que buscam desafio acima de tudo.
Final Fantasy XVI é a melhor introdução possível à série da Square Enix
Salvas leves referências, a história do mundo de Valisthea é totalmente nova e independente de todos os demais jogos da franquia. FFXVI poderá ser uma excelente porta de entrada para todos os curiosos em conhecer um pouco mais desta série e ter um contato com a arte oriental de contar histórias. Tudo no game está focado em qualidade de vida e em garantir uma experiência leve e marcante para o jogador. Aqueles que quiserem também poderão facilmente ir em busca dos remakes e remasters de Final Fantasy disponíveis no próprio PlayStation 5, à distância de um cartão de crédito.
Ainda está em dúvida sobre comprar ou não Final Fantasy XVI? Confira a nossa análise completa sobre o jogo.
Revisão: Thais Santos