Análise: The Bookwalker - Thief of Tales (Multi) é uma viagem problemática, mas ainda encantadora

em 08/07/2023

Em The Bookwalker: Thief of Tales você é Etienne Quist, um escritor de sucesso que foi acusado de um crime hediondo contra a Lei dos Escrit... (por Yuri Hupsel em 08/07/2023, via GameBlast)

Em The Bookwalker: Thief of Tales você é Etienne Quist, um escritor de sucesso que foi acusado de um crime hediondo contra a Lei dos Escritores, e por isso recebe uma pena severa que o proíbe de escrever novos livros por 30 anos. Para se livrar dessa sentença, ele aceita se tornar um Ladrão de Histórias, que precisa adentrar outros livros para tomar o objeto principal de cada obra.


Etienne é acompanhado por Roderick, uma página de livro senciente que serve de conselheiro tanto para o jogador como para o protagonista, além de bússola moral para o personagem em sua relação com os indivíduos dos livros que visita. A experiência de jogo não é muito longa, levando cerca de seis horas e meia para fechar a história e pouco mais de 12 horas para fazer o 100%.

Conhecendo os mundos 

A jogabilidade de The Bookwalker é dividida em dois modos: um para o mundo real e outro para o mundo dos livros. No primeiro, temos uma movimentação em primeira pessoa, básica, mas bem-executada; já para a segunda, temos uma visão isométrica, com movimentação ao modo point and click caso se jogue no computador com teclado e mouse, ou com o analógico ao se jogar com um controle.

O mundo real se resume ao apartamento e prédio de Etienne.
A escolha para essa divisão se mostra bem acertada por dois motivos: por dar uma clara distinção entre o mundo real de Etienne e os mundos literários; e pela visão isométrica permitir uma melhor exploração dos cenários dos livros que é extremamente necessária para se resolver os puzzles encontrados. É também nesses locais que acontece o principal da gameplay.

O nível de detalhes dos cenários dos livros é impressionante.

Em cada um dos capítulos, divididos por livro visitado, se faz necessária a alternância entre o mundo literário e o de Etienne para conseguirmos resolver alguns puzzles. Um exemplo está no segundo livro, em que precisamos de uma pá para desenterrar objetos na neve, e só a conseguimos com um dos nossos vizinhos. Porém, esses momentos são poucos, tornando o mundo real quase um lobby de espera entre um livro e outro. Alguns detalhes da história e do crime de Etienne se revelam através de ligações e cartas recebidas pelo protagonista. Essa mudança de realidades pode ser bem familiar a jogadores de Assassin's Creed.

O robô de cabeça para baixo é de grande ajuda. Desenterre-o.

Outro ponto que infelizmente não brilha muito é o combate. É garantido pelo menos dois ou três por livro, mas não espere mais do que isso. É uma infelicidade, pois as batalhas chamam a atenção em The Bookwalker. O sistema de combate dá possibilidades que são pouco exploradas. Em confrontos por turno, Etienne precisa escolher entre diversas habilidades de dano e defesa, que podem ser melhoradas. Algumas consomem tinta, que aqui funciona como a mana, e outras a recuperam, exigindo um gerenciamento de habilidades e recursos durante a gameplay. 

O combate deixa o jogador com um gostinho de quero mais.

Caso você fique sem tinta, pode extraí-la dos objetos que coleta pela fase, como lixo, trapos e cogumelos. Basta utilizar uma das bancadas de trabalho que ficam espalhadas por cada fase; nelas, também é possível criar itens que ajudam a resolver os enigmas, como alicates, pés-de-cabra e gazuas. Além dessas funcionalidades, há consumíveis que ajudam a restaurar a vida de Etienne após as batalhas. Não se preocupe em ficar com o inventário cheio e ter de se livrar de itens, pois isso não vai acontecer, já que sequer é possível descartar, apenas criar ferramentas e transformar itens em tinta.

O inventário é bem organizado, e de fácil compreensão

A ambientação é boa, mas poderia ser melhor

A direção de arte é uma das coisas que mais chama a atenção em The Bookwalker. No mundo real, temos uma representação bem fiel, pecando apenas ocasionalmente em pequenos detalhes de textura, como na mala na qual recebemos as missões. Dentro dos livros, a história é outra (perdão, não resisti ao trocadilho): os cenários são bem-desenhados e extremamente agradáveis. Há até uma opção de zoom, para que o jogador possa ver os ambientes com mais atenção.

Os diálogos são bem-escritos, tornando a experiência mais interessante. Além de aprofundar a relação de Etienne com os demais personagens do game, eles também apresentam em alguns casos opções que, infelizmente, não levam a mudanças significativas na história. Você pode ser gentil ou rude, e ainda vai conseguir o que precisa. As conversas escritas são muito boas, mesmo com o jogo disponível apenas em inglês e russo nas plataformas da Microsoft.

Para quem jogou a versão em inglês, em breve deve sair a atualização para português brasileiro.

O mesmo não pode ser dito da dublagem, já que ela é inexistente. Qualquer som proferido pelo protagonista pode ser categorizado como barulhos aleatórios e difusos, que acabam tirando um pouco a imersão da aventura. O lado bom é que eles se fazem presentes apenas quando jogamos no mundo real, que representa a menor parcela da campanha. 

Um jogo muito bom, mesmo com tantos problemas

The Bookwalker apresenta um belo mundo, e uma história cativante que chama a atenção do jogador. Mas no seu estado atual ele possui problemas que são capazes de afastar pessoas interessadas. 

Nas informações apresentadas na Microsoft Store, aparece o idioma português do Brasil, mas ao iniciar o jogo, encontramos apenas inglês e russo. Para quem não tem familiaridade com outros idiomas, pode ser um empecilho para aproveitar o game totalmente ou até mesmo avançar em alguns desafios.

Outro problema que incomoda bastante durante a gameplay é a falta de resposta na movimentação do personagem no modo isométrico em terceira pessoa. É algo constante, principalmente quando o aproximamos da borda da tela. Aqui não há muito que o jogador possa fazer além de continuar tentando se mover até conseguir.

Essa fala resume o sentimento em alguns momentos

O problema que mais deve afetar a jogatina são bugs que impedem a progressão. Durante o terceiro livro, me deparei com um que me impediu de avançar na história, já que certos eventos não ocorriam. A única solução para isso, por hora, é reiniciar o jogo.

De acordo com a desenvolvedora DO MY BEST, esses problemas ocorreram devido a uma falha no lançamento do patch Day One, e já existem conversas com a Microsoft para lançar a atualização que deve corrigir tudo isso. 

Apesar desses problemas, The Bookwalker: Thief of Tales  é uma experiência divertida. Conhecer diferentes mundos através de livros, e aprender sobre suas histórias enquanto se resolve os quebra cabeças até dá vontade de que essas histórias estivessem disponíveis no nosso mundo para a leitura, mesmo que algumas tenham como inspiração livros bem famosos. Para os fãs de jogos point-and-click, e de boas histórias, esse jogo é uma pedida certa, ainda mais quando os problemas citados forem corrigidos. 

Prós

  • História bem-polida e atrativa;
  • Fases diversas, com direção de arte muito bonita;
  • Mecânicas de exploração bem desenvolvidas;
  • Diálogos de qualidade;
  • Nível de desafio agradável e recompensador.

Contras

  • Falta da localização em portugues brasileiro anunciada na página da loja;
  • Falta de dublagem;
  • Resposta de movimentação com problemas em diversos momentos;
  • Combate com mecânicas pouco exploradas;
  • Escolhas que não mudam em nada o avanço na campanha;
  • Bugs que impedem a progressão da história.
The Book Walker: Thief of Tales - XSX/XBO/PS4/PS5/PC - Nota: 7.0
Versão utilizada para a análise: XSX/PC
Revisão: Davi Sousa
Análise feita com cópia digital cedida pela tinyBuild


Jornalista e aficcionado por jogos e quadrinhos. Aproveita a profissão para falar do que gosta. Atualmente, é redator aqui no GameBlast e colaborador no Mapingua Nerd.
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