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Análise: Layers of Fear (Multi) reimagina franquia sem consertar erros do passado

Projeto flutua entre o remaster e o remake com visuais repaginados e mecânicas datadas.


Anunciado na Summer Game Fest 2022, Layers of Fear se apresenta como um horror reimaginado. A Bloober Team, especializada em games de horror psicológico, teve o cuidado para não chamar o game nem de remaster, nem de remake.

O projeto é vendido como a versão definitiva da franquia, com novos visuais, mecânicas, narrativas e mais. Entretanto, nem tudo são tintas frescas e quadros bonitos neste projeto, que parece temer uma classificação certeira e perder valor de mercado.

Afinal, o que é o Layers of Fear de 2023?



O jogo nada mais é do que uma compilação com todos os títulos da franquia com o adicional de um novo DLC e uma narrativa inédita que pretende amarrar os núcleos da história. Layers of Fear 1 e 2, o DLC Inheritance, o novo DLC The Final Note e a história da escritora são os elementos que compõem essa obra tenebrosa. 

Além dos jogos e seus adicionais já conhecidos, o que tem de verdadeiramente novo no projeto é The Final Note e a história da escritora. No primeiro, temos acesso a uma experiência de horror na pele da pianista, esposa do protagonista de Layers 1. Assim como Inheritance, o jogo acompanha um membro da família em sua espiral de insanidade. Em quesitos de mecânicas, nada de diferente é apresentado, sendo, assim como o título original, apenas um passeio entre portas, quartos deformados e notas de lore.

A história da escritora é uma linha narrativa que tem seus próprios capítulos. Ela acontece como um interlúdio entre segmentos dos jogos originais. Também nesta história, vemos uma artista atormentada por sua criação tendo que lidar com a misteriosa entidade conhecida como The Rat Queen, que aparece durante os dois títulos principais.

Uma bela pintura deformada



É inegável que o novo Layers apresenta uma evolução assustadora no visual dos games. Ambientes que antes eram extremamente escuros e sem vida agora são recheados de detalhes com uma iluminação que traz a atmosfera tenebrosa e desoladora que a narrativa pede. As melhorias com a Unreal Engine 5 e suas técnicas aprimoradas, como o HDR, 4k e Lumen, dentre outros, elevam a experiência padrão dos jogos originais e adicionam uma camada a mais do horror ambiental.

Entretanto, o game mantém exatamente a mesma jogabilidade. Há uma tentativa quase inexistente de novidade com a adição da mecânica da lamparina, porém logo se torna  algo que, inicialmente, parece uma boa ideia, mas, na realidade, é mal implementado por todo o projeto.




Comparando com o original, passagens que antes exigiam apenas uma simples abertura de porta, agora demandam que o jogador use a lamparina para “derreter” a porta, uma ação  tão simplória que nem deveria ser mencionada como uma mecânica realmente relevante ao jogo. Além disso, sua necessidade é tão pontual que pode passar despercebida. 

Um problema que ainda permanece na versão de 2023 é seu ritmo. O jogo ainda se apresenta como um passeio na casa dos horrores em versão digital. Você anda, abre porta, vê alguma bizarrice, abre mais portas, depois outras portas, para novamente, terminar abrindo outra porta que vai ter outra bizarrice. Nesse meio-tempo, você terá que ler muitas notas, cartas e recortes de jornais para entender a história. Existem algumas linhas de diálogos adicionais que fornecem conteúdo relevante, mas o núcleo narrativo ainda está nos documentos.




Existe também um inimigo que aparece no jogo para te perseguir. No original, ele servia para assustar o jogador e trazer um pouco de perigo pra jogatina. Na nova versão, existe apenas uma diferença: você pode fazer a criatura sumir por alguns segundos com a lamparina. No geral, não muda drasticamente nada, só adiciona uma etapa a mais num ciclo já pré-estabelecido do jogo.

O verdadeiro horror está nas linhas



Um grande mérito em Layers of Fear é não optar pelos fracos jumpscares. O jogo tem o objetivo de te perturbar com seus cenários horrorosos e locais distorcidos, mas nunca apelando para sustos fáceis e mundanos.

Porém, é notório que o game não tem um grande repertório de localizações e situações que verdadeiramente inspiram medo no jogador. De início, pode causar certa ansiedade, principalmente pelo ótimo trabalho visual feito na parte técnica, mas, depois de algumas horas, a loucura cai no comum, e os poucos sustos mal têm efeitos. 




Contudo, existe um elemento que adiciona uma fina camada de horror que complementa bem os cenários aterrorizantes. As histórias de obsessão e traumas contadas em Layers são retratos verdadeiramente perturbadores da psique humana, sejam eles o pintor e sua decadência física e moral, os efeitos de uma infância traumatizante na filha ou a perda total da esperança da pianista. Todas as histórias passam por narrativas com tom niilistas misantropos, nas quais a humanidade é uma praga corrompida, seja por forças metafísicas ou pela própria família.

O horror definitivo com todos os seus defeitos e qualidades

Layers of Fear é, sem dúvidas, uma experiência válida para quem tem curiosidade de adentrar a franquia e ainda não teve a oportunidade, já que o pacote inclui os dois jogos principais, DLCs e extras, tornando-se um ótimo atrativo. Entretanto, é necessário frisar, para quem já conhece a experiência, que não encontrará nada substancialmente novo, tendo no aprimoramento gráfico sua maior força,  mantendo o ritmo, puzzles e loop de gameplay intactos e não corrigindo os erros do passado da franquia.

Prós

  • Visuais repaginados fantásticos;
  • Sonoridade impecável;
  • Bem otimizado para máquinas mais modestas;
  • História assustadora e macabra.

Contras

  • Novas mecânicas pouco interessantes;
  • Ritmo se mantém lento;
  • Assusta pouco;
  • Narrativa pouco intuitiva.
Layers of Fear — PC/PS5/Xbox Series — Nota 6.5
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Bloober Team

Redator publicitário em tempo integral e amante de games nas horas vagas. Provavelmente aprendi a segurar um controle mais rápido do que uma mamadeira. Cresci com os maiores clássicos da Big N como Zelda, Mario e Pokémon. Hoje aproveito os pequenos momentos de descanso da vida corrida para me perder em Hyrule, em uma Tóquio pós-apocalíptica ou em um mundo de encanadores e cogumelos.
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