Blast Test

Impressões: Laika: Aged Through Blood (Multi) é um sangrento e instigante metroidvania sobre duas rodas

Uma coiote durona é a protagonista deste ágil e brutal título indie.

em 12/06/2023

No mundo pós-apocalíptico de Laika: Aged Through Blood, a realidade é dura e os conflitos são constantes. No controle de uma coiote que luta por vingança, dirigimos uma motocicleta por uma região perigosa. O jogo combina exploração estilo metroidvania, tiroteios constantes e direção sobre duas rodas influenciada por física para criar uma aventura inusitada e única. Tive a oportunidade de experimentar uma versão prévia do jogo e me impressionei com o que vi, por mais que ainda haja espaço para melhorias.

Resistindo em uma região atroz

No passado, algum evento apocalíptico mudou profundamente o mundo, que se tornou majoritariamente estéril e hostil. As poucas criaturas sobreviventes se organizaram em tribos, e alguns desses grupos oprimem os outros por meio de violência. A tensão é constante e cada um vive como pode, apesar do medo.

É nesse contexto que conhecemos Laika, uma coiote durona que tenta criar sua filha nessa situação complicada. Um dia, a pouca paz é quebrada quando um grupo de pássaros ataca e mata alguns membros da tribo de Laika. Revoltada, ela sobe em sua moto e pega suas armas para fazer justiça com as próprias mãos e se vingar, deixando um rastro sangrento pelo caminho.


Não se deixe enganar pelo visual 2D e com os animais humanoides: Laika: Aged Through Blood tem atmosfera brutal. A violência gráfica é frequente, com cenas com muito sangue, vísceras, desmembramentos e personagens mutilados. Os diálogos seguem a mesma linha tensa, com conversas repletas de grosserias e tom rude.

Fiquei surpreso e chocado em um primeiro momento, mas, dentro do contexto, faz muito sentido — a brutalidade é palpável, em especial no caso de Laika, que faz o que for necessário para proteger seus entes queridos em um universo tão bárbaro. Cenários desolados, como um deserto ou um estranho laboratório, em conjunto com uma trilha sonora melancólica, criam uma atmosfera envolvente.



Saltando e atirando sobre duas rodas

Para viajar pelo mundo, Laika usa sua fiel motocicleta em uma aventura 2D repleta de mapas elaborados. A jogabilidade é centrada em dirigir o veículo: um dos gatilhos acelera e outro botão permite frear ou mudar de direção. Além disso, é possível empinar a roda traseira para seguir por caminhos diferentes e é necessário ajustar a posição da moto ao saltar para não sofrer um acidente, pois a coiote é frágil e morre com um único deslize.

Pelo caminho, a protagonista encontra membros do grupo de pássaros, que fazem de tudo para acabar com ela. Laika é longe de indefesa, pelo contrário: ataca ferozmente com diferentes armas de fogo. Pode parecer difícil atirar enquanto andamos de moto em alta velocidade, mas nesses momentos a ação fica em câmera lenta, facilitando mirar. Para se defender, a personagem usa a própria motocicleta para rebater projéteis. Por fim, para recarregar as balas das armas e as habilidades especiais, é necessário girar a moto durante os saltos.


Fiquei bastante intrigado com essa mecânica única de locomoção de Laika, que se autointitula um “motorvania”, resultando em uma mistura curiosa de exploração, tiro e motocross. Os mapas do mundo lembram pequenos circuitos em que precisamos acelerar, saltar e inclinar a moto nas posições corretas para não cair, o que traz uma constante sensação de empolgação e descoberta. O ritmo é ágil, com muitos trechos focados em velocidade, o que deixa a experiência bem frenética.

O combate é mais uma camada interessante das mecânicas. Pode parecer complicado atirar enquanto saltamos e fazemos manobras, mas a câmera lenta deixa essa ação bem simples de executar. Claro, no começo tive dificuldade em fazer tanta coisa ao mesmo tempo, mas logo eu consegui fazer tiros precisos durante cambalhotas em um balé aéreo sangrento, literalmente.

Hostilidade que vem de problemas

A versão prévia a qual tive acesso me permitiu explorar o início da trama e algumas poucas áreas. Fiquei impressionado com a criatividade das mecânicas e com a ambientação impactante, porém alguns pontos me incomodaram.

Para começar, há muita tentativa e erro: é comum morrer para algum salto complicado ou para inimigos que aparecem inesperadamente. Os checkpoints são abundantes, mas não deixa de ser desagradável ficar repetindo partes até conseguir decorar os passos. Além disso, a inclinação da moto é muito sensível, sendo possível cair até mesmo ao empinar o veículo sem querer. Por fim, no calor do combate, o visual fica um pouco confuso, o que dificulta alinhar a motocicleta corretamente para pousar com segurança.


Há também um pouco de burocracia com relação à munição, que também é utilizada para ativar dispositivos e obter certos itens. A única maneira de recarregar as armas é saltando e girando para trás, porém a quantidade de balas é bem reduzida. Então, é necessário às vezes ficar indo e voltando em alguns pontos só para recarregá-las, o que é uma chateação.

Esses problemas são justificáveis, afinal experimentei uma versão inicial. Inclusive, os desenvolvedores me afirmaram que o título ainda está passando por ajustes no ritmo e no custo de itens, então o jogo completo possivelmente deve ser diferente nesses aspectos. Também não foi possível observar melhor características de metroidvanias, como habilidades de locomoção, no entanto, o mapa parece ser vasto e com muitas atividades.



Uma aventura criativa e muito promissora

Laika: Aged Through Blood promete se destacar com sua combinação de metroidvania e motocross. A versão de preview deu uma boa ideia do andamento ágil que mistura saltos complicados, tiroteios cinematográficos e muitos momentos de exploração. Fora isso, o jogo intriga com sua atmosfera intensa, violenta e brutal. Algumas ideias e mecânicas ainda precisam de maior amadurecimento, mas tudo indica que este motorvania tem características de sobra para se destacar.

Revisão: Thais Santos
Texto de impressões produzido com cópia de preview cedida pela Thunderful Publishing

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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