Uma aliança suspeita
A história de Skautfold se passa em Londres no final do século XIX e, por algum motivo, a cidade está infestada de monstros horripilantes. Neste contexto, assumimos o controle de Waltham, uma criatura que se assemelha a um parasita e que está à procura de um novo corpo para possuir.
Ao encontrar Saragat, um cavaleiro real que está quase morto, Waltham possui e habita o seu corpo, não o controlando diretamente, mas firmando um acordo para que juntos eles possam encontrar e derrotar o suposto responsável pela atual situação da cidade.
A trama é bastante interessante e sombria, possuindo uma construção de mundo inspirada nas obras de H. P. Lovecraft. Além disso, os personagens e alguns cenários possuem um visual bem charmoso, com a arte se assemelhando ao que costumamos ver nos títulos da franquia Castlevania. Infelizmente, não podemos aproveitar a história em português, pois o nosso idioma não está entre as opções de legendas.
É importante mencionar que esse jogo é uma continuação de Skautfold: Shrouded in Sanity; apesar disso, mesmo não tendo jogado o seu antecessor, pude aproveitar o enredo dessa entrada sem nenhum problema.
Na escola de metroidvania, Skautfold é um aluno problemático
Em essência, Usurper é um metroidvania, apresentando o tradicional grande mapa interconectado. Como também é comum nesse gênero, por vezes nos deparamos com locais que são inacessíveis e requerem certa habilidade que permita o acesso, além de pontos específicos que podem se transformar em atalhos.
Lamentavelmente, não podemos visualizar esse mundo por completo pelo fato de muitas áreas serem extremamente escuras. Somado a isso, o jogo apresenta um mapa que é praticamente inútil, pois não exibe informações verdadeiramente relevantes, como a localização do jogador.
Além desses contratempos, Skautfold não dispõe de um sistema de viagem rápida, o que nos obriga a decorar e repetir longas regiões por diversas vezes, pois, sempre que morremos, retornamos a uma zona central que funciona como lobby. Este título ainda possui mais um problema grave de design, pois, em muitas ocasiões, fica difícil de diferenciar o que é o plano de fundo e o que é plataforma, razão pela qual me vi caindo muitas vezes em buracos que não pareciam ser isso.
Para finalizar este tópico, vale a pena mencionar que algumas habilidades melhoram demais o ritmo da nossa progressão e, principalmente, o desempenho na exploração. No entanto, demora um bocado para adquirirmos essas técnicas, sendo necessário uma boa dose de paciência durante as primeiras horas de jogo.
O título também possui problemas na matéria de combates
Skautfold apresenta alguns chefes e inimigos comuns que possuem visuais bem impactantes, com alguns deles dando a impressão de terem saído diretamente de Yharnam, a cidade principal de Bloodborne. Durante os confrontos, temos uma espécie de barra de energia que é consumida com qualquer ataque, bloqueio ou esquiva e, quanto menor ela fica, mais dano recebemos ao sermos atingidos. Nesse sentido, além da energia se regenerar gradualmente, ela é renovada sempre que temos êxito em desviar de um golpe.
Toda essa especificidade de combate é bastante intrigante e poderia facilmente resultar em uma excelente e viciante gameplay, se não fosse pela presença de um detalhe muito negativo: a falta de variedade do nosso próprio ataque. Infelizmente, ele é sempre desferido individualmente e nunca se transforma em combos; por essa razão, ainda que os diferentes equipamentos possuam animações diversas, no final das contas, a sensação que fica é a de que a maioria das armas são iguais.
Essa falta de ataques mais elaborados acaba fazendo com que as lutas se tornem entediantes em pouco tempo. Some isso à ausência de fast-travel e a obrigatoriedade de repetir os mesmo locais escuros recheados de monstros e teremos a receita perfeita para o cansaço.
Vale mencionar que derrotar monstros nos recompensa com vitae, o material usado para aumentarmos o nível do protagonista. Assim como também ocorre na maioria dos soulslike, deixamos cair uma quantidade desses pontos sempre que um inimigo nos derrota.
Para aumentar um level, precisamos ainda de uma pedra específica que pode ser encontrada em determinados baús. Acredito que essa escolha seja uma forma de tentar evitar o grinding exagerado e de manter um certo nível de dificuldade durante toda a campanha.
No entanto, fico em conflito e não sei dizer se gostei ou não dessa mecânica. Se, por um lado, achei interessante possuir um nível balanceado nos principais desafios, por outro, me senti incomodado em certas ocasiões em que eu estava cheio de vitae e desejava me fortalecer, mas que não pude fazer isso por não ter mais pedras disponíveis.
Com muita dificuldade, a obra da Red Art Games consegue passar de ano
Com uma premissa intrigante e um visual único, é uma pena que Skautfold: Usurper tenha tantos problemas em sua jogabilidade. Para aqueles que são extremamente fãs dos gêneros mencionados, há alguns aspectos agradáveis aqui, mas é necessário paciência no decorrer das primeiras horas de jogo. Já para aqueles que querem conhecer títulos dessa espécie, há opções mais amigáveis e acessíveis no mercado.
Prós:
- A trama possui uma premissa intrigante;
- Os personagens, inimigos e alguns cenários possuem um visual charmoso e bem-inspirado;
- A necessidade de um item específico para aumentar o nível pode agradar algumas pessoas que gostam de desafios;
- As habilidades adquiridas melhoram muito o ritmo da nossa progressão e o nosso desempenho na exploração;
Contras:
- Os golpes do protagonista são individuais e não se convertem em combos, fazendo com que as armas pareçam iguais e as lutas sejam entediantes;
- A necessidade de um item específico para aumentar o nível pode desagradar a pessoas que gostam de grinding;
- O mapa não é muito útil;
- Um sistema de viagem rápida faz muita falta nesse jogo e o tornaria muito menos cansativo;
- Muitas áreas são escuras demais e difíceis de diferenciar o que é plano de fundo e o que é plataforma.
Skautfold: Usurper — PC/PS4/PS5/XBO/XSX/Switch — Nota 6.0Versão utilizada para análise: PS4
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Red Art Games