Análise: Mask of the Rose (PC/Switch): um jogo de máscaras sociais em uma Londres caída

Visual novel da Failbetter brinca com relacionamentos sociais em um mundo esquisito e sombrio.

em 08/06/2023
Desenvolvido pela Failbetter Games, Mask of the Rose é descrito como “um romance maravilhoso com uma pitada de assassinato”. Ambientado no mundo sombrio de Fallen London, o jogo brinca com o conceito de visual novel para oferecer um mundo de oportunidades de interação em meio a intrigas de época, eventos sobrenaturais implausíveis e uma boa dose de humor ácido.

Renascendo na escuridão de Londres

Em Mask of the Rose, construímos o nosso próprio personagem já no início. Não selecionamos nosso gênero, mas em vez disso, podemos escolher a forma de tratamento que preferimos e uma silhueta para o nosso avatar.

Além de “senhor”, “senhora” e outras opções com conotação masculina ou feminina, temos também termos neutros como “camarada”. Também é possível comentar como a mudança de ares deu ao jogador a chance de assumir quem verdadeiramente é, dando, assim, uma backstory trans ao personagem.

Além dos aspectos de inclusividade, há várias opções de origem. Escolher ser um nobre ou o filho de um alfaiate muda a perspectiva do jogador e a sua capacidade de interagir com os personagens, dando-lhe roupas que refletem essa vida pregressa. A mudança de indumentária é o mecanismo que Mask of the Rose apresenta para definir a quais tipos de escolha o jogador terá acesso, funcionando como classes, atributos ou talentos em um RPG narrativo.

Um jogo sobre vínculos e agência em sociedade

Embora haja bastante liberdade na exploração de áreas da Fallen London e nas escolhas do jogador, a trama possui um núcleo central bem definido e restrito. Nosso personagem é convidado a trabalhar para o misterioso Mr. Pages, fazendo o recenseamento da cidade, coletando detalhes sobre o trabalho e a vida romântica desses indivíduos.

Além de ser uma importante fonte de dinheiro, esse trabalho é uma forma de incentivar o jogador a explorar a cidade e conhecer os personagens principais da trama. Firmar novas amizades e ir até um pouco além na intimidade com esses indivíduos é um aspecto importante da experiência. Infelizmente, esse aspecto acaba soando um tanto artificial dentro da estrutura geral, como se fossem apenas variáveis textuais e não de fato relacionamentos humanos.

Mask of the Rose apresenta uma perspectiva de liberdade: escolha para onde ir e o que fazer em um longo menu da cidade. As combinações são muito amplas e o jogador pode tentar explorar outras áreas para ver aspectos diferentes da sociedade. Por exemplo, quando joguei pela primeira vez, eu nem cheguei a encontrar os diabos que moram em Fallen London porque tentei aproveitar as pessoas mais próximas para realizar o censo. Da segunda vez, questionei diretamente o meu chefe e fui demitido.

O tempo que temos para explorar é limitado a apenas alguns dias para cada estação (Confessions, Yule e Rose) e dois horários ao dia para fazer as coisas desejadas. Uma vez terminada a estação Confessions, temos uma reviravolta com a morte de um personagem, levando o jogador a investigar o caso para poder livrar o seu conhecido da prisão. Você também pode tentar encontrar métodos alternativos para ajudar o personagem a sair.

Há várias outras missões que podem ser feitas de forma opcional, mas esse caso criminoso acaba sendo o foco da trama nesse ponto. Infelizmente, embora o jogador tenha liberdade para explorar a narrativa de várias formas diferentes, a sensação geral é a de que o impacto de muitas escolhas não é tão duradouro e mesmo os relacionamentos são apenas variáveis que abrem ou fecham caixas de diálogos específicas.

Liberdade em um tempo limitado

A investigação também demanda que o jogador encontre palavras-chave para montar um caso em uma espécie de fluxograma. Coloque os personagens e as ações encontradas em diálogo e é possível talvez chegar a uma resolução mais alinhada com a verdade. Infelizmente, com a limitação de tempo e as palavras-chaves só sendo encontradas em conversas específicas, a resolução do caso acaba sendo desnecessariamente complicada e algo bem fácil de falhar.

Com isso, a liberdade da trama acaba sendo uma faca de dois gumes. De um lado, temos a capacidade de explorar a Fallen London do nosso próprio jeito, mas, de outro, isso torna várias interações algo mais superficial para que o impacto de uma escolha não impossibilite o avanço da lógica central da trama.

Apesar desses pontos negativos e do fato de que o skip não diferencia textos lidos e não-lidos, o que temos em Mask of the Rose é uma trama bem instigante. A ambientação mistura elementos de época para representar a pompa da sociedade aristocrática de Londres, um contexto sobrenatural de horror cósmico e especialmente uma boa dose de humor ácido em todos os diálogos, fazendo com que a leitura seja bem engraçada e envolvente.

As ilustrações também são outro ponto de destaque por serem bem ricas em detalhes e chamativas. Os personagens são bastante expressivos e com um traço que brinca com o realismo e com um aspecto mais sombrio. Ao mesmo tempo, os ambientes acabam se tornando bem imersivos por seguirem essa mesma estética, utilizando elementos como névoa e iluminação para criar um clima que chama a atenção.

Uma opção curiosa de narrativa interativa

Mask of the Rose é uma visual novel cuja trama brinca com o exagero de uma situação sobrenatural inusitada em um contexto bem trabalhado de uma sociedade vitoriana. Tentando oferecer grande liberdade de ação ao jogador, mas respeitando um núcleo um pouco restritivo da trama, a obra acaba tendo acertos e tropeços, mas sendo uma pedida curiosa para quem gosta de narrativas interativas.

Prós

  • Trama com uma escrita instigante devido à ambientação que mistura elementos de época, horror cósmico e tom de humor ácido;
  • Ilustrações ricas em detalhes, tanto na expressividade dos personagens, quanto na imersão nos ambientes;
  • Curioso sistema de acesso a opções diferentes de diálogos com base nas roupas selecionadas;
  • Boa variedade de opções de criação de personagem.

Contras

  • Muitas escolhas cujo impacto parece não ser muito duradouro na trama;
  • Relacionamentos superficiais e tratados como se fossem apenas mudanças de variáveis no texto;
  • Tempo limitado de exploração e necessidade de desbloquear palavras-chave faz com que a navegação do caso de assassinato seja desnecessariamente complicada;
  • Sistema de skip que não diferencia textos lidos e não-lidos.

Mask of the Rose —PC/Switch — Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: PC

Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Failbetter Games


é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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