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Análise: Fairy Fencer F: Refrain Chord (Multi): uma releitura estratégica do RPG da Compile Heart com musas de batalha

Novo jogo da Compile Heart é um RPG tático divertido, mas engessado pelo foco excessivo em sua gimmick central.

Fairy Fencer F: Refrain Chord
é um RPG tático desenvolvido em uma parceria entre a Compile Heart (Hyperdimension Neptunia) e a Sting (Yggdra Union). Como uma releitura tática de um universo que impulsionou novos ares na desenvolvedora, o jogo brinca com uma perspectiva curiosa de musas de batalha em um combate viciante, mas um pouco repetitivo.

Retornando a um mundo de fadas e espadachins

Em Fairy Fencer F: Refrain Chord, temos uma sequência inesperada para o jogo anterior (Fairy Fencer F ou sua edição expandida, Advent Dark Force). Em vez de avançar a narrativa a partir de um dos finais do antecessor, temos uma história alternativa em que Fang e seus aliados acabam conhecendo duas misteriosas personagens capazes de usar suas canções em batalha.

De um lado, temos Glace, uma mulher misteriosa que se alia à organização Dorfa para alcançar seus objetivos a qualquer custo. Do outro, a gentil Fleur cura Fang em um momento de necessidade e se torna uma parte essencial da gangue de aventureiros que buscam coletar as armas conhecidas como Fúrias.

A trama de forma geral tem um aspecto similar a uma light novel de fantasia. Com vários personagens carismáticos e um grupo que possui uma boa sinergia, o tom é geralmente mais leve com diálogos divertidos e descompromissados. Há alguns momentos mais sérios na trama, mas ela tende a manter essa perspectiva, que pessoalmente considerei uma boa escolha.

A única coisa que acaba sendo estranha realmente é o fato de que a obra não dá prosseguimento a Advent Dark Force, colocando-se em um ponto nebuloso na timeline. Quando a história começa, Fang e vários aliados do jogo original já formaram uma equipe, mas vários elementos de desenvolvimento de personagem não ocorreram. Como resultado, tanto veteranos quanto novatos podem estranhar um pouco a estrutura, mas a trama não é difícil de acompanhar.

Um combate tático

Curiosamente, enquanto o seu antecessor era baseado em turnos, Refrain Chord é um RPG tático, forçando o jogador a tomar cuidado com o posicionamento de seus personagens em um tabuleiro. Com um limite máximo de seis unidades, podemos movimentá-las, utilizar golpes básicos, magias e ataques especiais, itens ou simplesmente esperar o turno, o que também tem a vantagem de reduzir o tempo para a próxima movimentação.

Um detalhe bem importante do jogo é a customização dos aliados, sendo possível equipá-los com armas e acessórios para alterar seus atributos. Porém, o elemento mais central da gameplay são as fadas, sendo cada personagem associado a uma parceira principal e tendo uma vaga adicional para uma secundária.

Além de afetar os atributos dos personagens, essas fadas acumulam FP (Pontos de Fada) em batalha assim como os personagens ganham experiência a cada ação. Os pontos acumulados pelas fadas podem ser usados para adquirir habilidades ativas (novos golpes, magias de ataque, cura, buff e debuff) e passivas (como resistência a poderes elementais ou regeneração de SP para poder usar mais habilidades).

Porém, o elemento central do combate é o uso das Musas, cujas canções criam uma área de efeito no campo de batalha. Os efeitos variam de acordo com a música, incluindo opções como aumento de ataque, ativação de contra-ataques ou regeneração de HP por turno. Outro ponto importante dessa mecânica é a ressonância, na qual quadrados que pertencem às áreas de Fleur e Glace possuem um efeito imensamente ampliado, porém, isso vale tanto para aliados quanto para inimigos, dando uma perspectiva de risco e recompensa para o posicionamento das unidades.

Infelizmente, apesar dessa mecânica ser um dos pontos mais interessantes do combate, ela também é o calcanhar de Aquiles da obra. As fases de Refrain Chord são muito simples, repetindo ambientes cuja estrutura geográfica acaba não impactando significativamente as estratégias ideais do combate. Com foco total na gimmick das musas, o jogo acaba ficando engessado no mesmo funcionamento durante as dezenas de horas de conteúdo.

Essa incapacidade de pensar em formas de diversificar o combate acaba enfraquecendo consideravelmente a experiência. Uma pena, já que em termos de quantidade de coisas a fazer, o jogo não falha, tendo muitas quests opcionais e uma mecânica especial chamada Location Shaping, que permite ao jogador vasculhar o mapa-múndi em busca de tesouros variados que incluem materiais, consumíveis, equipamentos, novas fadas e até áreas novas para combate opcional.

Visual inadequado e qualidade de vida

Outro ponto que precisa ser comentado é que Refrain Chord alterna entre trechos 2D de diálogo e o 3D do combate. Enquanto as ilustrações 2D feitas por Tsunako (ilustradora de Hyperdimension Neptunia, Date A Live, entre outras séries) são belíssimas dentro de seu estilo usual simples e carismático, os modelos 3D do combate são horrorosos, com texturas precárias e personagens com modelos que precisavam de mais polimento. Até mesmo a interface dos mapas pode ser um pouco bagunçada quando o jogador quer se movimentar em uma área que já está sob efeito das canções das duas musas porque as cores se misturam.

Por outro lado, vale destacar que a obra oferece elementos que ajudam bastante o jogador, como a capacidade de acelerar as animações e tentar novamente após morrer sem perder a experiência obtida até ali. Caso o jogador não curta a mistura das canções (que se sobrepõem de forma desarmônica), pode desativá-las também, mantendo a música padrão. Também considero que fizeram um bom trabalho no uso do mouse no PC, adaptando totalmente os menus para o clique.

Um jogo tático agradável, mas de design pobre

Fairy Fencer F: Refrain Chord
é uma escolha curiosa para trazer a série de volta à ativa oito anos após a criação de Advent Dark Force. Embora quem esperasse uma sequência talvez fique decepcionado com o que há aqui e o conceito de gameplay seja um pouco restrito demais à gimmick central, temos um RPG tático agradável em mãos.

Prós

  • A customização de build dos personagens inclui muitas opções de habilidades graças ao sistema de Subfairies;
  • Diálogos divertidos com personagens carismáticos que possuem boa sinergia como grupo;
  • Ilustrações 2D simples e belas feitas por Tsunako;
  • As musas e a ressonância das canções oferecem uma camada estratégica interessante ao combate;
  • Boa quantidade de quests opcionais e o sistema de ;
  • No PC, os menus são totalmente adaptados para o uso do mouse;
  • Bons elementos de qualidade de vida, como aceleração das animações e retry sem perder experiência daquela tentativa.

Contras

  • Sistema de combate engessado no gimmick das musas;
  • Ambientes simples e repetitivos;
  • Modelos 3D mal trabalhados, feios e com texturas precárias;
  • A trama pode não agradar veteranos e ser um pouco estranha para os novatos.

Fairy Fencer F: Refrain Chord — PC/PS4/Switch — Nota: 7.5
Versão utilizada para análise: PC

Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Idea Factory International


é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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