Análise: Aeterna Noctis: Pit of the Damned (Multi) é uma expansão que se justifica por ser gratuita

O DLC não supera o que veio antes e não elimina os bugs, mas os novos desafios de tempo fazem o retorno valer a pena.

em 07/06/2023

Aeterna Noctis: Pit of the Damned
segue uma tendência proveitosa de outros metroidvanias: após o lançamento, os desenvolvedores continuaram aprimorando sua obra e serviram em bandeja de prata generosas atualizações e expansões gratuitas. Foi assim com Hollow Knight e sua Voidheart Edition, o brasileiro Dandara: Trials of Fear, além de Death’s Gambit: Afterlife, Grime: Colors of Rot, Blasphemous: Wounds of Eventide, entre outros.
Lançado em dezembro de 2021, Aeterna Noctis teve várias mudanças relevantes e, por isso, esta análise é voltada à condição atual do jogo de uma forma geral (versão 2.0.001), passando pelos ajustes de dificuldade, as adições de Pit of the Damned (Poço dos Malditos) e os persistentes problemas técnicos que podem comprometer toda a experiência.



Não tão condenados assim

Uma das críticas que o game recebeu em seu lançamento foi quanto à dificuldade excessiva. Aeterna Noctis se autodefine como um híbrido de metroidvania com plataforma 2D, o que para mim soava estranho, uma vez que o primeiro gênero nasceu do segundo e essa união é muito comum. Ao jogar, pude entender que os espanhóis do Aeternum Game Studio quiseram dizer que seu jogo tem, de fato, ênfase em desafios de plataforma muito acima da média, com diversos trechos que o tornam um parente claro do subgênero “plataforma de precisão” (como Celeste, por exemplo).

Não demorou até que fosse lançada uma atualização com melhorias de qualidade de vida e, principalmente, opções entre dois modos de dificuldade. O Modo Noctis é o mesmo do lançamento original, mas o Modo Aeterna é mais misericordioso nos saltos, por conter mais pontos de apoio e menos perigos ambientais para você evitar enquanto salta pelo cenário. Esse modo é voltado para quem quer focar na exploração e no combate sem se frustrar com a precisão de plataforma exigida. Podemos ver a diferença ao comparar as imagens abaixo, publicadas pelo estúdio:





Alguns troféus são exclusivos ao Modo Noctis e você pode mudar a dificuldade a qualquer momento do jogo. Iniciei no Modo Aeterna, mas logo quis experimentar os desafios de plataforma e modifiquei a opção, permanecendo nela até o final em meio à adrenalina e a sentimentos mistos que vêm da alternância entre frustração e satisfação em doses elevadas. A propósito, mudar a dificuldade não interferiu na obtenção dos troféus.

Pit of the Damned também dá alguns passos na direção do equilíbrio ao introduzir novas joias equipáveis. Algumas parecem planejadas tendo em mente o propósito de tornar a dificuldade mais flexível, como a que concede pulo triplo, muito útil para quem consegue se manter no Modo Noctis, mas precisa de ajuda em certas partes. Outra gema previne a perda dos pontos de experiência acumulados ao morrer, diminuindo a punição e incentivando arriscar-se mais na exploração.



Competindo consigo mesmo e com o mundo

A melhor novidade da expansão está nos 13 desafios de tempo espalhados pelo mundo ao longo da campanha. Volta e meia, você encontrará portais que levam a fases fechadas para tentar concluí-las o mais rápido que puder. Cada uma tem um leque predeterminado de habilidades, de forma que jogá-las não depende do seu progresso e todos correm em pé de igualdade. Sim, é uma competição com placar de líderes (leaderboard) entre todas as plataformas, com medalhas de bronze, prata, ouro e platina.


Para os que não alcançam o topo, a graça é competir consigo mesmo em corrida contra o fantasma do seu melhor tempo, sempre buscando otimizar o percurso e alcançar um patamar acima nas medalhas. Não há recompensas in-game, apenas troféus e conquistas, além da diversão de aprender e superar a si mesmo em fases que vão agradar aos fãs de plataforma, mesmo que sejam bem difíceis: meu alvo foi conseguir medalha de prata em todas elas, e só atingi o ouro em uma.

Todos os portais encontrados são acessíveis a partir da cidade inicial, reunindo os desafios em um único local de forma a facilitar bastante as novas tentativas.



Um poço não tão profundo

Além de vários pequenos ajustes, das joias e dos desafios, Pit of the Damned traz duas novas áreas: o Panteão Ancestral e a Cavidade Orgânica. Minha impressão é que ambas são menos interessantes que a média das áreas do jogo base, tanto nos visuais quanto nos inimigos e no design de níveis. Este último ponto não chega a ser ruim, mas é pouco inspirado, sem adicionar novidades, apenas inchando um jogo que já era enorme e empolgante sem essas áreas. No entanto, têm o mérito de não se arrastar tediosamente como as duas ou três piores partes da campanha principal.

Em termos de história, a expansão é superficial e foca no legado de um dos chefes opcionais de Aeterna Noctis, o cavaleiro Garibaldi. Após ser vencido na primeira vez, ele desafiou o Rei das Trevas (você) a um novo embate. Na época, os jogadores entenderam que se tratava de uma luta secreta que, na verdade, só veio a existir agora no DLC.







O posicionamento das novas áreas em meio ao mapa geral também não alimenta interesse. Eu gosto que o início seja próximo ao começo do jogo, mas fiquei decepcionado com o fato de essa ser a única entrada e saída. É necessário completar o Panteão Ancestral antes de ingressar na Cavidade Orgânica e chegar ao final do conteúdo.

Sendo duas áreas consecutivas, parecem separadas do restante do jogo e não integradas ao mundo e à história, conforme anunciado. Você pode conferir dois bons exemplos de expansões de metroidvanias com zonas enormes conectadas a vários locais diferentes em Dandara e Grime.



O fundo do poço

Agora chegou um momento desagradável. Eu certamente gostei muito de Aeterna Noctis, cujo maior pecado como jogo está nos trechos excessivamente longos. Como produto de software, porém, deixa a desejar, e muito.

Há alguns pequenos bugs que não arranham o conjunto da obra, mas outros são graves demais e podem estragar toda a jogatina. Encontrei dois deles.




Primeiro, congelamentos recorrentes que obrigam a fechar o aplicativo e abrir novamente. Sinceramente, se fosse só isso, eu nem reclamaria muito, mas o pior está nas consequências: arquivos de salvamento corrompidos ao fechar o jogo. O sangue gela quando vem uma notificação de restauração de arquivo corrompido após você ter passado por uma parte muito difícil. A coisa fica mais feia quando você percebe pelo horário do arquivo que não corresponde ao seu último save, mas a um anterior.

Com isso, cheguei a perder o progresso de uma sessão de uma hora e meia, outra de duas horas, além de duas que só me custaram um minuto, e mais umas duas ou três que não deram prejuízo de tempo. Essa recorrência me fez ficar tenso sempre que era a hora de desligar o PS5 ou fechar o jogo para fazer outra atividade no console.




O segundo problema surgiu após mais um travamento ao desligar. O botão que dispara flechas, algo imprescindível para progredir, parou de funcionar de forma intermitente, sem motivo aparente. Do nada, ficava um minuto ativo normalmente e outro inerte, uma situação que me levou a várias perdas e a momentos de espera até que a função retornasse. Uma hora depois, o botão de ataque se juntou ao problema, agravando as consequências do erro e minando minha vontade de continuar jogando, mesmo estando em 91% de completude.

Felizmente, excluir e reinstalar o jogo resolveu a questão dos botões que pararam de funcionar. Porém, quando consideramos que Aeterna Noctis foi lançado há um ano e meio e já teve diversas correções, a persistência de problemas desse nível os torna ainda menos aceitáveis.



Será a noite eterna?

Jogando-o agora pela primeira vez, gostei muito de Aeterna Noctis: Pit of the Damned, ao ponto de persistir mesmo diante de graves problemas técnicos. Por isso, é uma pena que um jogo cujos sucessos de gameplay sejam maiores que as falhas ainda sofra de perda parcial de progresso, congelamentos e botões que deixam de funcionar. Esse é o maior peso na nota de um jogo que, sem tais defeitos, estaria acima da média do gênero.

Os desafios de tempo de Pit of the Damned empolgam, mas as duas novas áreas não se destacam em qualquer aspecto, sendo bem-vindas apenas por dar conteúdo gratuito aos que buscam mais plataforma na pele do Rei das Trevas.



Prós:

  • Expansão gratuita com muito conteúdo;
  • Desafios de tempo com leaderboard mundial empolgam e combinam perfeitamente com a proposta de plataforma que é o cerne do jogo;
  • Novas joias que ajudam a gerenciar a dificuldade.

Contras:

  • As duas novas áreas são pouco atraentes;
  • Sem recompensas in-game para os desafios de tempo;
  • Bugs graves de congelamento, perda de progresso parcial e funções intermitentes tornam o jogo uma questão de risco-benefício que pode exigir paciência daqueles que experimentarem esses erros.
Aeterna Noctis — PC/PS4/PS5/XBO/XSX/Switch — Nota: 6.0
Versão utilizada para análise: PS5
Revisão: Ives Boitano
Análise produzida com cópia digital cedida pela Aeternum Game Studios

Admiro videogame como uma mídia de vasto potencial criativo, artístico e humano. Jogo com os filhos pequenos e a esposa; também adoro metroidvanias, souls e jogos que me surpreendam e cativem, uma satisfação que costumo encontrar nos indies.
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