Activision Blizzard: CEO Bobby Kotick afirma que nunca houve “assédio sistêmico" na desenvolvedora

O presidente ainda disse que a imprensa deturpou a situação e chamou as denúncias dos funcionários de “um movimento para desestabilizar a empresa.”

em 01/06/2023

Durante uma entrevista cedida ao grupo de mídia norte-americano Variety, Bobby Kotick apresentou a sua opinião sobre as acusações de que acobertava diversas condutas inapropriadas dos funcionários do alto escalão da Activision Blizzard. Presidente da desenvolvedora desde 1991, ele negou as denúncias e afirmou que a companhia nunca passou por “problemas de assédio sistêmico.” 


As primeiras suspeitas de que havia algo errado na cultura organizacional da empresa datam de 2019, quando teve início uma investigação sobre o comportamento dos seus colaboradores pelo Departament of Fair Employment and Housing (DFEH) — agência estatal da Califórnia, Estados Unidos, responsável por proteger os cidadãos de práticas ilegais cometidas no local de trabalho.

Depois de dois anos, o órgão conseguiu levantar as informações necessárias para concluir que a companhia conduzia as suas atividades de uma forma incompatível com a lei. Isso porque, no decorrer da investigação, foi observado que muitos empregados da desenvolvedora praticavam abusos sexuais e atos discriminatórios sem a devida punição por parte da alta administração.

Além disso, ainda foram identificadas diversas outras atitudes inadequadas, que demonstraram não somente um enorme desrespeito com as colaboradoras, mas também uma falta de interesse pelo sucesso da empresa. Na medida que foi possível verificar que as mulheres sofriam constantemente assédio sexual, recebiam salários mais baixos que os homens e, quando reclamavam sobre essa situação, eram repreendidas com diversas represálias. 

Como se isso não bastasse, o DFEH indicou que muitos trabalhadores faziam piadas abertamente sobre estupro, delegavam suas responsabilidades para as funcionárias a fim de que pudessem jogar videogame e que as mulheres dificilmente recebiam uma promoção porque “corriam o risco de ficarem grávidas.” 

O pior de tudo, entretanto, foi a denuncia de que uma colaboradora cometeu suicídio enquanto estava viajando a trabalho com o seu supervisor. No decorrer da viagem, ela teria sido vítima de um “intenso assédio sexual”, o que permitiu que o seu superior registrasse fotos dela sem roupa. Em uma profunda falta de respeito, foi informado que essas fotos circularam por toda a companhia durante a festa de fim de ano da empresa.

Por causa de todas essas revelações, o estado da Califórnia abriu um processo contra a Activision para que a corporação atuasse de acordo com as boas práticas organizacionais e que restituisse os salários não pagos, ajustes salariais atrasados e benefícios perdidos para as funcionárias. 

Essa situação acarretou em diversos outros processos de diferentes órgãos governamentais, bem como protestos dos próprios colaboradores da empresa, os quais buscavam melhores condições de trabalho, aumento de salário e um regime de contratação mais transparente. No entanto, a maioria dessas demandas não foram concedidas até hoje.

O cenário se agravou quando veio a público que Bobby Kotick não só sabia desse quadro como também apoiava essas práticas ao se recusar a denunciá-las para o conselho administrativo da empresa. O presidente teria ainda ameaçado matar uma das suas assistentes.

É nesse contexto que ocorreu a entrevista com o grupo de mídia Variety. No encontro, além de comentar sobre outros assuntos, como a compra da Activision pela Microsoft e a tentativa de adquirir a Warner Bros., ele afirmou que o número de relatos de assédio denunciados foram baixos para uma empresa do tamanho da Activision e acredita que forças externas e os protestos dos trabalhadores são os culpados pela piora na imagem da empresa. Confira abaixo alguns trechos da entrevista, em tradução livre:
“Nós fizemos toda forma de investigação possível. E nós não apresentamos um problema sistêmico com assédio — nunca. Nós não tivemos nenhuma daquelas distorções publicadas na mídia. Mas o que nos vivenciamos foi um movimento trabalhista muito disposto em desestabilizar a companhia.

Eu não sentaria aqui para conversar com você se qualquer [denúncia de assédio e discriminação] que você leu naquela narrativa exagerada fosse verdadeira.

Nenhum conselho administrativo em uma companhia não controlada [organização na qual algum grupo detém entre 5% a 50% das ações ordinárias da empresa matriz) permitiría que o CEO de uma corporação continuasse a comandar essa empresa se essas coisas fossem verdadeiras.”
Em relação ao futuro da Activision Blizzard, a desenvolvedora está perto de lançar Diablo 4, Crash Team Rumble e prepara um jogo de sobrevivência cujas únicas informações reveladas é que será encabeçado pelo produtor da série Far Cry, Dan Hay, e que promete apresentar muitos elementos característicos desse gênero em um ambiente recheado de heróis.


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