A Sky Broadband, uma das maiores companhias provedoras de internet do Reino Unido, realizou uma pesquisa com 4.000 mulheres para descobrir como elas se sentem quando estão jogando online. O resultado não foi nada positivo.
Do número total das entrevistadas, 1.960 (49%) afirmaram que sofreram insultos ou assédios enquanto estavam jogando ou transmitindo lives de games pela internet e, quando se trata das mulheres entre 18 a 24 anos, a porcentagem sobe para 75% (3.000).
Em relação às jogadoras que alegaram sofrer maus-tratos, foi possível constatar que 1.568 (80%) receberam mensagens e comentários de cunho sexual e que 30%, o que representa um número de 588 mulheres, foram vítimas de conteúdos com apologias á violência.
A pesquisa ainda revelou a opinião dos jogadores sobre como os games online podem se tornar um ambiente desagradável para as mulheres. Um pouco mais da metade dos participantes (51%) responderam que já presenciaram alguma streamer ser assediada na web.
Com todo esse cenário, é fácil entender porque o estudo também levantou que 25% das jogadoras ouvidas se sentiram deprimidas, bem como 27% temem que as ameaças possam extrapolar o mundo virtual e se tornarem perigos para as suas vidas — o que é um medo compreensível, já que 40% das entrevistadas afirmaram terem sido ameaçadas pessoalmente.
Essas são algumas das razões que explicam porque uma em cada dez mulheres revelaram que chegaram a pensar em suicídio depois de passarem por uma experiência traumática em determinado multiplayer online. E essa situação é vivenciada até pelas profissionais que trabalham na indústria de games.
Renata Miranda é um exemplo disso. Ela é assistente de produção de conteúdo da Guild Esports — empresa fundada pelo ex-jogador de futebol David Beckham e que compete em títulos como Rocket League, Fifa 23 e CS:GO — e contou à emissora de televisão britânica Sky News que joga rotineiramente, mas que o ambiente online pode ser muito desgastante. Confira abaixo trechos da entrevista, em tradução livre:
"Eu acho que uma das coisas mais irritantes é quando eles [os jogadores] te perguntam onde você mora, de onde veio, qual é o seu Instagram, quantos anos tem, se quer os visitar em seus países.
E é um circulo constante de [os jogadores perguntarem] qual é o seu Instagram e as vezes você não quer responder, então você não fala nada.
[...] Mas isso continua e continua até o ponto que eles começam a te xingar e insultar porque eles não estão obtendo a reação que esperavam de você.”Renata Miranda
Entretanto, existem muitas pessoas que estão desafiando esse cenário. A streamer Steffy Evans tem grande importância nessa luta. Além de transmitir lives de jogos como Call of Duty: Modern Warfare II, Minecraft e Fortnite no seu canal do Twitch, Evans usa seu perfil no TikTok para denunciar as ofenças e ameaças que alguns jogadores praticam contra ela nos games online.
“O que eu estou fazendo com tudo isso é trazer uma luz para isso [o fato das jogadoras serem maltratadas nos jogos online] e esperando e impulsionando a confiança das mulheres para que elas continuem jogando o game, mantendo o microfone ligado e até respondam para esses caras.
Obviamente, se eu pudesse levar isso para uma escala maior, eu os baniria permanentemente ou traria consequências para a vida real [desses jogadores].
Mas há um limite para o que eu posso fazer, que é denunciar o que está acontecendo no jogo e [encorajar outras mulheres] a se manterem confiantes e se manifestarem [sobre essa situação].”Steffy Evans
Infelizmente, os comportamentos tóxicos em jogos online não são casos isolados. De tal forma que, mesmo as mulheres representando 51% do público consumidor de games no Brasil, existem diversas campanhas que procuram combater o machismo e outros tipos de preconceito.
Fonte: Sky News