Blast from the Past

Dark Colony (PC): humanos e alienígenas em guerra pela conquista do planeta vermelho

Conheça (ou relembre) este RTS da era de ouro das revistas de jogos para PC que recebeu localização em português e virou sucesso.

em 09/05/2023
Durante as décadas de 1990 e 2000, era muito comum ao gamer brasileiro ter acesso a jogos de PC através da distribuição de CDs por revistas especializadas, como a Senha PC e a CD Expert. Geralmente eram distribuídos jogos de destaque lançados alguns anos antes ou dezenas de demos, pequenos jogos, mods, dentre outros conteúdos que coubessem nos enormes (à época) 700 MB de espaço de um disco.


Essas revistas eram vendidas tanto em bancas de jornais quanto em outros estabelecimentos, como supermercados e papelarias, e a facilidade para se adquirir um exemplar acabou por popularizar alguns jogos que, talvez, não alcançassem êxito se não fosse por essa forma. Um dos jogos que se popularizou no Brasil por meio da distribuição pela CD Expert foi o game Dark Colony, que completa 26 anos de lançamento em 2023.

Um conflito por Marte

Publicado pela Take-Two Interactive em agosto de 1997 para Windows 95 (e posteriormente para Mac OS), trata-se de um jogo de estratégia em tempo real ambientado em Marte num futuro fictício, mais especificamente no ano de 2137: ao descobrir uma fonte energética rara em solo marciano (chamada de Petra-7), humanos começam um processo de terraformação do planeta, visando torná-lo habitável e propício à exploração segura dessa fonte de energia. O projeto ia bem até que os Taar — aliens que buscavam se restabelecer em outro local após drenar todos os recursos do seu planeta natal – entram em conflito com as empresas que realizavam a exploração do Petra-7, e inevitavelmente a guerra começa entre humanos e alienígenas.


O jogo apresenta um modo campanha, um modo single player e um modo multiplayer. No modo campanha, o objetivo do jogador é a conquista de Marte e a eliminação de seus rivais, seja expulsando os aliens, seja aniquilando os humanos, dependendo de qual grupo assuma o controle.

Durante o gameplay, o jogador realiza o controle das unidades de combate por visão aérea, utilizando o mouse para movimentar os soldados, robôs, tanques, aliens, etc. As missões apresentadas durante o modo campanha são variadas: destruir as unidades inimigas e suas bases, explorar Petra-7, recuperar objetos e artefatos raros pelo mapa, utilizar os artefatos recuperados como armas contra os adversários, fugir das instalações do inimigo com vida, dentre outras.

Estratégias de guerra

Conforme o jogador vai desenvolvendo sua base, novos tipos de unidades de combate vão sendo liberadas, tais como tanques e robôs, além de melhorias em seu poder de fogo ou de defesa. Um aspecto interessante é que as unidades de combate disponibilizadas para jogar pelos humanos ou pelos aliens, apesar da aparência distinta, apresentam os mesmos pontos fortes e fracos, sem uma vantagem explícita de um grupo contra o outro.


Para promover estratégias diferentes de combate e conquista entre os oponentes, o jogo adota um ciclo de dia/noite: durante o dia, o campo de visão dos humanos é mais amplo do que o dos Taar, situação que se inverte durante a noite. O ciclo dia/noite se alterna em poucos minutos, trazendo uma maior dinamicidade aos combates.

Os modos single player e multiplayer de Dark Colony permitem que o jogador enfrente até 7 equipes adversárias ao mesmo tempo, controladas por IA ou por adversários reais. No caso específico do modo multiplayer, Dark Colony permite a jogatina através de diversos protocolos de rede, não exigindo o uso de um servidor centralizado e, ao menos teoricamente, podendo ser configurado e jogado em rede até os dias atuais.


No menu principal do jogo, há também a opção Enciclopédia. Nela, o jogador pode conhecer mais sobre todas as unidades dos humanos e dos aliens, seus pontos fortes e fraquezas, a fim de se preparar melhor para enfrentar o adversário e, também, para se defender adequadamente, quando necessário.


Os gráficos de Dark Colony para a época do lançamento são bem detalhados e bonitos, não exigindo muito da máquina, pois são todos pré-renderizados: mesmo os requisitos técnicos exigidos pelo jogo (Pentium 90 MHz, memória RAM de 16 MB, drive de CD-ROM e Windows 95) já eram comuns para máquinas de 1997. Há a presença constante de trilhas e efeitos sonoros que ajudam a compor a ambientação do jogo, trazendo um senso de tensão no ar constante.

Sucesso no Brasil

Um fator que pode ter auxiliado na popularização deste jogo no Brasil, além da distribuição pela CD Expert entre 1999 e 2000, foi a localização do jogo realizada para o nosso idioma. Toda a interface do jogo e o enredo da história apresentado entre as fases foram traduzidos para o português, cutscenes foram legendadas e efeitos sonoros dos personagens humanos foram regravados com termos em português; o que levou os jogadores brasileiros do game a outro nível de imersão, não encontrado na maioria dos outros RTS da época, que vinham ao Brasil sem adaptações.


A popularidade do jogo se manteve alta mesmo anos após seu lançamento e distribuição pela revista: em 2003, o Carrefour solicitou à CD Expert Editora uma tiragem extra exclusiva do jogo para revenda em suas unidades.


Uma curiosidade interessante é que a empresa que desenvolveu o jogo em 1997, a Alternative Reality Technologies, hoje é a Rockstar Toronto, desenvolvedora canadense responsável por sucessos mundiais como os ports para Windows de GTA IV, GTA V e Max Payne 3.

Legado

Alguns meses após o lançamento de Dark Colony, em janeiro de 1998 o pacote de expansão The Council Wars foi lançado, contendo novas missões para o modo campanha e uma extensão da história contada pelo jogo original. Desta vez, no entanto, não houve lançamento no Brasil, ficando o conteúdo extra restrito ao idioma inglês.


Mesmo não tendo feito sucessores diretos ou dando início a uma vasta franquia (como fez Warcraft, por exemplo), Dark Colony deixou um legado de fãs no Brasil por ter sido a porta de entrada do mundo dos RTS a muitos jogadores, tanto aos que estavam tendo seus primeiros contatos com o computador quanto àqueles que puderam aproveitar plenamente um jogo de estratégia contado em seu idioma natal.

Revisão: Ives Boitano

Entendo videogames como sendo uma expressão de arte e lazer e, também, como uma impactante ferramenta de educação. No momento, doutorando em Sistemas da Informação pela EACH-USP, desenvolvendo jogos e sistemas desde 2020. Se quiser bater um papo comigo, nas redes sociais procure por @RodrigoGPontes.
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