O run and gun foi um subgênero dos shooters que ficou muito famoso nos anos 1980 e 1990, com séries como Contra, Turrican, Sunset Riders e Metal Slug, nas quais nós literalmente temos que nos locomover rapidamente, abatendo diversos inimigos pelo caminho. Outras menções modernas que também revitalizaram essa pegada foram Cuphead, Neon Abyss e Enter The Gungeon.
Produzido pela 2ndboss, Wild Dogs funciona como uma prequel de Biolab Wars, outro aclamado título do estúdio brasileiro, e vem trazendo um belo mix de nostalgia e homenagens diversas, com direito a muita ação e um cachorro que é bem mais que uma companhia.
Uma dupla que enfrenta qualquer parada
Nós controlamos o major Frank "Pumpkinhead" Williams e seu escudeiro canino Teddy, que foram convocados pelas forças armadas para combater uma invasão alienígena que está tomando nosso planeta. Com base nessa sinopse, e no que expliquei acima, já é de se esperar que basicamente só iremos correr e atirar, mas a surpresa fica na variedade de perspectivas que Wild Dogs oferece.
Começamos de maneira esperada: a pé em um cenário cheio de inimigos e plataformas, nos locomovendo rapidamente até chegar a um dos sub-chefes. Cada ser que aparece pelo cenário, de ambas extremidades da tela, tem seu padrão ofensivo, então basta alguns poucos minutos para que a tela já esteja infestada de rajadas vindo de direções diversas. Pelo caminho, podemos melhorar nossa arma, que dispara projéteis simples, múltiplos, mísseis teleguiados, bumerangues e até vira um lança-chamas.
Quando parecia que tudo ia ficar no mesmo plano, após liquidar um dos inúmeros sub-chefes, rolou uma pequena cena que colocou o major em um helicóptero e de repente lá estava eu, em um shoot ‘em up de progressão lateral. Essa mistura de estilos torna Wild Dogs muito mais charmoso do que era de se esperar. Não se trata só de nostalgia, mas sim de uma junção de referências de jogos de ação que combinam perfeitamente.
Ao longo dos seis territórios que visitamos, que têm uma duração bem mais longa do que eu estava acostumado na época do meu Mega Drive, o jogo traz variantes que ajudam a diversificar a jogabilidade de maneira rica. Além do que já falei acima, também temos trechos com aviões em progressão vertical, briga de mechas com kaijus, tiroteios sobre duas rodas em alta velocidade, controlamos robôs voadores e tem até um trecho que foi feito com base no trauma de muitos jogadores que sofreram na mão de um certo jogo protagonizado por sapos.
Ted tem um importante papel de destaque, pois ele também pode pilotar um traje de combate e é utilizado em trechos estreitos, nos quais Frank não consegue passar. Talvez a única coisa que faça falta para alguns é a ausência de um multiplayer local, pois a dificuldade, também característica do gênero, consegue exigir bastante dos jogadores mais habilidosos. É possível liberar trapaças, mas isso não quer dizer que elas tornem a nossa vida mais fácil.
Todos esses diferentes estilos formam uma bela composição, como se juntássemos o suprassumo daquela época em um lugar só. Isso é um deleite para fãs do gênero e eu me incluo totalmente neste grupo. Mesmo com as diversas alterações, os comandos respondem prontamente, sem causar nenhuma bagunça ou confusão em quem está no controle.
Da cor que eu quiser
Algo que já é característico da 2ndboss é o estilo 8-bit com cores vibrantes, como visto no já citado Biolab Wars, além de Milli & Greg e Savage Halloween, mas Wild Dogs traz uma paleta de cores mais monocromática, e isso é uma outra referência bastante perspicaz.
Quem já teve um Game Boy vai perceber que os visuais parecem ser os mesmos do portátil, como se Wild Dogs fosse jogado em um cartucho na tela de fundo verde. Entretanto, podemos mudar a paleta de cores a qualquer hora, com o toque de um botão. São mais de 50 opções disponíveis para deixar tudo nos seus tons preferidos, desde o preto e branco até tonalidades de azul, amarelo, vermelho ou magenta.
Pode parecer algo muito aleatório ou só perfumaria, mas essa sutileza também é uma referência; no caso, ao Game Boy Color. Alguns cartuchos, como Street Fighter II, Bomb Jack e Tetris, podiam ter suas cores alteradas logo ao ligá-los, com a combinação de um direcional e os botões A ou B. Junte essa liberdade com os filtros de tela, que combinam tanto com a alta resolução widescreen quanto com a disposição de telas menores, como as das TVs de tubo, e ficamos com um verdadeiro túnel do tempo nas mãos.
A trilha sonora também não decepciona, com melodias chiptune que evocam o melhor dos consoles e arcades daquela época dourada dos títulos de ação. É impossível não balançar a cabeça ou bater os pés no ritmo de cada música ao revisitarmos cada fase — e acreditem, isso vai acontecer muito.
O melhor amigo de um soldado
Wild Dogs pode ter sido criado com a intenção de ser um run and gun retrô, mas a junção de elementos que ele trouxe o tornou algo muito maior. É uma recomendação que eu faço sem pensar duas vezes para quem quer experimentar o gênero ou para quem já é veterano. Sua vontade de ação e nostalgia com um bom desafio certamente será saciada.
Prós
- Variação de estilos de jogos de ação dos anos 1980 e 1990 implementados ao longo do jogo;
- As fases não se resumem a derrotar apenas um chefe, com diversos tipos de inimigos;
- Visual com escalas de cores baseadas no Game Boy, podendo ser alteradas livremente;
- Um cachorro dentro de um robô com alto poder de destruição é algo bem legal.
Contras
- A dificuldade pode ser um empecilho para alguns jogadores;
- Um multiplayer local cairia bem.
Wild Dogs — PC/PS4/PS5/Switch/XBO/XSX — Nota: 9.5Versão utilizada para análise: PS4
Revisão: Davi Sousa
Análise feita com cópia digital cedida pela QUByte Interactive