Impressões: PARANORMASIGHT: The Seven Mysteries of Honjo (Multi) promete uma experiência sombria de altíssima qualidade

Jogamos o primeiro capítulo da aventura textual escrita por Takanari Ishiyama.

em 01/03/2023
PARANORMASIGHT: The Seven Mysteries of Honjo
é um jogo de aventura textual em estilo visual novel com elementos de mistério e terror desenvolvido pela Square Enix com escrita e direção de Takanari Ishiyama e design de personagens de Gen Kobayashi. A obra será lançada para PC no dia 8 de março e para Switch no dia 9 de março, além de ter versões planejadas para Android e iOS.

Tivemos a oportunidade de jogar um pouquinho do jogo antecipadamente no PC explorando a primeira história dentre os múltiplos capítulos da obra. Embora eu já estivesse intrigado com a obra desde o seu anúncio na Nintendo Direct japonesa do dia 8 de fevereiro, minha experiência com o jogo foi ainda melhor do que o esperado.

Os sete mistérios de Honjo

Inspirado em uma coletânea de lendas urbanas do período em que a cidade de Tóquio ainda era conhecida como Edo, PARANORMASIGHT conta a história de vários personagens que acabam se envolvendo com essas histórias em busca de um misterioso “Rito de Ressurreição”. Cada um deles tem motivações diferentes e a trama explora os conflitos de interesses quando eles se vêem diante da possibilidade de alcançar esse desejo profundo.

No primeiro capítulo, acompanhamos a história do jovem Shogo Okiie, um rapaz sem grandes perspectivas de futuro que acaba se envolvendo com os sete mistérios de Honjo por conta de uma conhecida por quem tem bastante apreço. Durante um encontro com ela em um parque à noite, Shogo acaba tendo contato com as lendas urbanas e descobrindo que há mais por trás desses mistérios do que ele esperava.

Curiosamente, embora os elementos sobrenaturais e o clima remetam a casos típicos de terror, a obra brinca com a perspectiva do leitor tanto em estrutura quanto em conteúdo. A partir do momento que Shogo entra em contato com a maldição, o rapaz entra em uma caçada alucinante para encontrar outros indivíduos similares.

Em vez de ficar com medo do que está acontecendo, a obra brinca com o papel ativo desse jovem protagonista como um indivíduo movido por suas ambições pessoais. Com um objetivo claro, ele se torna basicamente um “usuário da maldição”, ou seja, alguém que tenta usá-la a seu favor em vez de uma pessoa que sofre os seus efeitos.

O jovem se torna capaz de matar as pessoas caso elas ajam de uma forma específica, algo que também vemos ser o caso para outros indivíduos. O conceito até lembra um pouco a série de mangá e anime Death Note em que Light assumia o papel de Kira e era capaz de matar as pessoas ao colocar os seus nomes em um caderno especial, mas aqui a atmosfera mais sombria e o senso forte de urgência da trama deixam os eventos mais convincentes.

Disputas de poderes sobrenaturais

Um detalhe que me chamou a atenção em particular é a forma como o jogo brinca com o conceito de ter indivíduos com a capacidade de eliminar um ao outro em condições bastante específicas. Cada pessoa possui uma certa restrição para ativar esse poder e o sucesso é um passo necessário para ficar mais próximo do Rito de Ressurreição.

O encontro de pessoas com “maldições” é uma disputa de inteligências em que essas pessoas tentam medir a capacidade uma da outra sem saber exatamente as condições de seu oponente. Curiosamente, a solução para esses enigmas às vezes envolve brincadeiras metalinguísticas, colocando o jogador para pensar fora da caixinha na sua interação com o título.

O conceito de visual novel muitas vezes deixa as pessoas pensando em uma obra pouco interativa devido ao foco em texto, porém PARANORMASIGHT faz questão de brincar com a perspectiva do jogador e criar uma experiência diferente. Em partes, o primeiro capítulo até lembra um pouco elementos meta da série Metal Gear Solid, mostrando que há um campo fértil que ainda pode ser explorado dentro do gênero, com certa engenhosidade no design.

Ao mesmo tempo, a atmosfera de terror é bastante imersiva. Durante os diálogos, a câmera faz zooms e brinca com a sensação de estar constantemente se aproximando das pessoas sem entender as suas intenções. Durante a exploração dos cenários, vemos os ambientes em formato 360º de forma similar a Alternate Jake Hunter: Daedalus: The Awakening of Golden Jazz (Multi), sendo possível interagir com os objetos para entender o que está acontecendo, conferir os itens em posse do personagem ou devanear em busca de detalhes e caminhos alternativos.

Além do visual sombrio, há algumas alusões a televisões de tubo nas deformações das imagens e o jogo brinca bastante com perspectiva e presença dos personagens em tela. Em comparação com o usual do gênero, temos uma obra com uma cinematografia muito rica e que explora a fundo o que dá para fazer com mudanças de ângulo, foco e zoom para a construção das cenas.

O resultado é muito envolvente, assim como os efeitos e a trilha sonora, que são fundamentais para a construção da atmosfera, como usual para obras de terror. Curiosamente, mesmo sem dublagem dos personagens, a escrita em inglês é tão fluida e cheia de personalidade que os indivíduos desenhados por Gen Kobayashi (The World Ends With You) parecem vivos e bem expressivos. As únicas vozes presentes no primeiro capítulo são de criaturas fantasmagóricas, reforçando o quão assustadora é a situação.

Brilho oculto de um jogo ainda pouco comentado

Tendo jogado apenas o primeiro capítulo de PARANORMASIGHT: The Seven Mysteries of Honjo, estou profundamente cativado pela proposta, pela atmosfera sombria muito bem conduzida e pelas possibilidades que a obra explora já na sua introdução. Fiquei honestamente surpreso com a alta qualidade de todos os seus elementos e, se a obra conseguir manter o nível até o final, teremos em mãos um belo competidor a um dos melhores jogos do ano.

Revisão: Ives Boitano
Texto de impressões produzido com cópia digital cedida pela Square Enix


é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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