Análise: Dead Cells: Return to Castlevania (Multi) é uma ótima homenagem à série de caçadores de vampiros

A expansão se apoia em nostalgia para trazer conteúdo conservador direcionado aos fãs.

em 15/03/2023

O roguelite de ação Dead Cells nunca escondeu que sua principal inspiração foi a série Castlevania, em especial os títulos clássicos. Agora, o ciclo se completa com a expansão Return to Castlevania, um tributo à franquia de caçadores de vampiros. O novo conteúdo é caprichado e traz ao mundo de Dead Cells elementos icônicos, como armas, personagens e músicas. O DLC é bem competente, mas, em sua essência, é simples e focado em agradar aos fãs.

Explorando o castelo do Drácula

Em uma de suas explorações pela ilha, o protagonista sem cabeça de Dead Cells acaba encontrando um homem chamado Richter Belmont. O guerreiro pede ajuda: Castlevania, o castelo de Drácula, reapareceu, o que indica que o terrível vampiro está em vias de ser revivido. O Sem-cabeça não tem compromissos urgentes, e, pensando em possíveis tesouros escondidos nesse novo local, decide ajudar o caçador de vampiros.


Na expansão, exploramos o castelo de Drácula em novos estágios. A jogabilidade frenética de Dead Cells segue intocada, ou seja, utilizamos inúmeras armas para enfrentar inimigos enquanto atravessamos rapidamente os cenários com mapas gerados proceduralmente. A estrutura das fases é um pouco mais elaborada, contando com muitos caminhos alternativos e até mesmo pequenos puzzles e segredos. O conteúdo é encaixado naturalmente na campanha principal, parece até que ele faz parte do jogo desde o lançamento.

O grande diferencial, naturalmente, é o conteúdo inspirado em Castlevania, em especial Symphony of the Night. Pelo caminho, encontramos personagens icônicos da série, como Richter, Alucard e Maria. O castelo do Drácula conta com inimigos inspirados na série, e muitos pontos dos cenários têm referências e easter eggs. Além disso, é possível liberar inúmeras armas clássicas, como o chicote Vampire Killer, a cruz-bumerangue e os frascos de água benta, e roupas que nos transformam em vários personagens de Castlevania. O mais legal é que todos os desbloqueáveis podem ser utilizados na campanha principal.



Um conteúdo competente, mas sem grandes surpresas

Return to Castlevania é mais tradicional do que aparenta. A expansão não altera profundamente as mecânicas de Dead Cells, o que significa que a jogabilidade continua ágil, acelerada e muito difícil. Particularmente, gostei muito dos equipamentos clássicos de Castlevania, pois se percebe o cuidado da desenvolvedora ao adaptá-los ao universo do roguelite. Não só isso, as armas oferecem novas estratégias com suas características distintas.

Os novos estágios não contam com surpresas significativas e parecem muito com os da campanha principal, mas não deixam de ser interessantes. A área inicial, que se passa nos arredores da fortaleza, é mais linear e direta, como nos primeiros Castlevania. Já o interior do castelo tem mapas mais elaborados e múltiplas rotas, de forma parecida a Symphony of the Night. Três novos chefes foram adicionados e, como é de praxe, são bem difíceis. Há, inclusive, um modo especial em que controlamos Richter, com direito a elementos de jogabilidade clássicos — é curto, porém diverte.


Um ponto que incomoda é a maneira de acessar as novas fases: para entrar na versão final do castelo e no modo Richter, é necessário atravessar praticamente toda a campanha do jogo base, o que deixa as coisas um pouco cansativas. Ao menos há alguns segredos a serem descobertos nos estágios inéditos, nos incentivando a visitá-los mais vezes.

Apoiando-se no universo vampiresco gótico

O maior apelo da expansão é a nostalgia, sem sombra de dúvidas. O novo conteúdo está recheado de referências e adaptações e me diverti com os pequenos detalhes, como o estranho poliedro que permite salvar o jogo em Symphony of the Night, Shanoa (de Order of Ecclesia) como a nova responsável para desbloquear itens e inúmeras ilustrações retratando cenas da série espalhadas nas paredes do castelo. Além disso, usar skins de heróis liberam diálogos alternativos, pois os personagens pensam que estão conversando com os originais — é impressionante a atenção aos detalhes.


A adaptação do mundo gótico de Castlevania ao estilo pixel art de Dead Cells é competente, ficando o visual bem natural dentro do universo do jogo. O DLC conta com mais de 50 músicas da série de caçadores de vampiros, que podem aparecer em diferentes fases do jogo base. Foram incluídas também versões reimaginadas no estilo musical do roguelike, mas, particularmente, achei o resultado bem mediano.

Porém, é difícil não ficar com a sensação de que a expansão é direcionada especificamente para fãs de Castlevania. O motivo disso é que o conteúdo se apoia demais em nostalgia, como skins de personagens e algumas poucas armas, em vez de trazer uma experiência mais diferenciada. Os estágios, por exemplo, são estruturalmente idênticos aos da campanha principal, e os três novos chefes são uma adição pouco significativa. Levando em conta que o jogo base já oferece quantidade extensa de conteúdo, esse DLC tem mais apelo para quem quer ver Richter, Alucard e Drácula no mundo de Dead Cells.



Uma mistura eletrizante e modesta

Dead Cells: Return to Castlevania é um crossover notável e repleto de qualidade. O conteúdo da série de caçadores de vampiros é introduzido no universo de Dead Cells de forma criativa, com novas fases e equipamentos que enriquecem ainda mais a experiência. As inúmeras referências são o ponto alto da expansão, mas faltou um pouco de identidade, pois os estágios e chefes não são tão diferentes do que já é oferecido na campanha principal. De qualquer maneira, este DLC é essencial para fãs tanto de Dead Cells quanto de Castlevania.

Prós

  • Ótima adaptação da atmosfera de Castlevania ao mundo de Dead Cells, com direito a inúmeras referências;
  • Boa variedade de conteúdo, que também pode ser aproveitado na campanha principal.

Contras

  • Novos estágios parecidos demais com os do jogo base;
  • Acessar parte do conteúdo inspirado em Castlevania é muito custoso.
Dead Cells: Return to Castlevania — PC/PS4/XBO/Switch/Mobile — Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Motion Twin

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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