Análise: Postal 4: No Regerts (Multi) — Sem arrependimentos e sem a menor noção

Não bastou ser questionável no PC: o jogo vem para destilar sua bizarrice nos consoles da Sony de maneira totalmente esquecível.

em 23/03/2023
Todo ser humano, sem exceção, toma decisões questionáveis na vida. Um exemplo mais do que didático é o port asqueroso de Postal 4: No Regerts, que acaba de chegar ao PS4 e PS5. A sequência de Postal 2 - e não, não há um 3 - já havia sido lançada para PC no ano passado e ali já foi reportada uma quantidade de erros capaz de explodir qualquer hardware.

Eu não condeno jogos satíricos, até gosto bastante. Perdi boas horas com pérolas do naipe de Goat Simulator, DEEEER Simulator, Saints Row e até o lendário Conker’s Bad Fur Day. Entretanto, Portal 4 extrapola qualquer limite do engraçado, sendo só algo forçado em todos os sentidos possíveis.

Esforço sobre-humano para coisas simples

Controlamos um protagonista que é chamado apenas de “Postal Dude” e anda de roupão para lá e para cá. Após ter sua casa em Paradise destruída, ele busca uma maneira de viver dignamente em Edensin. Logo, sua missão é arranjar um emprego, qualquer um. Isso inclui até limpar encanamentos cheios de…vocês já devem saber do que.

Porém, não se enganem. Essa “narrativa” tem a valia de uma página rasgada de gibi, pois tudo se torna um grande pretexto para agredir quem está pelo caminho, urinar nas pessoas, atropelar animais e cometer outras atrocidades.

OK, se levarmos para o lado do caos, isso até poderia ser divertido, mas a execução disso tudo é vexatória num nível imensurável. A movimentação do personagem é lenta e estranha, como se estivesse se arrastando constantemente, com destaque especial para as sessões que envolvem saltos, que são tão divertidas quanto arrancar um dente sem anestesia.

Se a pé é ruim, dirigindo é pior, pois podemos alugar scooters para nos locomovermos pela área. Só que dá menos trabalho ir a pé, já que o manejo delas é impreciso a ponto de fazermos curvas na reta e vice-versa. Se atropelamos alguém, só iremos perceber se girarmos a câmera, pois a pessoa surge embaixo do veículo tal qual um problema no motor.

Além disso, existem inúmeras telas de loading que demoram demais para ser carregadas e não é para por aí. Sempre que trocamos de área e passamos pelo carregamento, a performance do jogo cai demais, como se ele estivesse rodando em uma torradeira. Isso dá margem para diversos bugs e crashes, que me levaram a reiniciar o jogo mais de uma vez para ver se as coisas se normalizavam.

Quanto à parte de acertar alguém sem restrições, com qualquer arma ou utilizando socos e chutes (o que deveria ser a parte de sair por aí loucamente sem perdoar nem os cachorros da rua) é pior ainda. Mirar com a arma é um exercício de paciência extrema e as pessoas precisam de vários tiros para morrer. Claro que quando elas caem, ficam contorcidas no chão, ou até mesmo atravessadas.

Quem tem limite é município

Se você começou a jogar em um PlayStation 2 ou em um Gamecube, lá no início da década de 2000, com certeza se lembrará de como eram os gráficos dessa época gloriosa com o ambiente de Postal 4. E eu não estou falando dos bons exemplos, e sim dos mais feios e repetitivos, que davam aquela sensação de um mesmo prédio ter sido usado 300 vezes em menos de um quilômetro. As texturas e modelos são terríveis, o que é reforçado pelo visual low poly utilizado.

Outro potencializador é o fato do jogo ser em teoria um FPS de mundo aberto, mas na prática ser um local vazio, inexpressivo e nem um pouco cativante. Podemos até acionar um mapa, mas ele também é bastante vago e pouco auxilia a chegar ao objetivo.

A cereja (podre) do bolo (estragado) está no senso de humor. Já disse que gosto muito de produções satíricas, mas aqui todos os limites foram extrapolados. Parece que a única ideia do jogo é ofender de graça, sem mais nem menos. Não dá nem para justificar, dizendo que esse é o jeito do protagonista ou que essa linguagem é bem sacada. É puro e simplesmente chulo.

Nem a quinta-série teria ido tão longe assim

Postal 4: No Regerts é simplesmente algo de que você tem que manter distância. Ele não se salva pelo humor, nem pela jogabilidade, nem pelos visuais, nem por nenhum motivo que eu tente imaginar para achar algum ponto positivo. 

Tudo bem, com certeza algumas pessoas que jogaram o título anterior vão dar uma chance para este e podem até gostar, até porque ele foi portado do PC para os consoles. Mas se você não faz parte desse seleto grupo, não vale correr esse risco.

Prós

  • Poder desinstalar do console

Contras

  • Este jogo existir
Postal 4: No Regerts — PC/PS4/PS5 — Nota: 0.5
Versão utilizada para análise: PS4
Revisão: Juliana Piombo dos Santos
Análise feita com cópia digital cedida pela Running With Scissors

é amante de joguinhos de luta, corrida, plataforma e "navinha". Também não resiste se pintar um indie de gosto duvidoso ou proposta estranha. Pode ser encontrado falando groselhas no seu twitter @carlos_duskman
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