Análise: Fatal Frame: Mask of the Lunar Eclipse (Multi) é um bom jogo de terror para os amantes do gênero

Embora o game tenha algumas características que podem afastar novatos, ele oferece um prato cheio para os fãs.

em 17/03/2023

Um dos consoles de maior sucesso da história, o Nintendo Wii não exatamente ficou famoso pelos seus jogos voltados para um público mais velho. Dentre as exceções, temos Fatal Frame: Mask of the Lunar Eclipse, um game de terror no melhor estilo japonês. Depois de quase 15 anos após o lançamento original, finalmente ele foi portado para os consoles mais modernos, assim como para o Ocidente.

Mas até que ponto esse relançamento é realmente uma boa pedida, sobretudo considerando os tempos atuais? É o que vamos explorar nesta matéria repleta de sustos e fotografias. Portanto, pegue a sua câmera, troque as pilhas da lanterna e não esqueça do rolo de filme, pois a análise vai começar!

Um álbum enorme

Antes de iniciar a análise propriamente, uma pequena introdução: a série Fatal Frame, também conhecida como Project Zero em algumas regiões do globo, estreou em 2001 no PS2. Desde então, mais seis títulos inéditos foram lançados, sendo o último de 2014, chamado Maiden of Black Water. Dentre eles, tivemos no ano de 2008 Mask of the Lunar Eclipse, original do Nintendo Wii e até então exclusivo para o Japão.
A boa recepção garantiu a oportunidade para a remasterização
Chegamos em março de 2023, quando Fatal Frame: Mask of the Lunar Eclipse chegou ao PC e aos consoles da geração atual e passada. O lançamento atual é um típico remaster, ou seja, conta com melhorias visuais, ajustes na jogabilidade (principalmente devido ao original ser para Wii) e alguns conteúdos inéditos. Nada exagerado, mas as novidades e mudanças são, em sua maioria, bem-vindas.
 
A história é a seguinte: em 1970, cinco jovens são sequestradas de um sanatório em uma ilha no Japão. Elas são resgatadas por um detetive, mas acabam perdendo a memória dos acontecimentos. Dois anos depois, todos os habitantes da tal ilha morrem e, dez anos depois do primeiro incidente, duas das jovens salvas morrem misteriosamente. Buscando investigar o seu misterioso passado, duas sobreviventes retornam ao local.
Por fim, a última das cinco jovens também resolve ir para a ilha, seguida pelo detetive que as salvou, por sua vez motivado por um pedido da mãe dela. A ilha é chamada de Rougetsu, sendo que o sanatório é o palco principal da aventura. Para chegar ao final, é preciso lidar com toda sorte de espíritos assustadores, salas médicas sinistras, itens amaldiçoados e máscaras misteriosas.

Jogando com a luz acesa

Como deve ter ficado claro, Mask of the Lunar Eclipse tem um enredo repleto de mistérios, resultando em vários sustos, reviravoltas e momentos emocionantes. O foco no terror é mais proeminente, com algumas pitadas de horror. A história se desenvolve sob os olhares de Choushiro (o detetive), Misaki e Ruka (duas das jovens sequestradas), sendo a última a protagonista principal do game.
Ruka precisa explorar um sanatório assustador
Apesar da intercalação entre os personagens, não existe uma interação direta entre eles. Na verdade, é como se eles estivessem vivendo em períodos temporais distintos, sem entrar em maiores spoilers. Existe um certo equilíbrio entre os temas sobrenatural e psicológico (pendendo mais para o primeiro), o que confere mais profundidade à trama e às experiências de cada um. Gostei bastante da forma como ela é apresentada, com exceção do excesso de material para leitura.
Misaki compartilha a aventura com sua própria visão
Não há problema em contar uma história num videogame utilizando várias formas diferentes: textos, cutscenes, áudios, cenas no jogo, etc. O problema é exagerar em uma delas, sobretudo de forma estática e carregada. Talvez uma espécie de distinção das notas e cadernos críticos tivesse sido uma boa solução, assim como tocá-los via áudios ao fundo enquanto continuamos com as explorações.
É preciso paciência para ler tudo, ainda mais porque várias informações importantes estarão lá
Seja como for, a campanha se divide em 12 capítulos (mais uma introdução breve), cada um deles oferecendo tarefas que envolvem exploração, quebra-cabeças e combates (mais sobre eles a seguir). O nível de dificuldade é equilibrado, exigindo bom senso e posicionamento aliados a reflexos rápidos e alguma capacidade de raciocínio lógico.

Boas e não tão boas ideias

O cerne de Fatal Frame, como o nome sugere, é enfrentar espíritos hostis utilizando uma câmera (o detetive utiliza uma lanterna com funcionamento bem semelhante). Ao tirar um retrato do fantasma, causamos dano ao inimigo e conseguimos pontos valiosos. Obviamente, a criatura não deixa barato e ataca o jogador, além de desaparecer pelas paredes e se mover para evitar o foco do dispositivo.
Eles fazem isso porque é preciso manter o espírito no centro do frame para que o ataque seja fatal. Parece estranho (e é), mas é bem divertido e emocionante. Conforme avançamos no game, liberamos novos tipos de lentes, filmes fotográficos mais poderosos, entre outros elementos úteis. Todos os personagens se deslocam de maneira lenta, tornando cada movimento uma escolha importante, sobretudo quando estamos com a câmera apontada.
Melhorar a câmera e gerenciar os filmes é fundamental
Aqui vem a segunda crítica a Mask of the Lunar Eclipse: embora seja aceitável nos combates, pois isso torna-os mais acirrados, a locomoção limitada pelos cenários torna o ritmo lento em muitas oportunidades. Atravessar um corredor longo ou subir escadas devagarinho é útil para dar o tom apreensivo, mas também é chato no longo prazo.
Coletar objetos também é um tanto demorado
Tal como no caso dos textos, bastaria limitar a lentidão a determinados momentos, como os combates. Felizmente, os cenários são bem pensados e exigem vai-e-vem pontuais, sem torná-los repetitivos. Gostei bastante do game “trancar” o jogador em salas que ainda têm itens-chave para serem coletados, evitando que seja preciso retornar apenas por alguma desatenção.
O mapa bem detalhado e apresentado foi uma grata surpresa
Aliás, esse esmero é recorrente em vários pontos, como por exemplo o uso de filtros. Em certos momentos, tanto a imagem quanto o áudio são modificados para passar uma sensação extra de suspense ou terror. Dessa maneira, desviar dos espíritos ou tirar uma fotografia/lançar um flash com a lanterna pode ser bem complicado. Aliás, as seções de Choushiro oferecem combates mais intensos, embora também mais dinâmicos.

Faltou um pouco de foco

A remasterização fez bem a Fatal Frame: Mask of the Lunar Eclipse, pois o game de 2008 certamente não estaria em um nível razoável frente as produções atuais. Os destaques ficam pelos cenários, que contam com uma iluminação mais caprichada, e os personagens, mais bonitos e detalhados. É uma pena que várias texturas não foram atualizadas, resultando em cenas bem feinhas, e que as expressões faciais não tragam muita emoção (mesmo em meio a momentos bem tensos).
Remasterização (esquerda) e original: ambientes agora tem iluminação melhor distribuída
Por outro lado, a trilha e os efeitos sonoros continuam afiadíssimos: as músicas macabras, os gritos assustadores, os estalos e demais ruídos são ótimos exemplos de como o game oferece uma competente experiência do gênero terror. Vale a pena prestar atenção em tudo que acontece ao redor, ainda mais porque é possível encontrar itens escondidos e fotografar espíritos não agressivos para ganhar pistas ou pontos.
Com eles, é possível comprar itens para recuperar a vida, rolos de filme, cosméticos como roupas e acessórios (muitos deles adicionados pela remasterização), entre outros. Aqueles que gostam de explorar cada cantinho dos cenários têm um prato cheio em Fatal Frame: Mask of the Lunar Eclipse, desde que estejam dispostos a tomar um susto de vez em quando e a suportar a jogabilidade capenga.
 
Afinal, vale lembrar que o original era para Wii, com seus controles únicos. A adaptação para os consoles mais modernos não passou ilesa e tornou determinados movimentos, sobretudo atos como virar o personagem ou apontar a lanterna para um ponto escuro, tarefas por vezes complicadas (faltou também melhor uso do DualSense. Somente a paciência e a experiência minimizam esse ponto negativo. No final, creio que, apesar de competente nos pontos principais, o título não apresenta nenhuma característica imperdível.
Vários cenários aterradores e interessantes
Ou seja, algo que o tornaria obrigatório mesmo para quem não o conhece ou não é um fã do gênero. Em outras palavras, ele não é como um Persona 5 Royal, Doom Eternal ou Hades, que trazem tanta qualidade que se tornam praticamente obrigatórios para qualquer jogador experimentar. Confesso que demorei para me acostumar com as mecânicas e suas particularidades, algo que nem todo mundo esteja disposto a investir seu tempo (e dinheiro).

Um frame nem tão fatal

Após dar uma boa olhada no álbum completo, é possível dizer que Fatal Frame: Mask of the Lunar Eclipse é composto por uma maioria de fotos com boa qualidade. O jogo em si é divertido e sólido, entregando uma história competente e combates inusitados e viciantes. A exploração e a resolução de quebra-cabeças também são pontos fortes, assim como os pontos positivos trazidos pelo processo de remasterização.
Mais um game interessante de terror para a sua biblioteca
Infelizmente, ele não livrou o jogo de algumas texturas muito feias e uma jogabilidade confusa quando tentamos controlar os personagens e suas lanternas. Também não ajuda que a exploração seja um tanto lenta e o desenvolvimento do enredo exija muita leitura. Embora um remake talvez tivesse sido uma opção melhor, esses problemas não chegam a comprometer a experiência, sobretudo para os fãs do gênero ou aqueles que ficaram muito curiosos por essa proposta única e competente.

Prós

  • Jogo de terror de alta qualidade técnica e de conteúdo;
  • A história é competente e traz desdobramentos interessantes;
  • Visuais em geral são bonitos, sobretudo para criar o clima de tensão e mistério;
  • Mecânicas de jogo são funcionais e divertidas, com destaque para os combates utilizando a câmera ou a lanterna;
  • O trabalho de som é ótimo.

Contras

  • Produção técnica deixa a desejar em pontos como jogabilidade e animações faciais; 
  • Ritmo da jogatina é lento em diversos momentos;
  • Compreensão completa do enredo exige muita leitura.
Fatal Frame: Mask of the Lunar Eclipse — PC/PS4/PS5/Switch/XBO/XSX — Nota: 7.5
Versão utilizada para análise: PS5
Revisão: Vitor Tibério
Análise produzida com cópia digital cedida pela Koei Tecmo

é produtor de conteúdo sobre games desde 2016 e um grande fã da décima arte, embora não tenha muito tempo disponível para ela. Seus games favoritos (que formam uma longa lista) incluem: KH, Borderlands, Guitar Hero, Zelda, Crash, FIFA, CoD, Pokémon, MvC, Yu-Gi-Oh, Resident Evil, Bayonetta, Persona, Burnout e Ratchet & Clank.
Também encontra-se no Twitter @MatheusSO02 e no OpenCritic.
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