Produzido pela Thing Trunk e publicado pela Skytone Games Inc., HELLCARD é um spin-off de Book of Demons (Multi), jogo com elementos de RPG e hack ‘n slash lançado para PC em 2018 e consoles em 2020. Desta vez, os desenvolvedores aproveitaram o universo criado anteriormente em um roguelike com construção de baralhos que, apesar de não ser inovador, adota alguns elementos de estratégia muito envolventes.
Uma custosa batalha nas masmorras de papel
A aventura de Hellcard se passa ao longo dos 12 andares de uma masmorra. No controle de uma equipe de heróis, precisamos enfrentar inúmeras criaturas malignas para chegar ao andar do poderoso chefe. A Thing Trunk aproveitou os mesmos visuais do jogo original, com personagens e cenários feitos a partir de papéis dobrados, criando uma ambientação belíssima e bem imersiva.
Temos à disposição três classes distintas de personagens: guerreiro, ladina e mago. Nossa party pode ser formada por até três heróis, podendo mesclar ou não as diferentes opções. Cada um dos andares da masmorra possui uma série de desafios diferentes e nosso objetivo é sempre o mesmo: eliminar todos os inimigos do cenário.
O combate ocorre em turnos e os ataques de sua equipe são definidos pelas cartas presentes no baralho. Cada classe de herói possui um conjunto de cartas único: o guerreiro é focado em cartas de combate em curto alcance; a ladina em ataques de longo alcance; e o mago, em ataques mágicos.
O que diferencia Hellcard de outros jogos de combate baseado em cartas é a questão do posicionamento dos inimigos. Os heróis ficam no meio da arena, no centro de uma pequena circunferência definida como "zona próxima”, enquanto o restante do cenário é a “zona distante”. Boa parte das cartas dão diferentes danos de acordo com a posição dos inimigos em cada uma das zonas.
Por exemplo: a carta Sword Slash, presente no deck do guerreiro, inflige 2 de dano em inimigos próximos e 1 quando distantes, enquanto a carta Sharp Arrow, da ladina, faz o oposto. Além desses exemplo básicos, há cartas para ataque em área, proteção e que infligem condições como paralisia e congelamento.
Essa característica traz um nível de estratégia muito interessante. A escolha das cartas deve ser feita com muito cuidado, sempre visando eliminar ou imobilizar a maior quantidade de inimigos possível. Cada ataque consome uma quantidade diferente de mana dos heróis, e por este ser um recurso limitado, requer um bom planejamento das ações.
Durante a campanha, podemos encontrar artefatos para equipar na nossa equipe. Tais itens acrescentam habilidades variadas, como aumentar a quantidade de mana, não descartar cartas não usadas, aumentar dano de certas cartas, entre outras. A grande quantidade de artefatos traz à aventura uma dinâmica diferente em cada partida, visto que sua aquisição é aleatória.
Como um roguelike, Hellcard não apresenta inovação e possui os recursos comumente encontrados em outros jogos do gênero. Quando fracassamos em uma run, voltamos ao primeiro andar para começar tudo novamente. A dificuldade é elevada e acredito que seja necessário alguns balanceamentos, tanto para as cartas quanto para os inimigos, mas não chega a ser algo absurdo.
As partidas se tornam únicas pela aleatoriedade de alguns elementos, como cartas novas que podemos acrescentar ao nosso deck e artefatos encontrados entre cada andar. O jogo incentiva diferentes combinações desses recursos para elaborar estratégias mais caprichadas. Ao final de cada partida, de acordo com nosso desempenho, recebemos experiência, usada para desbloquear novas cartas e heróis para nossa equipe.
Um roadmap que gera expectativa
No momento em que escrevo este texto de impressões, Hellcard se encontra na versão 0.5.230221. As atualizações ocorrem quase que diariamente, e atualmente o foco dos desenvolvedores é ajustar o balanceamento do jogo e as melhorias de qualidade de vida dos jogadores. Algumas das atualizações já anunciadas envolvem suporte ao controle e a mods, e a tradução para mais linguagens — inclusive português brasileiro, não disponível na atual versão.
O que me gera mais expectativa são as adições de novas classes, modos de jogo, artefatos, desafios e mais um chefe final. Como Hellcard é relativamente conservador em suas mecânicas, as novidades prometidas serão de extrema importância para manter o título atrativo por um período de tempo maior.
Por mais conteúdo do Livro dos Demônios
Apesar de não entregar o conteúdo mais inovador possível, HELLCARD chama atenção por apresentar uma mecânica de combate interessante. Mesmo com a dificuldade elevada, as partidas são muito divertidas e, mesmo longe de sua versão final, o game já conta com conteúdo o suficiente para elaborarmos as mais diferentes estratégias de combate. As novidades anunciadas em seu cronograma têm potencial para torná-lo mais consistente e interessante ao longo do tempo.
Revisão: Davi Sousa
Texto de impressões produzido com cópia digital cedida pela Skystone Games Inc.