Análise: Grim Guardians: Demon Purge (Multi) traz ação 2D ágil carismática e com toques retrô

Inspirado em clássicos do gênero, este título oferece uma aventura competente e com algumas boas ideias.

em 22/02/2023

Grim Guardians: Demon Purge não esconde as suas inspirações. No controle de uma dupla de caçadoras de demônios, exploramos um castelo em uma jornada 2D recheada de ação e desafios. O título é claramente uma interpretação moderna das aventuras clássicas dos caçadores de vampiros Belmont, mas conta com algumas ideias próprias, como a possibilidade de alternar entre duas protagonistas com habilidades distintas e elementos de exploração. Bom ritmo e ótimo tratamento audiovisual tornam ótima a experiência, salvo alguns pequenos percalços.

Desbravando uma escola transformada em castelo sombrio

As irmãs Shinobu e Maya Kamizono estão indo para mais um dia de aula. Chegando à escola, algo estranho acontece: o local misteriosamente se transforma em um imenso castelo infestado de criaturas sombrias. Essa situação perturbadora não abala as irmãs, pois, na verdade, elas são caçadoras de demônios bem habilidosas. Sem hesitar, a dupla adentra o castelo em busca dos estudantes desaparecidos e do responsável pela transmutação da escola.


Em suma, Grim Guardians é uma aventura de ação 2D bem tradicional. O objetivo é alcançar o final de diferentes estágios e, pelo caminho, há diversos desafios de plataforma e inúmeros inimigos. O diferencial é a possibilidade de alternar entre as duas protagonistas, que têm habilidades e características únicas. Shinobu ataca de longe com uma metralhadora cuja munição precisamos recarregar com frequência, já Maya usa origami para desferir poderosos golpes de curto alcance.

Conforme avançam pelo castelo, as garotas adquirem novas armas secundárias diversas. Algumas são pensadas especialmente para atacar inimigos, como facas lançadas diagonalmente para cima, granadas e amuletos de proteção. Já outras oferecem novas possibilidades de locomoção, como um gancho para se pendurar pelos cenários e origamis que funcionam como plataformas. Os estágios contam com rotas que só são acessíveis ao utilizar certas armas secundárias, o que acaba sendo um incentivo para revisitar as fases.


O jogo pode ser aproveitado com outra pessoa no multiplayer cooperativo. Nele, cada participante controla uma das garotas, alterando sensivelmente o ritmo: saltos complicados ou trechos com muitos inimigos precisam ser atravessados com cuidado e coordenação. Além disso, uma heroína derrotada pode ser revivida pela outra personagem — essa mecânica também está presente ao jogar sozinho. Infelizmente, o multiplayer é exclusivamente local, o que limita um pouco a sua praticidade.

Alternando entre as irmãs para superar desafios variados

Grim Guardians é bem direto e essa característica, para mim, é uma das melhores qualidades do jogo. No controle da dupla de irmãs, destruímos tudo que aparece pelo caminho enquanto avançamos em direção ao chefe. Apreciei a jogabilidade distinta entre as duas: usei Shinobu para acertar inimigos distantes com segurança, enquanto preferi usar Maya contra monstros mais resistentes ou pequenos. Os desafios e o desenho dos níveis são bem pensados para justificar a constante troca de protagonista e gostei de experimentar as possibilidades.


Um detalhe notável é a estrutura da aventura em si. O castelo é dividido em estágios lineares, mas há rotas alternativas, segredos e colecionáveis. Muito desse conteúdo opcional só pode ser acessado com a ajuda de armas secundárias específicas, e nem sempre a solução é óbvia — experimentar as possibilidades é essencial para encontrá-los. O ritmo das fases é acelerado, com mistura equilibrada entre combate, exploração e plataforma.

As batalhas contra os chefes é um dos pontos altos da aventura. Os mestres nos desafiam com padrões de ataques elaborados e algumas ideias únicas, às vezes incluindo elementos de plataforma. Na dificuldade normal, o desafio é balanceado, com alguns pontos mais complicados e que me exigiram mais de uma tentativa. Porém, o jogo conta com um nível mais fácil e até mesmo uma modalidade mais difícil que é liberada depois de terminar a história.



Exploração interessante, mas um pouco custosa

A decisão de incluir rotas alternativas nas fases foi bem acertada, pois nos incentiva a revisitar os estágios após conseguir as armas secundárias. Além disso, muitos desses caminhos são sensivelmente diferentes, fazendo com que a experiência de explorar novamente os cenários seja interessante. Há, inclusive, mais de uma conclusão para a história. No fim, o resultado é um meio-termo entre aventura tradicional e metroidvania, o que é bem bacana.


No entanto, o jogo tem algumas decisões questionáveis. Para começar, muitas das armas secundárias consomem pontos para serem utilizadas, o que acaba atrapalhando a exploração. Muitas vezes eu não consegui acessar uma plataforma ou caminho alternativo por não ter munição para ativar a habilidade necessária. Outro problema é o mapa: ele só aparece brevemente no momento de escolher a fase, depois disso não temos mais acesso a ele. Isso, em conjunto com a ausência de pontos de viagem rápida, deixam a exploração desnecessariamente custosa.

Por fim, por causa de um elemento de história, é necessário revisitar todos os estágios para conseguir chegar ao final do jogo. A segunda vez tem algumas alterações, como caminhos exclusivos, alguns chefes alternativos e até mesmo missões opcionais, mas não deixa de ser irritante essa obrigatoriedade de refazer toda a jornada. Se as diferenças fossem mais notáveis, essa segunda parte seria menos cansativa. Felizmente, o ritmo ágil e os muitos segredos ajudam a atenuar o impacto dessa decisão.



Em um mundo belo e de humor peculiar

Fora sua jogabilidade ágil, Grim Guardians encanta com sua ambientação bem produzida. Como é de praxe da desenvolvedora INTI CREATES, o jogo apresenta pixel art que remete à era 32-bits com animações elaboradas e cenários ricamente construídos. O tema das fases é um pouco conservador, como um salão de entrada, uma biblioteca, uma caverna e uma torre do relógio, mas faz sentido, afinal o título se passa em um castelo. Já a trilha sonora abusa de órgãos, pianos e cordas para trazer um tom gótico à aventura.

Um detalhe curioso é que Grim Guardians é, na verdade, um spin-off de Gal*Gun Double Peace, o mais recente título da série de tiro de comédia sensual. Muitos personagens estão presentes aqui, como o jovem Houdai e as inúmeras garotas da escola, mas não é necessário conhecê-los, pois a trama é contida e autoexplicativa. A franquia Gal*Gun é conhecida por sua excentricidade e isso também está presente neste título, mas de forma mais leve — mesmo assim, fica o aviso para aqueles que se incomodam com esse tipo de conteúdo. No geral, o elenco é carismático, e a localização para o português é competente e bem adaptada.



Caçada frenética e envolvente

Grim Guardians: Demon Purge mistura elementos clássicos com conceitos modernos em uma ótima aventura. A ideia de alternar entre duas heroínas com habilidades distintas é explorada em estágios com boa diversidade de situações e o equilíbrio entre cenários lineares e trechos de exploração são bem dosados.

Algumas decisões incomodam, como a impossibilidade de acessar o mapa livremente, mas a atmosfera carismática e os aspectos audiovisuais bem trabalhados compensam os problemas. No fim das contas, aqueles que gostam de boas aventuras de plataforma vão apreciar Grim Guardians.

Prós

  • Mecânica de alternar entre duas protagonistas traz versatilidade à ação;
  • Estágios variados com combates, momentos de plataforma e exploração muito bem dosados;
  • Boa diversidade de conteúdo, extras e segredos;
  • Ambientação carismática com elaborado visual pixel art e trilha sonora bem colocada.

Contras

  • Atrelar o uso de certas habilidades a itens consumíveis atrapalha a exploração;
  • O mapa poderia ser acessado a qualquer momento;
  • A revisitação forçada dos estágios é um pouco irritante.
Grim Guardians: Demon Purge — PC/PS4/XBO/Switch — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela INTI CREATES

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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