Após o relativo sucesso de Deliver Us The Moon, muito se esperava da sua sequência, anunciada para setembro de 2022, mas que foi adiada para este ano. Deliver Us Mars vem na mesma pegada de contar uma jornada densa com personagens bem desenvolvidos, mas acaba se perdendo com muitas falhas de execução.
A aventura da Ursinha Lunar
Nossa protagonista é Kathy Johanson, filha de Isaac Johanson. Ela foi separada do seu pai enquanto ele deixava a Lua para escapar em uma viagem não autorizada a Marte. Agora, os recursos da Lua estão se deteriorando e uma missão de expedição foi enviada ao planeta vermelho, com Kathy sendo integrante da tripulação, ao lado de Claire, sua irmã mais velha e ferrenha discordante das ideias de Isaac.
É com esses conflitos entre irmãs e os outros dois integrantes da tripulação que Deliver Us Mars tem seu ponto mais forte. Desde a tensão fraternal, que varia entre as dores das opiniões divisoras de Kathy e Claire e uma ser a comandante da outra, até os flashbacks que narram momentos da infância delas, o time de atores faz um ótimo trabalho, carregando cada diálogo com bastante dramaticidade.
A sucessão de eventos torna Kathy uma protagonista com a qual acabamos criando um laço e isso nos leva a continuar a jogar só para ver se ela permanecerá fiel à missão a qual foi destinada, ou se vai ceder ao seu impulso de procurar pelo seu pai nos arredores de Marte.
Para nossa sorte, diferentemente do seu antecessor, Deliver Us Mars traz legendas em português, o que ajuda muito na hora de compreender a tensão de cada cena.
A gravidade da gravidade
Por mais que a história de Deliver Us Mars seja bem estruturada, suas faltas técnicas em jogabilidade e visual tornam bem difícil querer continuar a jornada, a começar pela movimentação dos personagens, que é muito estranha e mole, como se a gravidade fosse reduzida o tempo todo.
Os desafios e puzzles que encontramos pelo caminho são simples de ser resolvidos, variando entre desativar painéis, redirecionar raios para abrir portas e cortar objetos. A dificuldade que eles trazem está relacionada ao visual, pois em alguns momentos é bem complicado de localizar o marcador que indica quais botões e alavancas devemos pressionar.
Revezamos a exploração em estações espaciais e na superfície rochosa de Marte. Nos momentos dentro dessas estações, flutuamos com a gravidade zero e, por mais que o jogador saiba que ficará em constante movimento, a coitada da Kathy não para de girar nem por um segundo, fazendo necessário o ajuste constante da sua posição para pelo menos tentarmos entender para onde devemos ir. É simplesmente um pesadelo para quem tem labirintite.
Além disso, podemos escolher se queremos realizar a exploração em primeira ou terceira pessoa, mas o jogo ignora nossa escolha e sempre nos coloca em primeira pessoa após sairmos de um quebra-cabeça. E mesmo em qualquer uma das duas perspectivas, é inexplicável o fato de a protagonista não mexer os braços para nada.
Um exemplo está logo no começo do segundo capítulo, quando vamos ativar os comandos de lançamento da nave. Temos que acionar uma série de botões e alavancas na ordem certa e ao realizarmos as ações, mesmo com todos esses elementos se movendo, os braços da Kathy ficam ali, parados, o que, convenhamos, corta o clima de estarmos colando uma nave espacial inteira em órbita.
Essa mecânica se mostra bastante complicada quando envolve pular de uma parede para outra, sem contar que o deslocamento nessas paredes é absurdamente lento. Outro terror são as sessões em que temos que saltar entre plataformas, pois os saltos são muito imprecisos, já levando em consideração a lentidão citada anteriormente.
Por fim, os gráficos até tentam entregar uma ambientação à altura da grandeza do espaço sideral, mas derrapam com frequência, principalmente em áreas largas e abertas, nas quais os elementos do cenário são renderizados no meio do caminho.
No que diz respeito aos personagens, os modelos são um pouco feios, com olhares estáticos, sem muita expressão e modelagem estranha de cabelos, com alguns buracos estranhos na cabeça. Isso sem contar que há diversas ocorrências de bugs visuais, com cabeças entrando em paredes, personagens estáticos, ações que não podem ser feitas porque o indicador não aparece e uma queda absurda de quadros durante as cutscenes.
Entretanto, tenho que dar o braço a torcer para as imagens com mais aspecto de paisagem, como a visão que temos ao olhar pela janela da nave e contemplar o espaço e os planetas. Elas são bem bonitas e despertam a vontade de simplesmente conferir cada janela para descobrir ângulos diferentes do que está ali na imensidão intergaláctica.
Pane no sistema
Deliver Us Mars tenta melhorar tudo o que seu antecessor trouxe de interessante, mas talvez tenha tentado fazer coisas demais ao mesmo tempo. A narrativa é muito boa e densa, mas os diversos problemas de performance talvez só não sejam um incômodo para quem realmente gostou de Deliver Us The Moon.
Prós
- A história é bem elaborada e as atuações são bem-feitas;
- As paisagens dos planetas e estrelas no espaço são bonitas.
Contras
- A movimentação no geral é lenta e estranha;
- A protagonista não para de girar na gravidade zero;
- Controlar os piolets para escalada é desnecessariamente complicado e a escalada é devagar demais;
- As sessões de plataforma são atrapalhadas por saltos imprecisos;
- Os marcadores de alavancas e botões nem sempre são fáceis de visualizar;
- Os modelos dos personagens são feios, com falhas principalmente nos rostos e sem animação nos braços para realizar ações no jogo;
- Puzzles muito simples;
- A renderização de elementos é feita no meio do caminho;
- Quedas de performance e bugs nos gráficos.
Deliver Us Mars — PC/PS4/PS5/XBO/XSX — Nota: 5.0Versão utilizada para análise: PS4
Revisão: Davi Sousa
Análise feita com cópia digital cedida pela Frontier Foundry