Análise: BETA-SIXDOUZE (PC) relembra que o essencial é invisível aos olhos

A sequência de ALPHA-NIGHTHAWK é uma visual novel de altíssima qualidade que explora mais a fundo a perspectiva futurista da obra da Liar-soft.

em 15/02/2023
Quando escrevi a análise de ALPHA-NIGHTHAWK, mencionei que queria muito ver como a sua sequência, BETA-SIXDOUZE, exploraria a ambientação. A obra anterior havia introduzido vários elementos interessantes, mas os deixado de lado para uma conclusão mais humilde e rápida.

Eis que a visual novel já está entre nós graças à agilidade dos projetos da publicadora Shiravune. Com uma tradução de John Hooper, que também trabalhou nos lançamentos ocidentais de Root Double, Raging Loop, Iwaihime e Dies Irae, o que temos é uma visual novel profundamente empolgante que consegue aproveitar todo o potencial da série STX-SF.

Silver Star, Baobab e a luta contra Consuelo

Em BETA-SIXDOUZE, acompanhamos a história do jovem Yosuke Hakone, neto de Miriya Hakone e Ichizo Yodaka. Criado na Terra em uma zona de profundo perigo e violência resultante de um ataque de monstros espaciais (a zona vermelha de Tóquio), ele viu sua família acabar pouco a pouco. Já na idade para tomar suas próprias decisões, o rapaz decide ir para a grande Battleship Baobab para poder ter uma vida digna.

Mesmo tendo que frequentemente lidar com a reputação de seu avô como um “criminoso de guerra”, Yosuke consegue se tornar um piloto da classe Silver Star. Como parte das forças militares baobabianas, a sua missão é lutar incessantemente contra a Consuelo, uma rosa espacial cujas vinhas e espinhos ameaçam a humanidade e dão origem a monstros espaciais nefastos.

Porém, em meio a um sistema de “MVPs” que valoriza os soldados apenas pelo número de vinhas da Consuelo cortadas, o rapaz é o único piloto que não pontua e se esforça em lidar com as partes menores que poderiam atingir Baobab. Por conta disso, ele e o seu mecânico Jean Valjean vivem em uma situação de quase miséria, fazendo o possível para pagar as contas.

Em um dia comum, tudo muda. Yosuke se vê diante de um dos generais mais conceituados de Baobab, o General Wolf, que lhe oferece uma oportunidade para se tornar um piloto de Elite. Para isso, ele terá que ser o parceiro de uma Sel Carrier (indivíduo responsável por fornecer energia vital para a máquina) chamada Hanaco, que age como uma criança por algum motivo.

612: o poder dos laços depende de se abrir para o outro

Sem entrar em muitos detalhes sobre a trama, uma coisa que chama a atenção em particular é a forma como a relação entre os personagens é meticulosamente construída. Além de cada indivíduo ser carismático por conta própria, a obra consegue explorar muito bem os laços que eles estabelecem entre si.

Por exemplo, o relacionamento de Yosuke e Jean como melhores amigos é um dos pontos mais interessantes da trama, com a visual novel conseguindo retratar muito bem não apenas a origem dessa relação e a fanfarronice dos dois garotos como a forma como eles impactaram muito a forma de agir e pensar um do outro. A mesma coisa pode ser dita para Yosuke e Hanako, cuja relação frequentemente leva o jovem japonês a refletir sobre os seus erros e tentar enxergar o mundo pela perspectiva da garota. Frequentemente, esses dois pontos tornam momentos relativamente mundanos da trama em uma demonstração emocionante de como as relações humanas funcionam.

Infelizmente, Yosuke, Jean e até mesmo Wolf acabam tendo suas vozes cortadas de várias cenas, assim como acontecia com os rapazes principais de ALPHA-NIGHTHAWK. Isso é um artifício comum de visual novels que muitas vezes optam por essa retirada para tentar dar ao leitor uma imersão na perspectiva do protagonista, ainda mais quando se tratam de obras eróticas.

Porém, como os personagens já têm voz em algumas outras cenas, isso só reduz consideravelmente o impacto de momentos em que há essa omissão. Um bom exemplo disso é uma conversa em que Jean tenta convencer o protagonista a não se deixar abater pela sua aparente baixa qualidade como piloto e que seria muito melhor se pudéssemos ouvir as emoções de ambos.

Um mundo futurista e suas terminologias

Outro ponto fundamental da obra é o seu contexto futurista, que inclui muitos elementos como a Consuelo, os Sel Carriers, a missão 39, os Neo Fennecs (raça de humanoides artificiais com aparência de animais antropomórficos) e suas origens, entre outras coisas. Uma parte considerável desses detalhes foi apresentada em ALPHA-NIGHTHAWK, fazendo com que a leitura de BETA-SIXDOUZE evoque várias lembranças do que ocorreu no seu antecessor.

Porém, o fato de que as obras estão conectadas não faz de BETA-SIXDOUZE um jogo que demanda o seu anterior. Todos os termos são bem explicados e as referências não são essenciais para aproveitar a trama e entender o que faz esse contexto futurista tão interessante. Nesse sentido, a obra faz um ótimo trabalho em se estabelecer como algo que vale a pena tanto para quem já aproveitou a anterior quanto para quem quiser começar aqui e depois visitar o antecessor para complementar a trama (embora assim acabe tendo certo conhecimento do futuro que alguns considerariam spoilers).

Também chama a atenção o estilo audiovisual da obra. Embora com transições bem simples para suas ilustrações estáticas, as artes são muito coloridas e charmosas, evocando um ambiente de animação japonesa, mas com alguns elementos únicos no traço e especialmente na coloração de personagens e ambientes. A trilha sonora também consegue refletir muito bem o contexto futurista e fazer com que os momentos de mais ação sejam empolgantes.

Infelizmente, o equilíbrio entre as faixas de fundo musical e voz é um pouco complicado. Para algumas cenas, pode ser necessário reduzir a música para escutar a voz, enquanto outras faixas acabam ficando baixas demais fazendo isso. O menu de configurações permite ajustar esses volumes facilmente, mas seria melhor que a obra tivesse um nível mais homogêneo para as faixas ou, melhor ainda, se tivesse aquele pequeno efeito de redução da trilha de fundo quando há vozes tocando.

Consolidando a visão de futuro da STX-SF

BETA-SIXDOUZE consegue explorar mais a fundo a visão que a criadora Nanahoshi Dentou e a Liar-soft tinham em ALPHA-NIGHTHAWK, consolidando a STX-SF em uma série que vale muito a pena experimentar. Embora ainda haja pequenos elementos negativos para a obra, é uma recomendação fácil para quem gosta de uma boa trama futurista.

Prós

  • Contexto futurista instigante;
  • A relação entre os personagens principais possui várias camadas, algumas das quais valorizam o jogador que veio de ALPHA-NIGHTHAWK;
  • Terminologia e detalhes mais complexos da trama do jogo anterior são adequadamente explicados aqui para quem está conhecendo a obra agora;
  • Bela ambientação audiovisual com ilustrações em estilo anime coloridas e charmosas e trilha sonora futurista empolgante.

Contras

  • A retirada de vozes dos rapazes principais em boa parte das cenas enfraquece consideravelmente o peso emocional delas;
  • O equilíbrio da trilha sonora com as faixas de voz é complicado, sendo algumas músicas de volume muito alto e outras muito baixas.

BETA-SIXDOUZE — PC — Nota: 9.0

Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Shiravune


é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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