O cenário indie é um verdadeiro celeiro de ideias quando se trata de experiências únicas dentro do mercado de games, seja para o lado bom ou ruim da coisa. Em Clunky Hero somos transportados a uma aventura bem esquisita, para a qual tentarei pegar emprestada a vassoura do nosso protagonista para limpar um pouco da bagunça que foi essa experiência.
Ao resgate da donzela em perigo
Rufus é um camponês comum que aproveita uma vidinha pacata e feliz com sua amada esposa Brunilde. Certo dia, por algum motivo qualquer — pois essas histórias são assim — um demônio ancestral cujo nome não pode ser dito (e por isso as pessoas o chamam de Malvadão) sequestrou sua mulher, fazendo-a refém em sua fortaleza no perigoso deserto da morte.Indignado com a situação, Rufus se arma com um balde e com a vassoura favorita de seu amor e parte em uma perigosa aventura para resgatar sua amada que, segundo ele, é a criatura mais linda que já existiu na face da Terra. Mas a verdade é que a mulher consegue ser mais feia que uma bucha de canhão depois de ter sido usada para escovar os dentes de um camelo. Bom…quem vê cara não vê coração, não é mesmo?
Munido desses “artefatos”, Rufus precisará explorar os quatro cantos do reino para aprender habilidades e se fortalecer para o inevitável embate contra o vilão, de quebra fazendo alguns favores para outros aldeões e viajantes a troco de algumas moedas de ouro, pois, como disse agora há pouco, essas histórias são assim.
A jornada do quase-heroi
Clunky Hero é uma aventura em plataforma que flerta com o gênero metroidvania em diversos aspectos. Nossa principal atividade no jogo é explorar diferentes cenários que são divididos em seções, buscar itens para concluir missões secundárias e, principalmente, derrotar chefes que nos permitem obter habilidades que expandem nossa capacidade de andar pelo mapa.As principais habilidades de Rufus se resumem a atacar com a vassoura, como se fosse uma espada ou porrete, e posteriormente aprender a técnica secreta do esguicho com suor da axila (eca!). É um “hadoken suvacal”, para resumir bem a técnica. Além de outras habilidades, digamos, peculiares.
Ao derrotar inimigos Rufus obtém moedas para serem usadas para comprar itens de recuperação de saúde e de mana, equipamentos para melhorar atributos base do herói, e itens para ajudar na exploração para obter outros, como armas e diversas quinquilharias equipáveis.
Outros cidadãos também fazem parte da trama pedindo favores ao herói. São missões secundárias que, muitas vezes, rendem uma boa quantia de moedas de ouro e itens para ajudar nosso colega em seu resgate. Por isso é sempre bom dedicar um tempo para ajudar estes cidadãos, quando possível, pois com certeza a recompensa será útil.
As andanças pelo reino levam Rufus a diversos cenários diferentes: florestas, masmorras, picos gelados, pântanos e o derradeiro deserto onde vive o vilão. O acesso a estes locais se dá de uma forma até orgânica, dadas as capacidades obtidas pelo herói como executar um salto duplo, investidas no ar e até mesmo um mergulho de cabeça com seu brilhante balde.
Gameplay desengonçado
Como já é de praxe nesse gênero de jogo, o backtracking — famoso vai e volta pelo mapa — é inevitável. O que deixa essa tarefa realmente chata é que os mapas são desnecessariamente grandes. Por isso, a sensação que passam é de que tudo está muito longe. Sou veterano nesse tipo de jogo, e isso é um detalhe que acaba deixando o ritmo mais arrastado e lento. Há momentos em que andamos por bons segundos até que um inimigo ou obstáculo apareçaIsso se agrava se seu inventário estiver cheio justamente na hora de pegar algum item importante. Ou você abre um espaço esgotando algum item, o que é mais fácil, ou se dá ao trabalho de retornar à residência de Rufus para colocar o excesso em um baú. Não seria difícil colocar uma opção de simplesmente jogar um item fora, né? Fora que alguns deles não podem ser vendidos, como os mapas que revelam alguns segredos. Depois de usados eles poderiam ser descartados com mais facilidade para evitar uma fatídica necessidade de espaço de última hora.
Apesar desse detalhe que deixou minhas sessões de jogatina por vezes monótonas, algo que realmente me pegou (no mal sentido) foi a jogabilidade. A movimentação de Rufus é muito imprecisa e truncada. Os pulos não são tão precisos, a hitbox (área de acerto) dos golpes é bem desbalanceada principalmente na luta contra os chefes, e os inimigos são muito lerdos, inclusive os chefes.
É muito fácil morrer por besteira, seja por ter caído no meio de uns dois ou três inimigos ou em uma armadilha ou por tomar golpes que, visualmente, não deveriam te acertar. Mas no geral a dificuldade se mantém bem básica durante boa parte do jogo. Das vezes que morri foi por puro vacilo mesmo, visto que alguns inimigos conseguem já tomar quase metade da vida de Rufus com um único golpe.
Outro ponto que deixa a apresentação geral ruim é o som. A trilha sonora é bastante básica, com temas que chegam a ser muito parecidos entre si. Apenas a trilha do vilarejo, que é a área inicial, consegue ter um pouco de personalidade, o que faz com que as outras sejam bem parecidas entre si.
Os efeitos sonoros também não ajudam. O som dos inimigos é feio, bem bobo. Parece até que alguém da equipe de desenvolvimento gravou algumas amostras de má vontade apenas para cumprir essa tarefa de dar voz aos personagens. São gemidos e gritinhos muito básicos e com pouca originalidade. Os sons de outros efeitos, como golpes e itens também são assim e passam a mesma impressão.
Se a equipe tivesse se esforçado da mesma maneira que fez ao criar as piadas — algumas forçadas e até sem graça — do game nestes outros departamentos, com certeza ele não teria esse aspecto de Acesso Antecipado que ainda apresenta. Dá para sentir que há potencial em Clunky Hero. Há méritos já nesta versão, mas faltou um polimento maior para deixar o jogo mais redondinho e realmente gostoso de jogar.
Essa vassoura foi feita para limpar, não para bater
Clunky Hero é uma aventura bem humilde que necessita de mais polimento para ser considerada uma experiência realmente prazerosa e interessante. Faltou mais atenção ao gameplay, level design e áudio para deixar a apresentação geral mais agradável, o que acabou fazendo com que o jogo seja mais Clunky (desajeitado) do que Hero.Prós
- Generosa área de jogo;
- O humor, apesar de escrachado em alguns momentos, é bem-vindo;
- A localização para o português está bem feita.
Contras
- Jogabilidade truncada e imprecisa;
- A movimentação pelo mapa é lenta e trabalhosa;
- A qualidade dos efeitos sonoros é ruim;
- Gestão do inventário muito básica;
- A curva de dificuldade se mantém baixa na maior parte do tempo.
Clunky Hero — PC/PS4/XBO/Switch — Nota: 5.5Versão utilizada para análise: PC