Jovens às margens
A Space for the Unbound coloca o jogador na pele de um jovem chamado Atma. No prólogo, vemos o rapaz ajudando uma pequena garota chamada Nirmala a escrever um conto sobre uma princesa estelar capaz de conceder desejos. Porém, no capítulo 1, a perspectiva muda para o garoto na escola tentando aproveitar os dias de ensino médio com sua namorada Raya.O jogo deixa claro que as duas perspectivas são incompatíveis e parte importante da experiência é tentar entender a realidade. Em especial, chama a atenção o fato de que eventos estranhos começam a acontecer ao seu redor e o próprio Atma é capaz de usar um livro vermelho para entrar na mente das pessoas no que é chamado de “Dimervenção”.
Conforme a trama avança e os detalhes ficam mais claros, é possível entender que A Space for the Unbound é uma história principalmente relacionada a traumas. Através de seus vários personagens, ela destaca dramas sociais e o peso que eles têm no psicológico das pessoas, especialmente as crianças. Entre os problemas, estão inclusos, por exemplo, famílias disfuncionais, abusos físicos e verbais e a necessidade de mostrar competência aos pares.
Enquanto a história principal foca primariamente em um personagem central, há várias quests secundárias que também desenvolvem essa proposta. Mesmo os personagens adultos sofrem com situações variadas que os deixam fragilizados ou fazem com que eles percam o rumo que gostariam de ter. Nesse sentido, a obra concebe um mundo consistente que consegue tornar esses problemas palpáveis e de fácil empatia.
Vale destacar que A Space for the Unbound conta com tradução para o português do Brasil. Embora isso seja fantástico já que se trata de uma obra na qual o texto é muito importante, a qualidade da localização deixa muito a desejar.
Apesar do uso de alguns termos coloquiais que ajudam a reforçar a sensação da obra, nota-se vários erros contextuais grotescos como expressões mal traduzidas do inglês; o uso de gênero errado para se referir a personagens em algumas falas; problemas na conjugação verbal e inconsistências de termos, além de erros de digitação.
Vagando pela cidade
A ideia básica da gameplay é simples: andar pela cidade em busca de pessoas e objetos com os quais interagir. Há missões específicas para avançar a história, assim como algumas secundárias que podem levar à conclusão de uma série de tarefas que Atma e Raya escreveram em um papel. Para ver os objetivos, basta abrir o menu em forma de livro, que também mostra um mapa da cidade e o inventário atual.
Em certos momentos, o jogador encontrará pessoas que possuem uma flor amarela na cabeça. Esse é um sinal de que é possível fazer a “Dimervenção”, ou seja, entrar em suas mentes para resolver um problema daquele indivíduo, que aparece como um puzzle. Ao fazer isso, é possível alterar o seu comportamento, avançando a trama ou resolvendo alguma missão secundária.
Depois de um certo ponto da trama, é introduzida uma mecânica especial de luta. Alternando entre turnos de “ataque” e “defesa”, o combate funciona como uma sucessão de quick-time events. Para atacar, é necessário apertar comandos específicos (como Z ou seta para cima) na ordem correta. Já a defesa faz com que uma barra apareça na tela e cabe ao jogador acertar o momento exato em que o cursor em movimento está em cima da sua parte colorida.
Ambas as mecânicas de dimervenção e combate são simples, mas o jogo consegue explorá-las de forma variada ao longo da jornada. Foram incluídos até mesmo momentos de tribunal mental para a Dimervenção, o que lembra a série Ace Attorney com o jogador coletando objetos para quebrar os argumentos das pessoas que estão agindo estranhamente.
Um mundo encantador
Um aspecto que não pode ser ignorado em A Space for the Unbound é a beleza de sua pixel art. As ilustrações de personagens e ambientes são de altíssimo nível, bastante nítidas e coloridas.
Inicialmente, elas conseguem retratar o charme bucólico do cotidiano da cidadezinha em que não há nada demais para fazer. Mas ela também é perfeita para os momentos mais delirantes da narrativa. É grande o impacto visual no uso simbólico de objetos nos ambientes, mas também da destruição e da escuridão para construir áreas psicológicas e, especialmente, alguns dos momentos finais da trama.
A trilha sonora tende a ser mais intimista e sutil, o que ajuda também na ambientação. As músicas mais calmas são especialmente acolhedoras e relaxantes. Honestamente, explorar a cidade para ver tudo que eu podia fazer foi sempre um prazer graças às belas paisagens e à trilha.
Uma experiência para seguir em frente mais forte
A Space for the Unbound é um jogo que explora o tema de traumas e a nossa necessidade de seguir em frente de forma consistente. É uma aventura emocionante e recomendável a qualquer tipo de jogador.Prós
- Narrativa emocionante sobre traumas sociais e o impacto deles na psique humana;
- Visual em pixel art muito colorido e belíssimo;
- Trilha sonora que reforça bem a ambientação, tanto em seu aspecto mais bucólico quanto nos momentos mais sobrenaturais;
- Mecânicas de dimervenção e combate são simples de entender e exploradas de forma variada ao longo do jogo.
Contras
- Tradução para o português conta com vários erros grotescos em contexto.
A Space for the Unbound — PC/PS4/PS5/XBO/XSX/Switch — Nota: 9.0
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Chorus Worldwide Games