Análise: Romancing SaGa -Minstrel Song- Remastered (Multi): um RPG de múltiplas jornadas

Este remaster traz um dos clássicos da franquia de Akitoshi Kawazu aos sistemas modernos.

em 06/12/2022

Romancing SaGa -Minstrel Song- Remastered é uma remasterização do remake de PlayStation 2 de Romancing SaGa, originalmente lançado para Super Famicom em 1992. Como parte da franquia SaGa, a obra trazia a proposta de oferecer uma experiência de JRPG muito mais aberta do que o usual e que pudesse ser completamente diferente de jogador para jogador dependendo de como decidisse explorar. A nova edição traz o título para os sistemas modernos, permitindo que mais pessoas conheçam essa obra excêntrica e complexa.

Sagas para explorar

Embora não tenha chegado ao Ocidente na época do SNES, Romancing SaGa foi o quarto jogo da franquia SaGa de Akitoshi Kawazu e o primeiro a explorar o conceito de múltiplos protagonistas com origens distintas. São ao todo oito opções, cada uma com um início diferente para a narrativa.
Temos o nobre virtuoso Albert; a nômade herbalista Aisha; o aventureiro Gray, que só pensa em dinheiro; a guardiã gentil da floresta Claudia; o ladrão Jamil, que sonha em ter uma grande conquista; a guerreira bárbara Sif; o pirata honrado Hawke; e a dançarina itinerante Barbara.
 
Conforme eles exploram o mundo de Mardias, contarão com vários aliados em potencial, incluindo os outros protagonistas. Ao todo, é possível criar equipes de até cinco personagens encontrados nos bares de várias cidades e em agrupamentos. Para chegar a uma formação ideal, o jogador pode mandar aliados embora e eles podem sair da equipe se seus pontos de vida chegarem a 0.

Ao pensar na narrativa como um todo, o elemento principal a se pensar é a liberdade de exploração. Há um pano de fundo baseado em mitos de criação do mundo e o retorno de um deus do mal, mas esses elementos estão mais relacionados a uma fatídica conclusão da obra. Na prática, a trama acaba falhando em fazer com que isso tenha peso ou uma motivação para os personagens e o jogador.

Explorando com liberdade

Enquanto a narrativa não é um ponto forte de Romancing SaGa, a experiência de explorar o mundo é bastante interessante. Com limites fluidos, rapidamente é dada a liberdade para viajar a outras áreas do mapa, que incluem cidades e dungeons. Ao chegar a uma nova cidade, o jogador pode conseguir um mapa com uma criança que faz parte da brigada de voluntários e que também pode explicar detalhes variados sobre o funcionamento do jogo.

Cada área possui NPCs que podem dar novas quests ou compartilhar rumores sobre a região. Os diálogos são breves, usualmente apenas um breve balão de texto, e podem abrir acesso a novas áreas e servir como guias para a exploração, tendo em vista que o enredo não é muito detalhado boa parte do tempo, com algumas exceções (como Albert).

O jogador também pode ignorar o que lhe foi falado e tentar explorar outra área. Como resultado, a jornada é realmente algo pessoal e cujo valor de rejogabilidade é alto, tendo em vista que ela pode apresentar grandes diferenças, ainda que você escolha o mesmo personagem.
Chegando a uma dungeon ou outra área povoada por monstros, cabe ao jogador vasculhar o terreno em busca de tesouros e objetivos de quest. Combates só são iniciados ao esbarrar em criaturas ou por algum evento, com a opção de correr delas em muitas ocasiões. Porém, podemos ficar impossibilitados de escapar em alguns casos por conta do save automático, que grava todo o contexto da dungeon logo após as batalhas e deixa inimigos se movimentarem antes de assumirmos o controle.

Ainda no aspecto da exploração das áreas, vale a pena destacar que é possível utilizar técnicas especiais conhecidas como proficiências. Elas podem ser aprendidas nas cidades e incluem opções como fazer aparecer tesouros e pontos de coleta de materiais, assim como pular grandes distâncias ou escalar.

Um combate que exige insight

Como é costume na série SaGa, Romancing SaGa -Minstrel Song- Remastered possui um sistema de combate por turnos bastante experimental cheio de elementos que não são comuns no gênero. Primeiramente, cada personagem pode equipar várias armas para ter acesso a suas habilidades em combate.

Em vez de usar todas ao mesmo tempo, a ideia é dar ao jogador mais recursos, já que as habilidades especiais dos personagens estão associadas ao seu desempenho com um tipo específico de arma. Um guerreiro que usa espada continuamente se tornará mais habilidoso com ela, mas se ele pegar um machado só conseguirá usar um ataque básico até se habituar.
O uso repetido de uma arma e o combate contra criaturas poderosas são dois fatores que agilizam o processo de “glimmer”, que é quando o personagem ganha uma nova habilidade durante o próprio combate. Da mesma forma, em vez de ter níveis, o fim das batalhas pode levar cada personagem a aumentar os parâmetros de força, inteligência, defesa, etc.

Cada habilidade possui um custo de energia de batalha (BP) e um custo de durabilidade do equipamento (DP). Inicialmente, o jogador conta com pontos limitados de BP, mas eles são recuperados a cada turno; já o DP está associado à arma equipada, sendo um recurso finito que deve ser bem calculado. Dependendo da arma, dá para restaurá-la em uma estalagem ou utilizando-se dos serviços de um ferreiro.
Outro fator importante é que, além do HP, todos os personagens possuem uma segunda camada de vida chamada LP. Um personagem desmaia quando seu HP chega a 0, mas ele morre se isso ocorrer com o LP. Caído sem HP, um aliado fica vulnerável a perder mais LP, mas é possível restaurar sua vida com itens de cura comuns. Técnicas poderosas de artes marciais e armas específicas também podem trocar o DP por LP.
 
Para reduzir os custos, o jogador pode treinar suas habilidades nas cidades com a ajuda da mesma figura mascarada que vende proficiências. Ao aumentar o nível de habilidade com uma arma, o seu custo de uso é reduzido e se torna mais fácil desbloquear novas técnicas durante a batalha. Há também um sistema de combo que faz com que a escolha de determinados golpes possa liberar ataques conjuntos mais poderosos.

De modo geral, Romancing SaGa possui um conjunto de sistemas de combate muito complexo e intrincado. Há vários tutoriais que são liberados ao encontrarmos certas situações pela primeira vez ou conversarmos com o membro da brigada de voluntários de cada cidade. Porém, mesmo com esse fator, o nível de detalhe e a falta de clareza de vários elementos demandam um grande esforço de aprendizado.

Uma nova roupagem

Em se tratando de um lançamento remasterizado, Romancing SaGa faz mais do que uma atualização dos gráficos do jogo para o HD. Por exemplo, temos a opção de escolher entre o modo mais lento de passagem do tempo baseado na versão ocidental e o original japonês. Há também novos personagens recrutáveis, como Schiele e Marina; novos eventos relacionados ao passado mítico do mundo; versões super-poderosas dos chefes com novas músicas; e novas classes.
 
Porém, de todos os elementos adicionados, chamam a atenção em particular três ajustes de qualidade de vida que são muito bem-vindos. Primeiramente, se temos o mapa de uma região, contamos com o auxílio de um mini-mapa de tamanho ajustável para a exploração. Além disso, é possível acelerar o combate e a exploração em até três vezes e carregar o progresso para a próxima tentativa em um modo New Game+.
Apesar disso, vale destacar que, em termos visuais, fica a sensação de que poderia ter sido feito algo mais detalhado. Os ambientes são borrados, alguns elementos (especialmente dos menus) ficaram claramente esticados para a proporção 16:9 e não podemos mover a câmera, um grande inconveniente em vários momentos de exploração.
 
No PC, é possível ajustar o tamanho da tela, a distância em que elementos aparecem (Draw Distance), o tipo de anti-aliasing e ligar ou desligar a filtragem anisotrópica. O volume dos elementos sonoros (vozes, efeitos e trilha) também pode ser ajustado, mas curiosamente não tem como mudar a voz para japonês sem mudar a legenda junto. Há também várias opções menores de customização da interface e velocidade de animações, assim como galerias de ilustrações e músicas.

Um RPG único está de volta

Romancing SaGa -Minstrel Song- Remastered
é uma boa edição de um jogo que até hoje se mostra único para o seu gênero. Não era de se esperar menos de SaGa e das excentricidades de Akitoshi Kawazu. Embora seja um título cuja complexidade e dificuldade podem ser incômodas para muitos jogadores, é uma experiência que vale a pena para quem gosta de RPG e quer explorar mais a fundo suas possibilidades em videogames.

Prós

  • Combate com múltiplas opções estratégicas interessantes;
  • Grande liberdade de exploração que faz com que a jornada possa ser diferente toda vez;
  • Opções de qualidade de vida, como acelerar combate e exploração, ajudam a modernizar um pouco a experiência.

Contras

  • A narrativa muito solta acaba não dando peso adequado a vários eventos;
  • O excesso de sistemas complexos e a pouca clareza de vários fatores relacionados a eles implicam em uma experiência que demanda bastante esforço de aprendizado;
  • Alguns elementos visuais mereciam um aprimoramento maior, tendo vários trechos borrados e alguns elementos esticados para a proporção 16:9.
Romancing SaGa -Minstrel Song- Remastered — PC/PS4/PS5/Switch — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Square Enix

é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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