A história de Norzelia e de três grandes poderes
Triangle Strategy se passa no continente fictício Norzelia, um território vasto e belo, mas infelizmente marcado por conflitos violentos como a Guerra de Saltiron, na qual os poderes vigentes mediram forças sobre o controle de recursos naturais como o ferro e o sal, imprescindíveis para atividades cotidianas.
Embates similares atormentaram a história de Norzelia por séculos, mas o elevado número de perdas e o inédito risco de aniquilação de povos inteiros trazido pelo confronto de Saltiron fez com que os envolvidos eventualmente negociassem uma trégua.
Assim nasceu a organização neutra conhecida como Norzelia Consortium, que passou a supervisionar as negociações entre os três grandes poderes do território: o Estado Santo de Hyzante, o Grande Ducado de Aesfrost e o Reino de Glenbrook.
Com negociações mais justas, houve equilíbrio entre os poderes e a paz finalmente reinou no continente. Porém, 30 anos após esses acontecimentos e às vésperas de Aesfrost e Glenbrook celebrarem um novo elo, certo incidente começa a ruir as fundações que um dia levaram à tranquilidade. É aí que o senso de justiça do jogador será desafiado de forma constante em uma jornada tão instigante quanto apaixonante.
Colocando ordem na casa
Para vivenciar a mais recente criação da Team Asano, o jogador assume o papel do jovem guerreiro Serenoa Wolffort. Serenoa é o único filho de Symon Wolffort, habilidoso comandante que teve um papel crucial no encerramento pacífico da Guerra de Saltiron e também líder da Casa Wolffort, uma das mais influentes de Glenbrook.
Acometido por uma grave doença, Symon não demora a conceder a liderança de Wolffort para Serenoa. Assim, no comando do jovem herdeiro e de uma das Casas mais influentes de Norzelia, será necessário tomar decisões difíceis que influenciam os rumos da trama e do complicado cenário geopolítico do continente virtual.
Como é possível notar nos relatos acima, Triangle Strategy revela desde o seu início um universo rico e interessante plenamente capaz de cativar. Porém, apresentar uma lore tão expansiva assim sempre possui um preço, que neste caso em específico é um desenrolar mais lento que o usual até se levarmos em conta os padrões de RPGs.
Em termos práticos, isso significa que na maior parte do game (a não ser que você pule esses segmentos, claro) você estará lendo diálogos e mais diálogos ao invés de estar comandando seus aliados em um dos vários campos de batalha do jogo. Essa dinâmica é especialmente verdadeira nas primeiras 10 ou 12 horas do título, nas quais você ainda estará sendo apresentado às diversas peças que compõem o tabuleiro narrativo de Norzelia.
Normalmente, esse poderia ser citado como um ponto absolutamente negativo, mas a verdade é que a trama de Triangle Strategy merece ser explorada com calma. De cena em cena e batalha em batalha, é muito prazeroso mergulhar nesta história, descobrir suas particularidades e acompanhar a evolução de seus vários personagens. Do ponto de vista narrativo, este é definitivamente o melhor trabalho da Team Asano até o momento, e esse é um elogio considerável se considerarmos a qualidade de suas obras anteriores.
Justamente por isso, é uma pena que a aventura atualmente não conte com suporte ao português brasileiro. Com um roteiro tão cativante, entender os diálogos é fundamental para perceber o apelo e usufruir totalmente do game. Fica então registrado o pedido de que a Square Enix reveja essa decisão em um patch futuro.
Decisões moralmente dúbias e a arte da guerra
Em Triangle Strategy, quando você não estiver imerso em cutscenes e diálogos, estará explorando ou batalhando. Mecanicamente falando, as seções de exploração passam a impressão de serem uma continuação dos segmentos narrativos, já que você terá certa liberdade para explorar seções determinadas do mapa, mas o seu grande objetivo invariavelmente será dialogar com os outros personagens para descobrir mais sobre a trama ou o mundo que rodeia Serenoa.
Como em quase todo RPG, comunicar-se efetivamente oferece uma série de vantagens. Neste caso em específico, isso torna-se especialmente verdadeiro a partir do momento em que o jogador é apresentado ao interessante sistema “Scales of Conviction”. Devido a essa mecânica, quando chegar o momento de tomar uma decisão importante, cada membro de sua equipe poderá opinar, e, graças à união da Casa Wolffort, o voto da maioria sempre prevalecerá.
Conversar nos momentos de exploração é, então, a melhor maneira de descobrir informações capazes de persuadir os seus companheiros indecisos antes de uma questão complicada. Não espere vida fácil, porém: o cenário turbulento de Norzelia antecipa que muitas vezes as questões apresentadas não terão respostas “preto e branco”, e sim ramificações provavelmente dolorosas.
Tais ramificações também significam que é possível obter quatro finais diferentes dependendo das escolhas do jogador. Assim, Triangle Strategy acaba acumulando um considerável fator replay que ajuda a reforçar a afirmação feita anteriormente de que este é o melhor trabalho narrativo da Team Asano até o momento.
Durante as seções de exploração, ainda é possível preparar a sua equipe para os conflitos. Com quatro níveis diferentes de dificuldade, Triangle Strategy é capaz de oferecer desafio na medida que o jogador deseja, mas é bom preparar-se para batalhas realmente memoráveis conforme a história progride.
Confrontos seguem o padrão do gênero, com movimentação em grid cujo objetivo é normalmente eliminar as unidades inimigas. Seguindo o manual dos RPGs táticos, os personagens mais leves/velozes atacarão antes que unidades mais lentas, e você pode confiar que arqueiros e magos conseguirão atacar áreas maiores se comparados aos portadores de uma espada.
Porém, ao invés de jogar contra o game, essa simplicidade acaba sendo uma das características mais marcantes do título. Como meu colega de redação Vítor M. Costa brilhantemente descreveu em sua análise da versão de Switch (recomendo a leitura, aliás), Triangle Strategy termina funcionando como uma porta de entrada para uma nova era de TRPGs da Square Enix.
Sem grandes invenções, o foco do jogador deverá estar no posicionamento de seus comandados e no aproveitamento do terreno e suas topografias para que a vitória seja enfim alcançada. Mas os veteranos não devem se preocupar: sem adentrar o território de spoilers, espere batalhas marcantes e deliciosamente complicadas — especialmente nas dificuldades mais elevadas.
Confesso que seria interessante ver aspectos como permadeath e mudança de classe implementados, mas quando o assunto são confrontos divertidos, Triangle Strategy não desaponta, sendo uma fácil recomendação tanto aos entusiastas quanto aos novatos do gênero.
A melhor versão disponível?
Abordando agora os aspectos técnicos da versão de PC, há boas notícias, pois Triangle Strategy conta com uma série de parâmetros individuais que podem ser ajustados conforme o desejo e o hardware dos jogadores.
Abrir o menu de configurações gráficas, por exemplo, mostra que é possível alterar a iluminação das extremidades, a qualidade das sombras e do pós-processamento, definir a intensidade do antisserrilhamento e até remover a profundidade de campo. Do mesmo modo e em um bem-vindo aceno às máquinas mais modestas, também é possível alterar tanto a resolução de exibição quanto a de renderização.
A presença de um número considerável de opções ajustáveis garante que Triangle Strategy não terá problemas para funcionar bem em diversos tipos de PCs. Donos de máquinas robustas provavelmente gostarão de saber que o jogo possui suporte nativo a 1440p e 4K, e o emprego de uma resolução mais alta realmente ajuda os belíssimos visuais e efeitos em HD-2D a se destacarem ainda mais — o único ponto negativo nesse quesito é a ausência de suporte a ultrawide.
Com tudo isso em mente, poderíamos dizer então que a versão de PC é a maneira definitiva de experimentar a aventura de Serenoa? Essa é uma pergunta um pouco complicada de responder, porque, como dito anteriormente, Triangle Strategy possui uma vasta carga de diálogos e cutscenes que naturalmente se adaptam melhor a um dispositivo portátil do que a um desktop.
Portanto, caso você esteja em dúvida de qual versão adquirir, convém levar isso em consideração. No mais, independente da plataforma que você escolher — PC ou Switch —, saiba que estará levando para casa um verdadeiro clássico moderno que reflete o carinho de seus desenvolvedores durante a produção e, paralelamente, mostra que ainda há muita vida para os RPGs táticos.
Uma aventura que merece ser vivenciada
Sendo plenamente sincero, Triangle Strategy é um dos melhores games que joguei este ano. Com uma narrativa instigante que se molda de acordo com as escolhas do jogador, batalhas desafiadoras e envolventes e muito conteúdo para ser explorado ao longo de sua campanha, a obra mais recente da Team Asano é um presente para todo fã de RPGs táticos. A chegada da bem-vinda versão de PC, meses depois após seu lançamento original para Switch, só vem solidificar essa conclusão. Agora, que venham as sequências.
Prós
- Narrativa instigante que reage às escolhas do jogador;
- Personagens carismáticos;
- Sistema de combate divertido;
- Diversos níveis de dificuldade;
- Um verdadeiro espetáculo visual que demonstra o apelo do estilo HD-2D;
- A versão de PC é bem otimizada e conta com parâmetros ajustáveis e suporte a resoluções impossíveis para o Switch, como 4K;
- Possui considerável “fator replay”;
- Simplesmente o melhor jogo da Team Asano até agora.
Contras
- Seu início lento e repleto de diálogos pode afastar os jogadores que prefiram ir direto para os combates;
- Poderia ter explorado a mecânica de morte permanente;
- Ausência de suporte nativo para resoluções ultrawide;
- Sem suporte a português brasileiro.
Triangle Strategy — PC/Switch — Nota: 9.0
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Square Enix
Análise produzida com cópia digital cedida pela Square Enix