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Impressões: Beneath Oresa (PC) é um promissor e estiloso deckbuilder

Este título indie capricha no visual enquanto explora ideias consagradas.

em 03/11/2022

O gênero de RPG de construção de baralhos conquistou o mundo indie e há inúmeros jogos que exploram esse estilo. Beneath Oresa é mais um representante do gênero que tem como maior destaque a apresentação: os gráficos são elaborados e as lutas são visualmente apelativas. Lançado em Acesso Antecipado, o título conta com uma interpretação competente das mecânicas do gênero, mas ainda precisa desenvolver melhor suas ideias para se destacar.

Explorando um mundo subterrâneo desolado

No jogo, acompanhamos uma dupla de guerreiros que explora o subterrâneo abandonado da cidade de Oresa em busca de tesouros para oferecê-los a diferentes guildas. A promessa de riqueza é tentadora, mas a tarefa não será fácil: além de inúmeros perigos, o local está infestado de criaturas mutantes agressivas.

Na essência, Beneath Oresa é um roguelike deckbuilder bem tradicional. A jornada pelo subterrâneo consiste em diferentes eventos, como combates e trechos em que precisamos tomar decisões. Pelo caminho, coletamos cartas de ação para nosso baralho, encontramos artefatos que provêm efeitos diversos ou nos deparamos com situações que permitem alterar características da dupla de heróis. As rotas são completamente lineares, mas os eventos oferecem duas ou mais opções de resolução.


Os combates seguem o estilo usual do gênero. A cada turno, recebemos algumas cartas com ações diversas, como atacar, defender ou executar técnicas especiais. Os inimigos indicam as suas próximas ações, o que nos permite reagir de acordo. O detalhe mais notável das batalhas de Beneath Oresa está no visual: todas as ações contam com animações elaboradas, com os heróis e oponentes se movimentando e golpeando pela arena.

Para se diferenciar, o título introduz alguns conceitos únicos. Em cada partida, além do nosso herói, escolhemos também um personagem de suporte que disponibiliza vantagens, como efeitos passivos e cartas exclusivas. A lista de habilidades é liberada aos poucos, conforme aumentamos o companheirismo da dupla por meio dos eventos. Além disso, ao melhorar as cartas, há duas opções de transformação, o que traz mais flexibilidade na hora de customizar o baralho.


Já nos combates, certos ataques e habilidades têm efeito e poder alterados de acordo com a distância dos inimigos. Algumas cartas permitem nos aproximar de oponentes ou afastá-los — saber usar esse recurso é essencial para sobreviver. Além disso, há um contra-ataque que é capaz de interromper uma investida de um oponente. Para ativá-lo, é necessário não utilizar cartas com borda brilhante para preencher uma barra. Acontece que os cartões energizados são aleatórios em cada turno, então precisamos avaliar com cuidado como proceder.



Em combates agressivos e repletos de estilo

Como roguelike deckbuilder, Beneath Oresa é bem convencional. As mecânicas seguem o formato básico do gênero e não há muitas surpresas, porém os detalhes tornam o jogo interessante. O foco aqui está nos combates, que são ágeis e agressivos: normalmente estamos em desvantagem e atacar é uma opção melhor do que defender. O sistema de contra-ataque, em especial, traz dinamismo, pois precisamos deixar de usar certas cartas para poder ativá-lo, o que traz dilemas — deixo de fazer alguma ação para aparar um ataque futuro ou é melhor executar agora todas as opções?


Os outros elementos, como habilidades de companheiro dependentes do nível de camaradagem e diferentes opções na hora de melhorar cartas, trazem mais complexidade às partidas. A soma de tantos recursos, em conjunto com a dificuldade de remover cartas do baralho, torna cada partida repleta de decisões difíceis — fazer uma série de escolhas equivocadas pode deixar os combates mais avançados bem complicados.

De longe, a característica mais marcante do jogo é a sua ambientação. O mundo subterrâneo é representado com ótimos gráficos cel shading, e tem como tema uma mescla de tecnologia e fantasia: robôs infestados por fungos, monstros mutantes e ruínas futuristas tomadas pela natureza selvagem são alguns dos elementos que aparecem durante a jornada. O combate, em especial, chama a atenção com movimentação dinâmica e estilosa dos heróis e inimigos.



Uma base que precisa ser melhor desenvolvida

Em uma primeira olhada, Beneath Oresa parece um deckbuilder ótimo, mas bastam algumas partidas para perceber vários problemas.

O mais grave deles, ao meu ver, é a variedade extremamente limitada de estratégias. No momento, a maioria das cartas não passa de pequenas variações das ações básicas de ataque e defesa, sendo as poucas habilidades sem muito impacto. Os três personagens disponíveis no momento tentam trazer diversidade, mas falham ao serem muito parecidos entre si. Não só isso, o conceito de distância nos embates é subutilizado. Senti falta de sinergias e de cartas que permitissem outros tipos de táticas fora golpear e eventualmente aparar investidas dos inimigos.


O visual 3D com câmera dinâmica é estiloso, mas também introduz algumas adversidades. Para começar, as ações dos inimigos são indicadas acima de suas cabeças, no entanto a interface não se destaca o suficiente e é difícil ver com clareza o dano dos ataques ou o inimigo marcado como alvo — isso é um pecado em um gênero em que saber as informações é tão importante. Além disso, às vezes a câmera se move de maneira estranha e obscurece a ação. Por fim, as animações de combate cansam rápido, pois a quantidade é minúscula e elas se repetem com frequência.

Tecnicamente, a versão de lançamento de Acesso Antecipado deixa um pouco a desejar. Durante as partidas, vi bugs com frequência, como câmera tremendo, interface irresponsiva, efeitos visuais (como câmera lenta) que persistem, e mais. As opções também são bem limitadas e mal são suficientes para customizar a experiência — senti falta de um recurso para acelerar a ação nos combates, por exemplo.


Essas questões negativas são justificáveis, afinal o jogo acabou de ser disponibilizado em Acesso Antecipado. Para o futuro, a desenvolvedora promete expandir as ideias e conteúdo, como a inclusão de facções de heróis com mecânicas exclusivas, efeitos nas arenas (como gás tóxico e outros obstáculos) e partidas com regras diferentes. Torço para que essas adições sejam suficientes para tornar o título mais único, pois, no momento, ele é muito limitado mecanicamente.

Um roguelike para ficar de olho

Beneath Oresa é um roguelike de construção de baralhos sólido e competente. A sua característica mais marcante é a ambientação, que conta com ótimo visual em cel shading, especialmente nos combates. Fora isso, o jogo explora os conceitos do gênero de maneira familiar ao mesmo tempo que oferece algumas ideias próprias interessantes. Contudo, logo as mecânicas se revelam rasas e o título precisa evoluí-las para ter mais personalidade, o que possivelmente deve ocorrer durante o período de Acesso Antecipado. No mais, Beneath Oresa é promissor e merece a atenção dos fãs do gênero. 

Revisão: Ives Boitano
Texto de impressões produzido com cópia digital cedida pela Broken Spear Inc.


é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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