Análise: ALPHA-NIGHTHAWK (PC): futuro, furries e uma rosa espacial

A visual novel furry da Liarsoft traz uma curiosa perspectiva de futuro.

em 02/11/2022
Desenvolvido pela Liarsoft com um universo de autoria de Nanahoshi Dentou, ALPHA-NIGHTHAWK é uma visual novel curiosa. Em um mundo futurista, a humanidade e os neo-fennecs (raposas humanoides criadas artificialmente) precisam lidar com uma estranha ameaça espacial no formato de uma rosa.

Consuelo, neo-fennecs e os perigos da Terra

ALPHA-NIGHTHAWK conta a história de Miriya Hakone, uma jovem garota que teve a honra de receber o título Silver Star graças à sua pontuação perfeita nos exames da academia de pilotos da força militar STX. Porém, apesar de seu excelente desempenho, ela não consegue se tornar uma militar da linha de frente devido à sua baixíssima capacidade de gerar a energia necessária para movimentar um Battle-SHEEP (um robô de guerra) por conta própria.

Graças a essa deficiência, Miriya só consegue trabalhar no carregamento de encomendas e continua sendo apenas uma subordinada de pequena patente. Um dia, enquanto estava prestando os seus serviços, ela acaba sendo atacada por um Battle-SHEEP ilegal antigo e tem a péssima ideia de retaliar com seu pequeno robô de cargas azul.
A sua derrota desencadeia uma sequência de eventos que leva à aliança entre a protagonista e um ex-piloto chamado Ichizo Yodaka. Com a ajuda dele, a jovem terá a oportunidade de finalmente pilotar um robô de guerra, apesar de as circunstâncias serem totalmente diferentes. Embora sempre tenha vivido na espaçonave Baobab, Miriya agora terá que se habituar à superfície e ajudar Ichizo em suas missões.

Mais especificamente, Ichizo vive em uma espécie de orfanato em uma área perigosa: uma Red Zone na área próxima à baía de Daiba. Após a queda de um espinho de uma misteriosa rosa espacial chamada de Consuelo pelos humanos, essa localidade não apenas sofreu impactos terríveis do choque físico como também monstros conhecidos como Consuelos, por sua ligação com a flor, passaram a viver por lá.
Como resultado, as forças militares abandonaram todos os moradores da Red Zone e trataram a área como fora dos limites. Porém, a verdade é que várias pessoas vivem em comunidades periféricas nessa região, se esforçando para sobreviver. Atividades ilegais também se proliferaram na Red Zone, sendo comum que seus moradores não tenham posturas morais muito rígidas.

Em contraste com o tipo de pessoa que vive nesses lugares, Miriya é uma pessoa muito certinha e inocente. Apesar de ser bastante inteligente, o seu conhecimento do mundo é aquele que consegue obter em livros, e ela não tem jogo de cintura para lidar com as situações mais problemáticas.
Por outro lado, Ichizo é um rapaz facilmente irritável e que tende a agir de forma instável, mas na verdade esconde lados mais fofos por vergonha. Ele é o diretor de um orfanato e costuma agir em prol dos seus ideais de mundo, apesar de ter métodos bem questionáveis de agir. Ele divide o protagonismo com Miriya, sendo uma das principais perspectivas que acompanhamos na história.
 
Junto aos dois, temos Nayuta, que apesar de seu tamanho é bastante poderosa e capaz de lutar lado-a-lado com o battle-SHEEP que Ichizo e Miriya compartilham. A personagem faz parte de uma raça especial de raposas humanóides chamada neo-fennec, que foi desenvolvida artificialmente sob o pretexto de criar melhores amigos para a humanidade.
Além deles, temos vários personagens secundários que ajudam na construção de um mundo futurista vasto e cheio de elementos interessantes. A ambientação de ALPHA-NIGHTHAWK traz uma proposta bem curiosa, que envolve experimentação genética, forças “alienígenas” misteriosas e robôs criados para lutar contra essas aberrações, assim como um contexto social rico em discussões de classe e políticas exclusivistas.

Mesmo com um curto tempo de campanha se comparado a outras visual novels, ele consegue criar uma noção vívida de conflitos e, ao mesmo tempo, aguçar a curiosidade com relação a detalhes mais profundos de sua história. Infelizmente, essa abertura de várias portas no enredo também acaba enfraquecendo bastante o resultado final.

É perceptível que a narrativa faz um malabarismo a partir de certo momento para criar um grupo antagonista de maior urgência em detrimento a outras forças mais relevantes no contexto geral. Apesar de haver um esforço para que esse confronto seja emocionalmente forte, a visual novel não consegue oferecer uma conclusão significativa para a discussão. A sensação que fica é a de que o jogo levantou muitas subtramas e não fechou praticamente nada.

Uma jornada cinética

Para além da questão do enredo, vale destacar que o formato de ALPHA-NIGHTHAWK é cinético, o que significa que não há escolhas em nenhum momento da campanha. Apesar da pouca interatividade ser um problema para alguns jogadores, esse formato é o mesmo de obras consagradas como Seabed, Higurashi When They Cry e Umineko When They Cry. O importante é ir com a mentalidade correta para aproveitar a jornada de leitura.
 
Apesar de contar com dublagem em japonês, chama a atenção o fato de que algumas falas dos personagens Ichizo e Gon, assim como as de secundários, não estão presentes. Esse corte causa estranheza e é especialmente comum durante as cenas de sexo, provavelmente tentando dar ao jogador a capacidade de se imaginar no lugar dos rapazes.
 
O roteiro também possui algumas pequenas decisões imaturas, tanto na forma como trata sexo como um aspecto fundamental da vida dos seus personagens quanto em reações ocasionalmente exageradas e pouco críveis. Apesar desse problema poder incomodar alguns jogadores, com o tempo, essa sensação é reduzida e a obra consegue até justificar alguns elementos mais estranhos do início com um bom esforço de desenvolvimento dos personagens.

Por fim, mas não menos importante, vale destacar a alta qualidade das ilustrações de Nanahoshi Dentou. A artista japonesa consegue ter um estilo único de coloração que reforça o nível de detalhes dos designs e salta aos olhos, diferenciando-se bastante da média mais simplificada. A trilha sonora composta por Orikura Toshinori também contribui para a atmosfera de ficção científica, apesar de contar com pouca variedade de faixas e nenhuma delas ser particularmente chamativa.

Um futuro curioso

ALPHA-NIGHTHAWK é uma visual novel com uma ambientação bem atípica, misturando elementos de ficção científica com um contexto que justifica a presença de raposas humanóides artificiais. Para quem curte histórias com esses elementos, trata-se de um título bem envolvente apesar de não concluir o conflito principal da narrativa. Fica a expectativa que a sua sequência já lançada no Japão, BETA-SIXDOUZE, também chegue ao Ocidente e tenha uma conclusão mais empolgante.

Prós

  • Ambientação futurista bem projetada, com vários elementos que instigam a curiosidade;
  • Ilustrações de alta qualidade, cujo estilo de coloração único chama a atenção;
  • Personagens carismáticos e bem-desenvolvidos.

Contras

  • A história desvia o foco após determinado ponto, levando a uma conclusão pouco satisfatória diante do conflito principal;
  • Algumas decisões ocasionais de roteiro são um pouco imaturas;
  • A ausência de dublagem para Ichizo e Gon causa estranheza em alguns momentos.
ALPHA-NIGHTHAWK — PC — Nota: 8.0
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Shiravune

é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.