Memórias nebulosas
Yomawari: Lost in the Dark conta a história de uma menina em busca de suas memórias após acordar em um lugar estranho e escuro. Tudo começa com um prólogo sombrio que indica elementos traumáticos do passado e logo descobrimos que a personagem foi amaldiçoada em algum momento. Pior ainda: ela tem urgência para resolver o problema, mas esqueceu tudo sobre a maldição e como lidar com ela.
Sozinha, a garota terá que explorar uma cidade escura em busca de itens do passado. Porém, o caminho inteiro será traiçoeiro e cheio de perigos. Todos os cantos da cidade são repletos de fantasmas, monstros e yokai (criaturas tradicionais do folclore japonês).
Diante de um mundo tenso, temos uma jovem frágil sem armas de fogo ou poderes mágicos. Mesmo a sua “habilidade” mais exótica — um ritual infantil de fechar os próprios olhos para que os inimigos não a vejam — é algo que reforça a impotência e o medo diante dos perigos. Uma pequena luz vermelha, o efeito de batimento cardíaco e as vibrações opcionais do controle reforçam a presença das criaturas enquanto a personagem assustada e “vendada” anda necessariamente devagar pelo mapa.
Em particular, como esperado de jogos do gênero, há um esforço significativo no departamento de som. Enquanto o visual básico fofinho pode parecer confortável a princípio, esse elemento é facilmente distorcido na tela pelas criaturas e situações, mas principalmente pelo uso exemplar de efeitos sonoros.
Exemplos disso incluem as batidas aceleradas do coração da protagonista e o constante silêncio interrompido apenas por pequenos sons, como os passos da própria menina e o barulho de cigarras. Em alguns momentos, ecoa um grito inesperado ou um som estranho que indica a proximidade de algo desconhecido e potencialmente letal. Tudo é construído para que o jogador vivencie a fragilidade e o desespero da protagonista.Medo traduzido em mecânica
Yomawari: Lost in the Dark é um jogo de terror cuja gameplay é baseada no formato ação e aventura. Conforme o jogador explora a cidade, irá encontrar várias criaturas cujo esbarrão pode levar a um game over. Para evitar essa situação, a maior parte da campanha gira em torno de encontrar mecanismos para evitar confrontos.
Algumas criaturas são simples, apenas rondando um trajeto específico ou surgindo se o jogador fizer algo, como atravessar a rua quando o sinal de pedestres está fechado. Outras podem perseguir o jogador apenas se notar que os seus olhos estão abertos, permitindo o uso de um modo furtivo em que a menina deve apenas fechá-los e andar devagar. Porém, há também aqueles que vão correr atrás do jogador de qualquer forma, sendo necessário fugir o mais rápido possível.
Vale destacar que a cidade é dividida em várias áreas que são associadas a memórias específicas da protagonista e que possuem bastante variedade entre si. Em um momento, estamos acompanhando um cachorro pelas ruelas mal iluminadas de um bairro comercial; no outro, resolvendo pequenos puzzles para avançar em uma floresta de bambus na qual crianças tipicamente ficam perdidas.
Em termos das mecânicas mais específicas, chama a atenção como elas brincam com a capacidade de percepção da menina. Ela pode usar a lanterna para iluminar o caminho e encontrar itens, como moedas para salvar o jogo em oferendas aos deuses e pedras para distrair os inimigos ou outras finalidades específicas.
A moça também possui a capacidade de fechar os olhos, como anteriormente mencionado, o que a deixa lenta, mas atenta aos sons, destacando a sua importância para a experiência. Ao tentar ser furtiva, a menina também acaba perdendo um pouco da visão da câmera, o que também reforça a importância do jogador prestar atenção aos outros sinais, principalmente sonoros.
Por fim, a possibilidade de correr depende de uma barra de energia que é mostrada na parte inferior da tela. Quando seu coração está batendo mais rápido por conta de monstros muito próximos, a protagonista consome ainda mais rapidamente a barra, se cansando com facilidade e reforçando a sensação de desespero do jogador.
Um esforço exemplar de sobrevivência
Yomawari: Lost in the Dark consegue mostrar que gráficos fofos não são um empecilho para fazer um jogo de terror de alta qualidade. Com uma excelente direção, especialmente no aspecto sonoro, o título faz um trabalho primoroso em deixar o jogador imerso no contexto de sua protagonista frágil diante das criaturas da noite.
Prós
- Atmosfera sombria bem construída especialmente em torno de efeitos sonoros;
- A fragilidade da protagonista ajuda na sensação de medo e impotência;
- As mecânicas que reduzem a visão do jogador reforçam a necessidade de se guiar pelos sons;
- A variedade de possibilidades da gameplay é explorada nas múltiplas áreas do mapa;
- Chefes que valorizam o aprendizado do jogador.
Contras
- Algumas estruturas repetitivas acabam desgastando o valor dos sustos com o tempo.
Yomawari: Lost in the Dark — PC/PS4/Switch — Nota: 9.5
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela NIS America