Mercenários e uma ilha em conflito
A ilha de DioField é uma área rica em Jade, um mineral importante para o uso de magia. Quando uma grande guerra se inicia entre o Império Trovelt-Schoeviano e a Aliança Rowetale, ambas as forças militares continentais acabam se interessando pela região insular. A ideia é que o poderio militar delas depende de magia, fazendo com que DioField seja um território muito estratégico.
Diante desse contexto, o reino de Alletain, detentor das terras de DioField, se vê diante de uma grave crise. O Império ataca a ilha com bastante ferocidade e parece querer os recursos a qualquer custo, já a Aliança tenta firmar parcerias, mas o seu único interesse real é em ter essa fonte milagrosa de Jade. Além disso, Alletain está em um momento bastante fragilizado internamente graças a disputas de sucessão e rivalidades entre nobres.
Porém, no meio disso tudo, um grupo de mercenários terá um papel fundamental nos eventos históricos do país. Tudo começa quando três amigos (Andrias, Fredret e Izelair) são convidados a fazer parte da milícia do Duke Hende sob o comando direto de Yulzim Yorden. Com autonomia para tomar suas próprias decisões, o grupo firma várias alianças ao longo do tempo e em um dado momento assume o nome Blue Foxes.
Dentro de um esforço de representação séria do contexto de guerra, o que chama a atenção é como são representadas as nuances morais e políticas das ações dos Blue Foxes. Andrias, a figura central do grupo e protagonista da história, é um rapaz calculista, capaz de fazer qualquer coisa para os seus objetivos. Ao longo da história, vemos como isso impacta os Blue Foxes, que vão ampliando os seus aliados para figuras bem heterogêneas.
De forma geral, a narrativa reforça bastante esse ponto, mostrando as relações de poder e a fragilidade das alianças. O clima sério de guerra é reforçado pelas ilustrações, que refletem cenas do passado com traços de sépia, e o design de personagens de Taiki, que equilibra um design oriental de anime com marcas de expressão e austeridade. A trilha sonora composta por Ramin Djawadi e Brandon Campbell, ambos conhecidos por seu trabalho em Game of Thrones, também reforça essa atmosfera, com tons constantemente sóbrios e graves.
Infelizmente, nem todas as reviravoltas são bem desenvolvidas, dando a sensação de que alguns eventos são um pouco abruptos e poderiam ter sido melhor apresentados. Outro problema menor, mas que pode ser um inconveniente em se tratando de um título tão focado em história, é a ausência de um log para registrar o que foi lido recentemente. Ainda é possível rever eventos e termos importantes na biblioteca, mas seria uma ferramenta até mais útil do que a opção de passar automaticamente para a próxima caixa de texto.
O dinamismo do tempo real
Em termos do gameplay, The Diofield Chronicle segue uma estrutura simples. Enquanto está na base, Andrias pode conversar com vários personagens, aceitando quests opcionais, dando dinheiro para melhorar as estruturas físicas ou comprando suprimentos. Quando quiser avançar a história, basta interagir com o ponto marcado com uma bandeira amarela para desbloquear a próxima missão principal.
Toda missão possui uma série de objetivos, fazendo com que, além de terminar a fase, o jogador seja recompensado por manter todos os personagens vivos e eliminar todos os inimigos rapidamente. Algumas missões também contam com baús com um cristal de Jade, um material útil para upgrade. Sendo bem honesto, concluir essas tarefas costuma ser fácil, bastando prestar atenção à sua estratégia, e mesmo se o jogador falhar em uma delas, é possível tentar novamente a qualquer momento.
Um elemento que chama a atenção é que o formato de estratégia do combate segue o estilo de tempo real, que é bem menos comum do que o baseado em turno para SRPGs. Cabe ao jogador guiar os seus personagens (no máximo quatro) pelas áreas para cumprir basicamente dois tipos de missão: matar todos os inimigos ou fazer a mesma coisa enquanto tenta tomar o controle de bases. Há outros elementos no mapa, como barris explosivos, canhões aliados e inimigos ou barricadas, mas eles acabam tendo um impacto pequeno que não é suficiente para aliviar a repetitividade do combate.
Apesar desse problema, guiar os personagens e aprender a dominar suas habilidades é bastante divertido. São ao todo quatro possibilidades de unidade: infantarias, cavalarias, arqueiros e magos. Porém, o estilo individual pode ser diferente dependendo da arma utilizada, já que esse equipamento determina os golpes disponíveis. Outros elementos customizáveis incluem dois acessórios que aumentam atributos e uma árvore de habilidades para cada aliado em que detalhes mais específicos podem ser aprimorados.
Uma vez em campo, é fundamental dominar o posicionamento em batalha, controlando todo o fluxo do combate com comandos simples e precisos. O primeiro detalhe a se prestar atenção é o campo de visão dos inimigos. Assim como em jogos de stealth, é possível utilizar esse elemento a seu favor para garantir a vantagem de pegá-los de surpresa com as técnicas. Uma vez alertados para a presença do jogador, eles partirão com tudo para cima da unidade mais próxima e visível, mas é possível usar técnicas para desviar a sua atenção.
Ao atingir o inimigo por trás, os personagens causam mais dano, ativando o que é chamado de Ambush. Essa é uma das formas de agilizar o processo e uma estratégia fundamental. Além disso, é possível ver a área de efeito de ataques especiais que o inimigo carrega em tempo real (ao contrário dos golpes e movimentação do jogador, que sempre pausam o contador). Nesses momentos, basta desviar durante o tempo de carga para evitar o ataque, mas alguns golpes especiais também podem ser úteis, deixando o inimigo estonteado e incapaz de continuar.
Além de todos esses elementos, o jogador ainda pode usar os Magilumic Orbs para invocar criaturas como Bahamut, Goldhorn, Fenrir ou Coeurl. Eles podem ser fortalecidos com Jade, aumentando os seus efeitos (ataques de alto impacto com exceção dos poderes curativos de Goldhorn). Para poder ativá-los, é necessário coletar energia pelo mapa via exploração ou derrota de inimigos, sendo possível também encontrar orbes que curam ou restauram EP (necessário para usar os golpes dos personagens).
Em termos dos ambientes, vale destacar que as áreas são belos dioramas bastante detalhados. A entrada nas áreas, em particular, ressalta os efeitos especiais desses locais que são bastante charmosos. Ao longo do tempo, é possível sentir um pouco de repetição, mas é um estilo que seria bem interessante ver novamente em algum futuro RPG da Square Enix.
Um SRPG sólido
The DioField Chronicle é um RPG estratégico sólido que consegue ressaltar as nuances da guerra em uma ilha cobiçada pelas ambições de vários indivíduos. Apesar de um pouco repetitivo em design de combate e de algumas reviravoltas um pouco corridas, trata-se de um exemplo de alta qualidade do gênero e que vale bastante a pena experimentar.
Prós
- Clima sério de guerra, trabalhando as nuances morais e políticas do contexto;
- Formato dinâmico de estratégia com batalha em tempo real e habilidades que permitem mudar o rumo do combate;
- Artes conceituais e trilha sonora reforçam a gravidade constante da narrativa;
- Belo estilo de diorama para as áreas.
Contras
- O esquema de missões acaba sendo muito repetitivo;
- A história acaba deixando a desejar no desenvolvimento de algumas reviravoltas;
- Ausência de log.
The DioField Chronicle — PC/PS4/PS5/XBO/XSX/Switch — Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Thais Santos
Análise produzida com cópia digital cedida pela Square Enix