Análise: Resident Evil Village (Multi) – Expansão de Winters não agrega tanto mas ainda entretém

Este DLC não traz nada de avassalador, mas tem seus méritos por nos fazer voltar a Village novamente.

em 31/10/2022

Lançado em maio de 2021, Resident Evil Village conseguiu dar uma boa renovada na longeva franquia da Capcom, expandindo ainda mais o universo de terror e ação da empresa. Praticamente um ano e meio depois, o game recebe seu primeiro DLC de expansão trazendo conteúdos novos tanto para a história principal quanto para o modo extra de jogo, Os Mercenários.

A Expansão de Winters, inclusa com a Gold Edition do game e também disponível para compra a parte, conta com três destaques que serão discutidos separadamente na análise a seguir, trazendo pontos que tornam a compra deste conteúdo atrativa para uma boa parte dos jogadores, e dispensável para uma outra parcela, que acredito ser a minoria neste caso. Vamos conferir os detalhes.

Rosemary Winters e as sombras do passado

O conteúdo de maior destaque na expansão é o modo de jogo Sombras de Rose. Nele assumimos o papel de Rosemary Winters, a filha de Ethan, o herói do jogo principal. A jovem está com 16 anos e vive um dilema: desenvolveu uma mutação por conta dos acontecimentos que ocorreram quando ainda era um bebê, na saga desesperada do pai para salvá-la em Resident Evil Village. Ela não é aparente, mas causa a manifestação de estranhos poderes ligados ao Megamiceto, e isso incomoda a adolescente que, como qualquer garota da sua idade, só quer uma vida normal.


A convite de um amigo da B.S.A.A., que monitora a garota desde o incidente no vilarejo, ela descobre uma possível forma de se livrar do que ela chama de maldição de uma vez por todas, por meio de uma conexão mental com o Megamiceto. Disposta a qualquer coisa para se livrar dos poderes, Rose topa se arriscar nesta estranha experiência para ter a vida normal que tanto deseja.

A garota então se vê em uma localidade bem conhecida por nós: o Castelo Dimitrescu. Lá ela terá a ajuda de uma misteriosa entidade que conversa com ela por meio de escritas luminosas nas paredes, e passará por grandes apuros na busca por um cristal que dizem ser a ferramenta necessária para anular os efeitos da mutação da menina, mas obtê-lo a obrigará a enfrentar novos mofados e resolver enigmas para obter o objeto.


Sombras de Rose é, de certo modo, uma espécie de déjà vu do que o pai enfrentou no passado, mas com proporções menores. Se você conhece o castelo e as demais localidades da região da vila de cor, vai "se sentir em casa" durante as andanças pelos cenários enfrentando monstros, resolvendo puzzles e tomando alguns sustos. A garota faz uso de armamentos, não tantos quanto seu pai, e ainda pode usar suas habilidades especiais no combate e resolução de enigmas.

Os poderes de Rose a fazem manifestar uma espécie de aura que neutraliza os mofados e destrói núcleos de uma espécie de lodo que está espalhado por vários locais durante a campanha. Por ter uma ação limitada, a menina precisa fazer uso de ramos de sálvia para recarregar a habilidade, ou seja, assim como a munição, o uso dessas habilidades também deve ser gerenciado para que o uso dele contra os inimigos seja feito apenas nos momentos de real necessidade.


Podendo ser finalizado em três horas, em média, a mini campanha se mostra interessante por adicionar um capítulo extra na trama de Village, mas com um roteiro que ainda fica muito a desejar se comparado à história original. A jogabilidade com Rose é mais lenta, sem falar que a história se mostra muito confusa no início e demora para engrenar de verdade. Apesar disso, ainda consegue entregar um resultado bacana no fim de mais um capítulo de horror na família Winters.

Sob uma nova perspectiva

A Expansão de Winters traz como outra novidade a câmera em terceira pessoa para o jogo principal. A opção sobre que tipo de câmera o jogador quer usar precisa ser selecionada no menu de opções antes de iniciar o jogo e não pode ser alterada durante a jogatina, exigindo que se retorne para o menu inicial de Village caso queira alterar novamente essa característica.

A opção de jogar sob esse novo ponto de vista se mostra legal por trazer uma uniformidade com os demais jogos da franquia, como os recentes Resident Evil 2, Resident Evil 3, e por que não citar, o vindouro remake de Resident Evil 4 que chega no ano quem. Jogar dessa forma traz um interessante ar de novidade em relação ao gameplay pois, ao meu ver, ele dá uma amenizada em um dos pontos negativos que destaquei na análise que fiz do game no ano passado, referente ao combate em primeira pessoa ainda não ser tão bom.


Jogando em terceira pessoa, da mesma maneira que os demais jogos da série, a sensação que tive foi de jogar melhor, principalmente em momentos mais intensos, como nas batalhas contra os chefes e na resolução de alguns puzzles para avançar em determinadas etapas do jogo. Apesar de deixar a jogabilidade mais interessante, um novo contra surgiu, que foi a constante mudança de perspectiva durante as cutscenes.

Por conta da proposta mais intimista de Village, em que a visão em primeira pessoa originalmente projetada para o jogo é uma parte importante da experiência do jogador, acredito que essa decisão de manter esses momentos ainda sendo apresentados sob o ponto de vista de Ethan precisaram se manter intocados por uma decisão criativa.


De qualquer modo, jogar em primeira pessoa foi bem divertido, mesmo já tendo passado pelos apuros do game com Ethan mais de uma vez desde a época do lançamento. Nada como visitar o vilarejo mais uma vez para ver tudo de um jeito diferente, não é mesmo?

Precisa-se de Mercenários

Os Mercenários é um modo de jogo extra que fica habilitado após a conclusão da campanha de Resident Evil Village pela primeira vez. Neste modo, uma herança do ótimo modo Mercenários de Resident Evil 4 (2005), deixamos de lado a história para mergulhar de cabeça em uma ação desenfreada em busca de grandes pontuações e desbloqueio de diversos prêmios no renovado Os Mercenários: Ordens Adicionais


O modo é uma ótima pedida após passar por perrengues na história principal e rende mais algumas boas horas de jogatina. A Expansão de Winters traz uma nova pegada para o modo com a adição de dois novos mapas e de três novos personagens: Chris Redfield, Alcina Dimitrescu e Karl Heisenberg. A jogabilidade nesse modo continua restrita apenas ao modo em primeira pessoa e os dois vilões precisam ser desbloqueados, seguindo as instruções da lista de recompensas.

A jogatina fica mais intensa com a necessidade de obter bons rankings nas fases iniciais para desbloquear cada um deles e com o estilo único de combate de cada um. Chris, por ser um militar, ainda faz uso de armas, mas conta com técnicas de combate corpo a corpo para ajudar a eliminar os inimigos.


Alcina Dimitrescu tem como ataque principal suas lâminas nos dedos e a capacidade de invocar suas filhas para eliminar os inimigos. Um detalhe a mais sobre a jogabilidade com a madame é o fato dela ter uma estatura bem avantajada, obrigando o jogador a se agachar ao passar por alguns lugares, como os corredores nos cenários do castelo.

Já Karl Heisenberg, assim como Alcina, também tem uma jogabilidade que exige uma abordagem mais “próxima” dos inimigos. Sua arma principal é seu massivo martelo de sucata, e graças a suas habilidades eletromagnéticas, o vilão possui um alto poder destrutivo, com direito a invocar os temíveis Soldats para causar um grande dano em área no cenário.

A adição dos três personagens também contribui para amenizar outro aspecto negativo pontuado na análise que fiz no ano passado, sobre a ausência de mais personagens para deixar o modo mais engajador e interessante. Se a jogatina no modo Mercenários já rendia mais algumas boas horas de jogatina, agora esse tempo pode ser multiplicado por três. Temos “desculpas” de sobra para gastar um bom tempo atrás das melhores pontuações para obter mais e mais recompensas.

Ranking de interesse

Em um ranking de relevância, eu colocaria o modo Os Mercenários: Ordens Adicionais na primeira posição, seguido pelo modo em terceira pessoa e Sombras de Rose na terceira posição. A aventura de Rose, para mim, foi o conteúdo menos interessante por trazer uma história que, apesar de ter render boas doses de adrenalina, não tem o mesmo impacto e relevância que eu esperava com base no que vivenciei na pele de Ethan.

O modo em terceira pessoa é uma boa desculpa para jogar Village mais uma vez. Porém, o fato da câmera ser colocada em perspectiva de primeira pessoa durante as cutscenes, apesar de justificável, quebra constantemente a “magia” de se aventurar pelo game novamente na expectativa de ver as coisas por outro ângulo. Felizmente, a jogabilidade nesse modo ficou melhor.


Os Mercenários: Ordens Adicionais foi o conteúdo que, pra mim, valeu o DLC. Foram boas horas experimentando novas dinâmicas para alcançar altas pontuações e ainda renderá mais algumas para eu tentar desbloquear mais recompensas. Uma pena que a câmera em terceira pessoa não pode ser usada aqui, pois o deixaria com uma dinâmica que remeteria ao saudoso modo homônimo de RE4. Se os três destaques do DLC estivessem sendo vendidos separadamente, este seria o que eu compraria.

Não tão essencial, mas não menos interessante

A Expansão de Winters trouxe uma adição de conteúdo interessante para Resident Evil Village. A expansão da história é modesta, com poucas novidades realmente interessantes por conta da tentativa de fazer Rose replicar a jornada do pai nos mesmos cenários do jogo principal. O modo em terceira pessoa dá uma nova abordagem ao gameplay, mas por decisões criativas opta por manter a perspectiva em primeira pessoa nos segmentos de história. O modo Mercenários: Ordens Adicionais foi quem saiu ganhando com um conteúdo que rende boas horas de jogatina.

Prós

  • Sombras de Rose conta com momentos para aquecer e gelar o coração;
  • A câmera em terceira pessoa cria uma dinâmica de gameplay mais alinhada com os demais jogos da série;
  • Os novos personagens de Os Mercenários: Ordens Adicionais agregam muito valor e valorizam o modo;
  • A qualidade da dublagem em português continua excelente.

Contras

  • Sombras de Rose é curto, tem roteiro que demora a engrenar e “emula” a história principal;
  • As cutscenes ainda são apresentadas em primeira pessoa no jogo principal;
  • Não é possível jogar Os Mercenários: Ordens Adicionais em terceira pessoa;
  • Os conteúdos da expansão poderiam ser vendidos separadamente.
Resident Evil Village – Expansão de Winters — PC/PS5/PS4/XBO/XSX/Switch — Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: PlayStation 5
Revisão: Camila Cerineu
Análise feita com cópia digital cedida pela Capcom

Fã de Castlevania, Tetris e jogos de tabuleiro. Entusiasta da era 16-bit e joga PlayStation 2 até hoje. Jogador casual de muitos e hardcore em poucos. Nas redes sociais é conhecido como @XelaoHerege
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